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Capítulo 55

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Tinha uma jovem criada que disse: “Por que,

Não posso olharmeu ouvido com os meus olhos?

Se eu focar minha mente nisso,

Tenho certeza que posso fazê-lo,

Você nunca pode dizer que não pode, até tentar.” 

—Anônimo

––––––––

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Georgina encontrou o velho relógio na manhã seguinte. Estava em uma sala do outro lado da casa. Ela estava parada olhando para ele quando Calum entrou.

"É um dos relógios da sua família."

"Sim, eu sei."

"Você tem algum dos relógios?"

Ela balançou a cabeça. "Eles foram todos leiloados com a casa."

Calum atravessou a sala, pegou o relógio da lareira e entregou a ela. "É seu."

"Não."

"Nós não precisamos dele," ele falou. "E eu acho que você precisa."

Ela olhou para o relógio enquanto ele o colocava em suas mãos e sentiu que pudesse fazer algo realmente idiota como chorar.

"Vá em frente," disse Calum. "Pegue-o."

"Obrigada." Ela começou a sair da sala, então hesitou perto da porta.

Ele estava olhando para ela como se esperasse isso. Antes que ela pudesse fazer a pergunta, ele respondeu: "Eu tenho certeza."

Ela sorriu e saiu carregando o relógio para o seu pequeno quarto. Ela entrou e foi direto para uma pequena cômoda de pinho.

Nela estava tudo o que ela possuía no mundo. Ela colocou o relógio em cima da cômoda, inclinou-o um pouco e abriu a pequena porta de nogueira na parte da frente. Com o movimento de um dedo ela colocou o pêndulo em movimento. Ela começou a fechar a porta, mas viu a assinaturaBayard no interior.

Ela passou o dedo pela assinatura, depois respirou fundo e fechou a pequena porta. Ela se afastou e olhou para o relógio.Ele marcava, tocava e mantinha a hora sempre correta.

Ela ficou por um longo tempo, pensando no passado, um tempo em que ela tinha muitos relógios Bayard em suas mãos. Ela se lembrou de sua vida, da sua infância e de como sua família tinha vivido.

Parte dela se perguntou qual o tipo de vida que seu ancestral que criou esta peça teve. Ele e sua esposa tinham uma casa cheia de amor? Eles se importavam com seus filhos? Eles amavam suas filhas tanto quanto amavam seus filhos?

Por um longo tempo, durante anos, bem no fundo, ela achava que era por culpa dela que seus pais não a amavam. Ela pensava que algo faltava nela.

Mas ontem à noite, quando ela se sentou naquele armário com Kirsty e a abraçou enquanto as duas falavam apenas de coisas alegres, ela havia aprendido algo importante sobre si mesma.

Ela não era uma pessoa difícil de amar.Masseus pais eram incapazes de dar seu amor a ela.

Na noite anterior ela se sentou dentro de um armário escuro dando seu coração para uma criança que não era parte dela. Kirsty não era sua própria carne e sangue. Mas laços de sangue não impediam Georgina de sentir algo por Kirsty. Ela sentia. Ela sentiu que Kirsty precisava dela naquele momento, tanto quanto a menina precisava de seu pai.

Havia uma liberdade em saber isso. Era como se ela estivesse finalmente livre para ser o que ela queria ser. Ela percebeu que, não importava o que ela fizesse, seus pais nunca a teriam amado. Quem era ela era não importava, não importava se ela se tornasse uma Cabot ou uma Lowell ou nada, não mudaria o fato de que eram seus pais que tinham o problema.

Seja o que fosse o que Georgina escolhesse ser — talvez apenas uma babá de duas crianças solitárias em uma ilha isolada — essa escolha não mudaria seu valor como pessoa. Isso não a tornaria mais aceita.

Ela não precisava ser uma Bayard. Ela não precisava ser uma mulher rica com o nome certo. Ela não precisava morar em uma mansão para ser alguém.

Ser alguém talvez não fosse nada mais do que se sentar em um armário escuro com uma menininha toda vez que houvesse uma tempestade selvagem.

Georgina sentiu uma repentina sensação de liberdade, como se tivesse acabado de descobrir o segredo da felicidade, algo que estivera oculto dela há muito tempo

Ela sorriu, se virou, depois parou.

Pendurado na parte de trás da porta de seu quarto tinha um vestido de seda verde brilhante, o que tinha pertencido à mãe de Kirsty.

Georgina foi até o vestido e tocou-o. Não era um Worth. Não era de Paris e não era particularmente espetacular. Mas aquele vestido significava mais para ela do que todas as roupas e todos os pertences que ela tinha perdido. Ela fechou os olhos e ficou ali por um momento. Ela mordeu o lábio e respirou fundo. Mas isso não adiantou nada. As lágrimas vieram assim mesmo.