CRONOLOGIA

1878 | O tipógrafo João Henriques de Lima Barreto e a professora Amália Augusta Pereira de Carvalho se casam na Capela Imperial, na rua Primeiro de Março, centro do Rio de Janeiro. João Henriques é filho de uma escrava e de um madeireiro português. A mãe de Amália Augusta é uma escravizada alforriada. Seu pai não declarado é Manuel Feliciano Pereira de Carvalho, médico ilustre na corte, em cuja família foi adotada. O jovem casal Lima Barreto vai residir nas Laranjeiras, numa casa alugada na rua Ipiranga, 18. Na própria residência, Amália Augusta abre uma escola primária para meninas, o Colégio Santa Rosa. Egresso do Jornal do Commercio, João Henriques trabalha em A Reforma, cujo proprietário é o deputado geral Afonso Celso de Assis Figueiredo, seu amigo e padrinho de casamento.

1879 | Num parto complicado, nasce Nicomedes, primeiro filho do casal. A criança sobrevive oito dias. Amália Augusta sofre uma paralisia nas pernas e é obrigada a usar muletas pelo resto da vida.

1881 | 13 de maio: Nascimento de Afonso Henriques de Lima Barreto. 13 de outubro: É batizado na matriz de Nossa Senhora da Glória, tendo como padrinho o senador Afonso Celso.

1882 | Nascimento de Evangelina, irmã do escritor. Amália Augusta começa a manifestar sintomas de tuberculose. Com a saúde delicada, a professora fecha o Colégio Santa Rosa. Nos anos seguintes, em busca de melhores condições de salubridade, a família se muda para o Flamengo, Santa Luzia, Boca do Mato, Catumbi e Paula Matos.

1884 | Nascimento de Carlindo, irmão do escritor.

1885 | João Henriques começa a trabalhar nas oficinas da Imprensa Nacional, sediada na rua da Guarda Velha (atual avenida Treze de Maio).

1886 | Nascimento de Eliézer, irmão do escritor.

1887 | Aprende as primeiras letras com a mãe. 23 de dezembro: Falece Amália Augusta, vitimada pela tuberculose. Depois da morte da mulher, João Henriques se muda com os filhos para a rua do Riachuelo, esquina com a do Rezende, no centro da cidade.

1888 | março: Começa a frequentar a escola pública municipal da rua do Rezende. O futuro escritor estabelece laços de afeição com sua professora, d. Teresa Pimentel do Amaral, de quem guardará recordações por toda a vida. 13 de maio: No dia em que completa sete anos, assiste em companhia do pai aos festejos da abolição da escravatura. Vê a princesa Isabel no balcão do Paço Imperial e na porta do Paço da Cidade. Dias depois, comparece com João Henriques à missa em ação de graças celebrada no campo de São Cristóvão. 13 de junho: Afonso Celso recebe do imperador o título de visconde de Ouro Preto. agosto: João Henriques publica pela Imprensa Nacional uma tradução do Manual do aprendiz compositor, do francês Jules Claye, destinada à instrução dos funcionários do órgão. dezembro: João Henriques começa a trabalhar à noite como paginador da Tribuna Liberal, ligada a Afonso Celso e ao Partido Liberal.

1889 | agosto: Já no posto de chefe de turma, João Henriques é promovido a mestre das oficinas de composição da Imprensa Nacional. 15 de novembro: Proclamação da República. Presidente do último gabinete do Império, Ouro Preto é preso e em seguida exilado. Crítico do caráter elitista e autoritário do novo regime, Lima Barreto escreverá sobre suas recordações da data: “Da tal história da proclamação da República só me lembro que as patrulhas andavam nas ruas armadas de carabinas e meu pai foi, alguns dias depois, demitido do lugar que tinha. E é só” (“São Paulo e os estrangeiros”, 1917).

1890 | 11 de fevereiro: Por suas ligações com Ouro Preto e outras figuras da monarquia, João Henriques cai em desgraça e se demite da Imprensa Nacional. MARÇO: Mesmo no exílio, Ouro Preto socorre João Henriques, conseguindo-lhe um emprego de escriturário nas Colônias de Alienados da Ilha do Governador. A família Lima Barreto — já acrescida de Prisciliana, companheira de João Henriques, e seus filhos — se muda para um sítio na ponta do Galeão, na ilha do Governador. Convertido em instalação da Aeronáutica, o prédio sobreviverá até o século XXI. Todos os Lima Barreto contraem malária nos primeiros meses na ilha. novembro: No final do ano letivo, d. Teresa Amaral presenteia o futuro escritor com um exemplar de As grandes invenções antigas e modernas nas ciências, indústria e arte, de Louis Figuier, como prêmio por seu bom desempenho escolar. Primeiro volume de sua biblioteca pessoal, a Limana, o livro será conservado pelo escritor até o fim da vida, e hoje pertence ao acervo da Biblioteca Nacional. 29 de novembro: O jornal Tribuna (sucessor da Tribuna Liberal) é invadido e empastelado por militares antimonarquistas.

1891 | março: É matriculado como aluno interno no Liceu Popular Niteroiense, escola dirigida pelo ex-cônsul britânico William Cunditt. Seu padrinho, o visconde de Ouro Preto, lhe custeia o material didático. Afeiçoa-se à professora Miss Annie Cunditt, filha do diretor: “Foi minha professora de inglês e, muito boa, guardando eu dela recordações perfeitamente filiais” (Feiras e mafuás). 20 de março: João Henriques é promovido a almoxarife das Colônias de Alienados, cargo que acumula com os de escriturário e agente dos correios da ponta do Galeão.

1892 | fevereiro: João Henriques é exonerado do cargo de agente dos correios.

1893 | 28 de novembro: Em carta ao pai, Lima Barreto descreve os combates da Revolta da Armada em Niterói. Fica mais de um mês sem poder visitar a família na ilha do Governador, que é ocupada pelos revoltosos. Desse período datam as lembranças aproveitadas em “O Estrela” (1921). 30 de dezembro: João Henriques chega ao posto de administrador das Colônias de Alienados.

1895 | agosto: Visita do presidente da República, Prudente de Morais, às Colônias de Alienados da Ilha do Governador. João Henriques ciceroneia a comitiva palaciana. Completa o curso secundário e parte do suplementar no Liceu Popular Niteroiense. Aprovado com “simplesmente” nos exames preparatórios de português (janeiro) e francês do Ginásio Nacional (antigo Colégio Pedro II).

1896 | janeiro: Aprovado com “simplesmente” nos preparatórios de aritmética e história geral e do Brasil. MARÇO: Matriculado no internato do Colégio Paula Freitas (rua Haddock Lobo), preparatório da Escola Politécnica. Nesse colégio, conhece José Oiticica, futuro líder anarquista.

1897 | janeiro a abril: Aprovado com “simplesmente” nos demais exames do Ginásio Nacional: desenho geométrico elementar, inglês, álgebra, geometria, trigonometria retilínea, álgebra superior, física, química e história natural. 10 de abril: Matricula-se no primeiro ano geral da Politécnica, com a intenção de cursar engenharia civil. As aulas são ministradas na sede da faculdade, no largo São Francisco de Paula, e no Observatório do Rio de Janeiro, no morro do Castelo. Passa a residir em pensões no centro da cidade. novembro: Reprovado em todas as cadeiras do primeiro ano, exceto física. Começa a frequentar a Biblioteca Nacional, então sediada na rua do Passeio. Nos anos seguintes, torna-se leitor assíduo da instituição. Frequenta os cafés do centro na companhia de amigos da faculdade, como Antônio Noronha Santos, Manuel Bastos Tigre, Otávio Carneiro, Manuel Ribeiro de Almeida e João Luís Ferreira, além de José Oiticica e seu colega de quarto, Nicolao Ciancio. É o autointitulado “pessoal do contra”.

1898 | abril: Matricula-se nas cadeiras pendentes do primeiro ano de engenharia. novembro: É reprovado mais uma vez em cálculo e geometria descritiva. Frequenta o Apostolado Positivista. Pouco depois renega esse credo filosófico, muito influente entre estudantes e professores da Politécnica.

1899 | fevereiro: Nos exames de segunda época, é aprovado em geometria descritiva e novamente reprovado em cálculo. maio: Matricula-se pela terceira vez no primeiro ano da Politécnica. novembro: Quarta reprovação em cálculo.

1900 | fevereiro: Reprovação em cálculo no exame de segunda época. Viaja para Barbacena (mg) com colegas da Politécnica para prática da cadeira de topografia. É a primeira viagem conhecida de Lima Barreto fora do Rio, excetuadas as travessias da baía de Guanabara. O escritor sairá raras vezes da cidade natal. 2 de julho: Primeira anotação no Diário íntimo: um esboço do primeiro capítulo de uma ficção à clef baseada no cotidiano da Politécnica. Última frase do texto, premonitória: “A vida é uma escalada de Titã”. 1o de novembro: Primeira publicação conhecida de Lima Barreto: o soneto “Assim…”, no jornal O Suburbano, editado na ilha do Governador. novembro: Finalmente é aprovado em cálculo. Passa também nas matérias do segundo ano, exceto mecânica racional. 1o de dezembro: Publica a crônica “Francisco Braga — Concertos sinfônicos” em A Lanterna, “órgão oficioso da mocidade de nossas escolas superiores”. É a estreia de Lima Barreto no jornalismo. Adota o pseudônimo Alfa Z. Em colaborações posteriores, assina-se Momento de Inércia, em alusão irônica ao jargão da mecânica. dezembro: Ingressa na Federação de Estudantes Brasileiros, entidade recém-criada por acadêmicos das faculdades do Rio de Janeiro. Provavelmente frequenta um curso livre de literatura brasileira ministrado por José Veríssimo na Politécnica.

1901 | fevereiro: Reprovação em mecânica racional no exame de segunda época. abril: Matricula-se outra vez no segundo ano. Aprovado em topografia. Frequenta aulas do terceiro ano como ouvinte.

1902 | março: Mais uma reprovação em mecânica. agosto: João Henriques enlouquece, obcecado pela contabilidade das Colônias de Alienados e por um desfalque que lhe foi injustamente atribuído. O pai de Lima Barreto recebe o diagnóstico de “neurastenia”, então um termo genérico para diversos transtornos mentais. A família se muda para o Engenho Novo, rua Vinte e Quatro de Maio, 123. 20 de setembro: Admite num texto publicado em A Lanterna ser um estudante “crônico”. outubro: João Henriques recebe licença de três meses do cargo de administrador das Colônias de Alienados para tratamento de saúde. novembro: Reprovado no exame de mecânica. Com o amigo e colega de faculdade Bastos Tigre, edita A Quinzena Alegre, folheto satírico de curta duração. Eleito para a diretoria da Federação de Estudantes. Abandona o cargo meses depois, por discordar do apoio da entidade ao serviço militar obrigatório.

1903 | março: Publicado o decreto de aposentadoria de João Henriques, com vencimentos de 140 mil-réis. Quinta reprovação em mecânica racional. Matricula-se novamente no segundo ano e frequenta cadeiras do terceiro como ouvinte. 20 de abril: Última colaboração para A Lanterna. 12 de junho: Registra no Diário íntimo estar comendo pouco por causa de dificuldades financeiras. 18 de junho: Inscreve-se no concurso para uma vaga de amanuense da Diretoria de Expediente da Secretaria da Guerra. Ao longo de oito dias, faz provas de português, francês, inglês, aritmética, álgebra, geometria, geografia, história, direito, redação oficial e caligrafia. julho: Colabora com duas crônicas no jornal satírico O Tagarela, nas quais adota o pseudônimo Rui de Pina. 9 de julho: Publicado o resultado do concurso: classifica-se em segundo lugar, com nota geral 6,35 — dois décimos atrás do primeiro colocado. A nota 3 em caligrafia provoca o malogro. “Com certeza, o bom-bocado não é para quem o faz e sim para quem o come” (Diário íntimo). 12 de agosto: Começa a circular O Diabo, revista humorística dirigida por Bastos Tigre, na qual colabora. Publica uma crônica assinada por Rui de Pina e outra por Diabo Coxo. O semanário dura apenas quatro números. 27 de outubro: Com a abertura de nova vaga, é nomeado amanuense (terceiro oficial) da Secretaria da Guerra, sediada no quartel-general da praça da República, ao lado da Estação Central. Toma posse do cargo no dia seguinte. novembro: Abandona a Politécnica. Para complementar a renda, começa a dar aulas particulares. Seu expediente funcional vai das dez às quinze horas. Ao longo dos anos, escreverá diversas ficções e crônicas no papel timbrado da secretaria. O salário de 200 mil-réis, somado à aposentadoria do pai, lhe permite alugar por 120 mil-réis uma casa no subúrbio de Todos os Santos, na rua Boa Vista, 76. A residência dos Lima Barreto passa a ser conhecida na vizinhança como “a casa do louco”. O escritor viaja diariamente nos vagões de segunda classe da Central do Brasil, ambiente que lhe proporciona observações para a sua obra. Planeja escrever um curso de filosofia com base na “Grande Encyclopédie française du siècle XIXème, outros dicionários e livros fáceis de se obter” (Diário íntimo). Esboça uma peça teatral intitulada Os negros. Provável início dos problemas com a bebida. Em nota datada desse período, registra a necessidade de “não beber em excesso coisa alguma”. No fim do ano, atua como secretário de redação da Revista da Epoca, dirigida por Carlos Viana, seu ex-colega de Politécnica.

1904 | janeiro: Negada a renovação da licença médica de João Henriques. março: Deixa a secretaria da Revista da Epoca por se recusar a escrever elogios encomendados a políticos. setembro: Escreve o conto “Um especialista”, publicado em 1915 no volume da primeira edição de Triste fim de Policarpo Quaresma. novembro: Testemunha os tumultos da Revolta da Vacina e a repressão militar. Integra o Esplendor dos Amanuenses, confraria informal de boêmios e colegas de profissão, que se reúne diariamente nos bares e cafés do centro da cidade para discutir “coisas graves e insolúveis”. Primeiros esboços de Clara dos Anjos, no Diário íntimo. Também no Diário, rascunha o argumento de Marco Aurélio e seus irmãos, romance em vinte capítulos inspirado em sua história familiar. Anota o projeto de escrever um livro sobre d. João vi no Brasil. Anotação sem data: “A capacidade mental dos negros é discutida a priori e a dos brancos, a posteriori”.

1905 | 12 de janeiro: Registra mais um projeto literário no Diário íntimo: “Pretendo fazer um romance em que se descrevam a vida e o trabalho dos negros numa fazenda. Será uma espécie de Germinal negro, com mais psicologia especial e maior sopro de epopeia…”. 14 de janeiro: “Perdi a esperança de curar meu pai! Coitado, não lhe afrouxa a mania que, cada vez mais, é uma só, não varia: vai ser preso; a polícia vai matá-lo; se ele sair à rua, trucidam-no. […] Pobre de meu pai!” (Diário íntimo). 17 de janeiro: “Hoje, à noite, recebi um cartão-postal. Há nele um macaco com uma alusão a mim e, embaixo, com falta de sintaxe, há o seguinte: ‘Néscios e burlescos serão aqueles que procuram acercar-se de prerrogativas que não têm. M’. […] Desgosto! Desgosto que me fará grande” (Diário íntimo). 28 de janeiro: Lê a obra Le Bovarysme, de Jules de Gaultier, de vasta influência em suas ideias filosóficas e literárias. “Acho lisonjeiro para mim achar nele vistas que eu já tinha sentido também” (Diário íntimo). 28 de abril: Começa a publicar no Correio da Manhã a série de 26 reportagens “O subterrâneo do morro do Castelo”, sobre a presumida existência de tesouros jesuíticos enterrados no local. A série, não assinada, se estende até 3 de junho. Os jornalistas do Correio serão implacavelmente retratados em Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909) como funcionários do fictício O Globo. 12 de julho: Data do prefácio de Recordações do escrivão Isaías Caminha. Começa a escrever o romance. Dificuldades amorosas e amores platônicos: “Amores… Aborrecimento comigo… Falta de dinheiro… […]. Não há moças bonitas. […] Na rua, nos bondes, nos trens, eu me interesso por certas moças e às vezes por cinco minutos chego a amá-las” (Diário íntimo).

1906 | setembro: Associa-se por carta ao Clube Brasileiro de Esperanto. 8 de outubro: Data do prefácio (“Explicação necessária”) de Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá. Publicado em 1919, o romance será quase todo escrito entre 1906 e 1907. 10 de outubro: Licencia-se até 15 de janeiro de 1907 da Secretaria da Guerra, no primeiro de vários afastamentos para tratamento de saúde. Diagnóstico: “Fraqueza geral”. dezembro: Escreve o conto “O filho da Gabriela”, publicado em 1915 na primeira edição de Triste fim de Policarpo Quaresma.

1907 | abril: Colabora nos primeiros números da revista Fon-Fon, “semanário alegre, político, crítico e esfuziante”. Adota os pseudônimos Phileas Fogg e S. Holmes. JUNHO: Demite-se da Fon-Fon reclamando da má vontade da diretoria em publicar seus textos. 25 de outubro: Aparece o primeiro número de Floreal — Publicação Bimensal de Critica e Literatura, com direção de Lima Barreto. A redação da revista ocupa um cômodo na rua Sete de Setembro, 89, primeiro andar. Impressa pela Typographia Rebello Braga, estreia com 39 páginas, em formato 20 × 15 cm. Em Floreal também escrevem seus amigos Antônio Noronha Santos e Domingos Ribeiro Filho, entre outros. Publica na revista os primeiros capítulos de Isaías Caminha. 12 de novembro: Segundo número de Floreal, com quarenta páginas. A impressão do periódico é transferida para a Typographia Revista dos Tribunaes. 1o de dezembro: Terceiro número de Floreal, com 48 páginas. dezembro: Às vésperas do Natal, visita José Veríssimo para agradecer a boa recepção do crítico a Floreal e Isaías Caminha. Continua celibatário, excetuados os encontros com “mulheres da vida”, como as chamava. “Mulher bonita é que não falta nesta vida; o que falta é a mulher de que a gente goste” (Diário íntimo). 31 de dezembro: Quarto e último número de Floreal, com 56 páginas. Com o fim da revista, interrompe-se a publicação seriada de Isaías Caminha.

1908 | 24 de janeiro: Assiste à partida da esquadra norte-americana de passagem pelo Rio. “Fui a bordo ver a esquadra partir. Multidão. Contato pleno com meninas aristocráticas. Na prancha, ao embarcar, a ninguém pediam convite; mas a mim pediram. Aborreci-me. […] É triste não ser branco” (Diário íntimo). 16 de julho: Registra pensamentos suicidas no Diário. “Hoje, quando essa triste vontade me vem, já não é o sentimento da minha inteligência que me impede de consumar o ato: é o hábito de viver, é a covardia, é a minha natureza débil e esperançada. […] Só o Álcool me dá prazer e me tenta… Oh! meu Deus! Onde irei parar?”. Comenta que Recordações do escrivão Isaías Caminha, com trezentas páginas manuscritas, está quase terminado. “Falta escrever dois ou três capítulos.”

1909 | fevereiro: Noronha Santos viaja para a Europa com os originais de Isaías Caminha e uma carta de recomendação de outro amigo escritor, João Pereira Barreto, destinados ao editor lisboeta A. M. Teixeira. Escreve um memorial ao presidente da República (não enviado), no qual reclama de sua preterição na escala de promoções da Secretaria da Guerra. MARÇO: Noronha escreve a Lima Barreto comunicando o aceite do editor português. O romance será publicado sem remuneração ao autor, que em paga receberá exemplares do livro. junho: Corrige as provas de Isaías Caminha. 22 de setembro: Um protesto de estudantes da Politécnica e outras faculdades no centro do Rio é brutalmente reprimido. Dois estudantes são mortos na Primavera de Sangue, como o episódio se torna conhecido na imprensa. No ano seguinte, Lima Barreto participará como membro do júri do julgamento dos militares acusados pelos homicídios. final de novembro: Recordações do escrivão Isaías Caminha (Lisboa: Livraria Clássica Editora, de A. M. Teixeira & Cia.) começa a ser vendido no Rio de Janeiro. O romance tem 316 páginas e impressão em formato 19 × 12 cm, realizada pela Typographia Magalhães e Figueiredo, do Porto. dezembro: Edita com Noronha Santos um panfleto anônimo contra a candidatura à Presidência da República do marechal Hermes da Fonseca, ex-ministro da Guerra (e, portanto, seu ex-superior hierárquico na secretaria). O opúsculo se intitula O Papão, “semanário dos bastidores da política, das artes e… das candidaturas”. O lançamento de Isaías Caminha quase não é comentado pela imprensa carioca. O Correio da Manhã, que já ignorara a publicação dos primeiros capítulos em Floreal, põe o nome de Lima Barreto na “lista negra”. As escassas críticas sobre o livro o recriminam por ser um romance à clef. O autor escreverá na crônica “Amplius!” em 1916: “A única crítica que me aborrece é o silêncio”.

1910 | 16 de janeiro: Admitido como sócio da Associação dos Funcionários Públicos Civis. 12 de fevereiro: Publica sua primeira crônica na revista Careta, assinada com o pseudônimo shakespeariano Puck. É o início da grande fase de sua produção como cronista e ficcionista nos jornais e revistas do Rio. agosto: Participa da fundação da efêmera Academia Livre de Letras ou Academia dos Novos, patrocinada pelo jornal A Imprensa. setembro: Integra o júri no julgamento do tenente do Exército João Wanderley e outros militares envolvidos na Primavera de Sangue. Vota pela condenação dos réus, o que prejudica ainda mais sua situação na Secretaria da Guerra. “Eu fiz parte do júri de um Wanderley, alferes, e condenei-o. Fui posto no índex” (Diário íntimo). 10 de novembro: Escreve o conto “A nova Califórnia”, incluído na primeira edição de Triste fim de Policarpo Quaresma (1915). 1o de dezembro: Licencia-se para tratamento de saúde, com o diagnóstico de malária. Viaja para Juiz de Fora, onde se hospeda na casa de um tio. dezembro: Primeiros esboços de Triste fim de Policarpo Quaresma, em notas sem data no Diário íntimo.

1911 | janeiro: Começa a escrita efetiva de Triste fim de Policarpo Quaresma, concluída em março. 28 de fevereiro: Fim da licença para tratamento de saúde. março: “A nova Califórnia” aparece na Revista Americana. 20 de abril: Passa a publicar na Gazeta da Tarde, estreando com o conto “O homem que sabia javanês”. 27 de maio: Publica na Gazeta o conto “Ele e suas ideias” e a comédia em ato único Casa de poetas. 3 de junho: A Gazeta publica a primeira versão de “Numa e a ninfa”, na forma de conto. 11 de agosto: Início da publicação do folhetim Triste fim de Policarpo Quaresma na edição vespertina do Jornal do Commercio. 19 de outubro: Termina a publicação seriada de Triste fim. O folhetim é praticamente ignorado pela crítica.

1912 | 1o de fevereiro: Entra em nova licença médica, até 30 de abril, para tratamento de “reumatismo poliarticular” e “hipercinese cardíaca”, sintomas típicos de alcoolismo. 21 de fevereiro: Morte do visconde de Ouro Preto, de quem Lima Barreto se afastara na adolescência. 27 de junho: É posto à venda o folheto picaresco O Chamisco ou O querido das mulheres, pela revista O Riso, com impressão da tipografia A. Reis & C. O texto não é assinado. setembro: Publicação, em dois fascículos, de Aventuras do dr. Bogóloff: Episódios da vida de um pseudorrevolucionário russo, cujo protagonista reaparecerá em Numa e a ninfa. Edição de A. Reis & C., com quinze páginas cada fascículo, no formato 23 × 16 cm. 10 de setembro: O Riso lança o folheto Entra, senhór!…, também não assinado e impresso por A. Reis & C.

1913 | março: Escreve o conto “Um e outro”, publicado na primeira edição de Triste fim de Policarpo Quaresma (1915). O conto também aparecerá na edição de julho-dezembro da revista portuguesa A Águia. abril: Participa da votação promovida pela Fon-Fon para a eleição do Príncipe dos Poetas Brasileiros. Vota em Olavo Bilac, o vencedor, e no início de maio integra a comissão de recepção ao poeta. Novo afastamento de trinta dias por motivos de saúde. 15 de maio: Assume o credo anarquista numa crônica publicada (com pseudônimo) no jornal operário A Voz do Trabalhador. 13 de setembro: Muda-se com a família para outra casa alugada em Todos os Santos. “Mudei-me ontem, 13-9-13, da casa em que vivi quase dez anos, à rua Boa Vista, 76, Todos os Santos. Lá entrei com uma nomeação no bolso e com muito pouco dinheiro. Nesta entrei sem um vintém na algibeira, tendo recebido antes seiscentos mil-réis. Já é progresso. Major Mascarenhas, 42.”

1914 | 14 de janeiro: Eleito para a secretaria da Caixa Beneficente dos Funcionários da Secretaria da Guerra. MARÇO: Escreve o conto “Miss Edith e seu tio”, originalmente publicado na Illustração Brasileira em 16 de abril. O texto também aparecerá na primeira edição de Triste fim de Policarpo Quaresma, no ano seguinte. abril: Atravessa um período depressivo, como registra no Diário: “Tenho sinistros pensamentos. Ponho-me a beber; paro. Voltam eles e também um tédio da minha vida doméstica, do meu viver cotidiano, e bebo. Uma bebedeira puxa outra e lá vem a melancolia. Que círculo vicioso! Despeço-me de um por um dos meus sonhos”. junho: Participa da fundação da Sociedade Brasileira dos Homens de Letras. Recupera os estatutos de uma sociedade homônima fundada em 1883 como modelo para a nova associação, que tem vida curta. 19 de junho: Começa a escrever crônicas diárias para o Correio da Noite. 13 de julho: “Noto que estou mudando de gênio. Hoje tive um pavor burro. Estarei indo para a loucura?” (Diário íntimo). 18 de agosto: Durante uma crise alcoólica, precisa ser contido para não destruir a casa da família, acometido por delírios persecutórios. Acredita que a polícia vai prendê-lo por suas opiniões políticas. Seguindo recomendação médica, os irmãos decidem enviá-lo ao sítio de um tio em Mangaratiba, para repouso e abstinência. Mas o surto se repete e seu irmão Carlindo, guarda-civil, providencia para que seja levado num carro-forte da polícia e internado no Hospital de Alienados, na praia da Saudade (Botafogo). O escritor fica na Seção Pandemônio. Recebe tratamento com ópio. Numa longa entrevista médica, declara ser “alcoolista imoderado, não fazendo questão de qualidade”. 13 de outubro: Alta do hospital. 18 de outubro: Escreve o conto “Como o ‘homem’ chegou”, no qual reconstitui o trauma da longa viagem de carro-forte entre Mangaratiba e o hospital, dois meses antes. 1o de novembro: Licencia-se novamente da Secretaria da Guerra por motivos de saúde. Dessa vez, o diagnóstico é idêntico ao de João Henriques: neurastenia. O escritor ficará afastado do trabalho até 31 de janeiro do ano seguinte. dezembro: Volta a escrever no Correio da Noite. A colaboração se estende até março de 1915. O artista gráfico português Fernando Correia Dias desenha seu ex-líbris, em estilo art nouveau e com o lema “Amplius!” (“Mais!”, em latim).

1915 | 20 de março: O diário A Noite começa a publicar o folhetim Numa e a ninfa: Romance da vida contemporânea, que termina em junho. 27 de março: Começa a publicar com mais frequência na Careta, quase sempre sob pseudônimo. dezembro: Triste fim de Policarpo Quaresma entra no prelo.

1916 | 18 de fevereiro: O jornal A Epoca publica na primeira página uma resenha favorável a Triste fim, prestes a ser lançado, e uma entrevista com o autor, ilustradas com uma caricatura. 26 de fevereiro: Estreia de Triste fim de Policarpo Quaresma nas livrarias cariocas. É o primeiro livro de Lima Barreto publicado no Brasil. A edição é custeada pelo autor, que para tanto precisa contrair vultosos empréstimos. A impressão, em formato 19 × 13,5 cm, fica a cargo da Typographia Revista dos Tribunaes. Com dedicatória a João Luís Ferreira, o romance é datado de 1915 e inclui os contos “Um especialista” (dedicado a Bastos Tigre), “O filho da Gabriela” (a Antônio Noronha Santos), “A nova Califórnia”, “O homem que sabia javanês”, “Um e outro” (a Deodoro Leucht), “Miss Edith e seu tio” e “Como o ‘homem’ chegou”. O livro é recebido com frieza pela imprensa do Rio, mas suscita elogios de críticos como Fábio Luz e Oliveira Lima. junho: Viaja para Ouro Fino (mg), onde se hospeda por algumas semanas no Núcleo Colonial Inconfidentes, do Ministério da Agricultura, a convite de Emílio Alvim. Por causa de uma crise de delírio alcoólico, acaba internado na Santa Casa local. 16 de junho: Recebe trinta dias de licença médica com o diagnóstico de “neurastenia, com anemia pronunciada”. 10 de setembro: Publica, no jornal A Epoca, a crônica-manifesto “Amplius!”, em que critica o establishment literário e explicita sua militância por uma literatura com preocupações sociais. “Não desejamos mais uma literatura contemplativa; […] não é mais uma literatura plástica que queremos, a encontrar beleza em deuses para sempre mortos.” O texto será incorporado como introdução ao volume de contos Histórias e sonhos (1920). 25 de novembro: Inicia com a crônica “O ideal do Bel-Ami” a colaboração na revista A.B.C., que publica alguns de seus melhores textos políticos, entre os quais os contos alegóricos de Os bruzundangas. 31 de dezembro: Data do pós-escrito adicionado pelo autor à “Breve notícia” de Recordações do escrivão Isaías Caminha, cuja segunda edição (primeira brasileira) aparecerá em setembro do ano seguinte.

1917 | março: Lançamento, pelo jornal A Noite, da primeira edição do folhetim Numa e a ninfa em livro, que leva a data de 1915 no frontispício. A impressão tem formato 24,7 × 16,7 cm e texto em duas colunas. Saem duas tiragens, a segunda com os dizeres “Romance sugestivo de escândalos femininos” na capa. julho: Internado no Hospital Central do Exército devido a nova bebedeira. Entrega os originais de Os bruzundangas ao editor Jacinto Ribeiro dos Santos. O livro será publicado somente em dezembro de 1922. 25 de julho: Na crônica “Vera Zassulitch” (revista Brás Cubas), expressa simpatia pela Revolução Russa: “Não posso esconder o desejo de ver um [movimento] semelhante aqui”. 21 de agosto: Escreve uma carta a Rui Barbosa, presidente da Academia Brasileira de Letras, inscrevendo-se para a vaga aberta pela morte de Sousa Bandeira. Sua candidatura será desconsiderada. 30 de agosto: “Andei porco, imundo. […] Voltei para casa, muito a contragosto, pois o estado de meu pai, os seus incômodos, junto aos meus desregramentos, tornam-me a estada em casa impossível. Voltei, porque não tinha outro remédio” (Diário íntimo). Sofre um desmaio em casa e é socorrido por vizinhos e parentes. 1o de setembro: Conclui uma lista circunstanciada dos volumes de sua biblioteca pessoal, a Limana, com 707 obras. setembro: Começa a venda da segunda edição, “revista e aumentada”, de Recordações do escrivão Isaías Caminha, paga pelo autor. Com dedicatória a Benedito de Sousa, o volume de 234 páginas é lançado por A. de Azevedo & Costa Editores e impresso pela Typographia Revista dos Tribunaes no formato 18 × 11 cm. Na segunda tiragem, do mesmo ano, a capa mostrará um retrato de Lima Barreto. 13 de outubro: Em O Debate, jornal operário carioca, critica a atuação da polícia e da Justiça paulistas na repressão às greves operárias. 28 de OUTUBRO: Projeta no Diário a publicação de uma revista literária intitulada Marginália, da qual escreve o primeiro editorial.

1918 | janeiro: O conto “Sua Excelência” é publicado na revista Plateia, de São Paulo. 11 de maio: Publica na A.B.C. a crônica “No ajuste de contas…”, manifesto maximalista (socialista revolucionário) que termina com o grito de guerra “Ave, Rússia!”. 29 de julho: Solicita aposentadoria da Secretaria da Guerra por invalidez. 17 de agosto: Uma junta médica oficial o considera incapacitado para o trabalho. Diagnóstico: “Epilepsia tóxica”. 1o de setembro: Obtém licença médica válida até 27 de dezembro. 5 de outubro: Pelas páginas da A.B.C., entra numa polêmica sobre a contratação de uma mulher como amanuense da Secretaria das Relações Exteriores. O escritor implica com o feminismo por considerá-lo elitista, embora combata o feminicídio e outras formas de violência contra a mulher. 4 de novembro: Fratura a clavícula durante uma bebedeira. Encontrado pelo amigo Noronha Santos numa rua de Todos os Santos, é levado para o Hospital Central do Exército, no centro da cidade. Permanecerá dois meses internado. 9 de novembro: Do hospital, envia os originais de Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá a Monteiro Lobato, editor da Revista do Brasil, de São Paulo. Lobato responde afirmativamente e lhe oferece um conto de réis em adiantamento, e mais 50% dos lucros com as vendas do romance. 18 de novembro: Levante anarquista frustrado no Rio de Janeiro. Seu amigo José Oiticica é um dos cabeças do movimento e acaba preso. Internado, registra em crônicas e no Diário íntimo a brutal repressão policial à militância anarquista e grevista. 27 de novembro: Nova junta médica ratifica o primeiro diagnóstico para a concessão de aposentadoria. 26 de dezembro: Aposentado por decreto do presidente em exercício, Delfim Moreira. Tempo líquido de serviço público: catorze anos, três meses e doze dias. Muda-se com os irmãos para outra casa na rua Major Mascarenhas, no número 26. “Bolchevismo”, nota sem data no Diário.

1919 | 5 de janeiro: Recebe alta do hospital militar. Sua moléstia é classificada como “alcoolismo crônico”. 1o DE FEVEREIRO: Suspende por carta a colaboração na A.B.C., em protesto contra um artigo racista. Com a retratação da revista, retoma o envio de crônicas nas semanas seguintes. 22 de fevereiro: Aparecimento nas livrarias do Rio de Janeiro de Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá. O livro, dedicado a Noronha Santos, tem 203 páginas e formato 19 × 14 cm. 24 de fevereiro: Segunda candidatura à ABL, na vaga deixada pela morte de seu amigo Emílio de Meneses. Recebe dois votos nos dois primeiros escrutínios e apenas um nas demais votações. 2 de agosto: Publica na A.B.C. a crônica “Uma fatia acadêmica”, na qual critica Machado de Assis e a Academia Brasileira de Letras. 13 de setembro: Início de sua segunda fase na Careta. 25 de dezembro: Segunda internação no Hospital de Alienados, depois de novo surto psicótico. Como em 1914, recebe tratamento à base de ópio. Internado na Seção Calmeil, testemunhará no final de janeiro uma rebelião dos pacientes contra as más condições de tratamento. A temporada na praia da Saudade origina as notas de Diário do hospício, que por sua vez serve de base ao romance inacabado O cemitério dos vivos. 31 de dezembro: No hospital, recebe a reportagem do jornal A Folha para uma entrevista. Anuncia que está preparando um romance. “Tenho coligido observações interessantíssimas para escrever um livro sobre a vida interna dos hospitais de loucos. Leia O cemitério dos vivos. Nessas páginas contarei, com fartura de pormenores, as cenas mais jocosas e as mais dolorosas que se passam dentro destas paredes inexpugnáveis.”

1920 | 2 de fevereiro: Recebe alta. Antes um andarilho inveterado, fica cada vez mais recluso em casa. início de maio: O editor e amigo Francisco Schettino organiza uma feijoada em sua homenagem no Hotel Novo Democrata. novembro: Envia os originais de História e sonhos a Schettino. DEZEMBRO: Lançamento de Histórias e sonhos. Dedicado a Prudêncio Milanês, ex-chefe de Lima Barreto na Secretaria da Guerra, o livro reúne vinte contos, entre os quais “O moleque”, “Cló”, “Agaricus auditae”, “Sua Excelência” e “Clara dos Anjos”. Este último condensa o romance homônimo, em preparo desde 1904. A publicação fica a cargo da Gianlorenzo Schettino Livraria Editora. Com 192 páginas, o volume traz um retrato do autor no frontispício e, nas últimas páginas, juízos favoráveis sobre Lima Barreto por autores como João Ribeiro, José Oiticica, Monteiro Lobato e Humberto de Campos. 4 de dezembro: Inscreve Gonzaga de Sá no prêmio de “Melhor livro do ano” da Academia Brasileira de Letras. Entrega a Schettino os originais de Marginália, uma parte dos quais se perde. O livro sairá postumamente em 1953, em conjunto com Mágoas e sonhos do povo e Impressões de leitura. Recusa um convite de João Luís Ferreira, governador do Piauí, para dirigir a Imprensa Oficial do estado.

1921 | janeiro: Publica “As origens”, primeiro capítulo de O cemitério dos vivos, na Revista Souza Cruz. abril: Gonzaga de Sá recebe menção honrosa da Academia. A convite do médico Ranulfo Prata, seu amigo, viaja para Mirassol (sp), a fim de desfrutar uma temporada de repouso. Numa escala em São Paulo, encontra-se com militantes anarquistas. Afirma numa carta ter visitado Monteiro Lobato, mas não há confirmação desse encontro. Durante sua estada em Mirassol, é convidado a proferir, na vizinha São José do Rio Preto, uma conferência a que intitula “O destino da literatura”. Na última hora, desiste de comparecer. É encontrado inconsciente numa rua em Mirassol, sob efeito de álcool. junho: Segunda tiragem de Gonzaga de Sá, com nova capa e menção à distinção recebida da ABL. 1o de julho: Inscreve-se para a vaga de João do Rio (Paulo Barreto) na Academia. agosto: Entrega a Schettino os originais de Bagatelas, volume de crônicas lançado apenas em 1923. 28 de setembro: Retira a candidatura à Academia numa carta em que alega “motivos inteiramente particulares e íntimos”. outubro: Publica a conferência “O destino da literatura” na Revista Souza Cruz. A publicação continua no número de novembro. dezembro: Começa a escrita efetiva de Clara dos Anjos, dada por concluída em janeiro do ano seguinte. Entrega a Schettino os originais das crônicas de Feiras e mafuás, que permanecerá inédito até 1956. A saúde de João Henriques se degrada de maneira acentuada.

1922 | maio: Publica “O carteiro”, primeiro capítulo de Clara dos Anjos, na revista O Mundo Literario. 22 de julho: Em crônica na Careta, qualifica os modernistas de São Paulo de “futuristas” e faz troça da revista Klaxon. Os paulistas revidam com a mesma ironia. 7 de setembro: Na última visita ao centro do Rio, comparece à Exposição do Centenário da Independência. 26 de setembro: Em carta a um amigo, resume a ojeriza de toda a vida ao futebol: “As bibliotecas vivem às moscas; os museus, os concertos, as exposições de pintura, os arrabaldes pitorescos não têm nenhuma frequência; mas nos domingos e dias feriados, não há campo de football por mais vagabundo que seja, onde não se encontre uma multidão”. 1o de novembro: Morre em casa, à tarde, de “gripe torácica” (provavelmente pneumonia) e “colapso cardíaco”. O enterro acontece na manhã seguinte, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, conforme sua vontade expressa. 3 de novembro: Morte de João Henriques. O pai do escritor é enterrado na mesma sepultura do São João Batista. José Mariano Filho, amigo do escritor, custeia os dois funerais. dezembro: Publicação de Os bruzundangas, pela editora de Jacinto Ribeiro dos Santos, com 191 páginas.

1923 | janeiro: A Revista Souza Cruz inicia a publicação em dezesseis partes de Clara dos Anjos, até a edição de maio de 1924. Bagatelas é publicado pela Empresa de Romances Populares, do Rio de Janeiro, com 217 páginas.

1924 | 1o de julho: Seus irmãos doam todos os livros da Limana a José Mariano Filho. Nas décadas seguintes, a coleção será destruída pelas intempéries na chácara de Mariano em Jacarepaguá. O único livro remanescente é As grandes invenções antigas e modernas, de Louis Figuier, volume que hoje faz parte do acervo da Biblioteca Nacional.

1935 | JANEIRO: Inauguração na ilha do Governador do busto de Lima Barreto.

1948 | Primeira edição do romance Clara dos Anjos, pela Editora Mérito, do Rio de Janeiro.

1952 | Francisco de Assis Barbosa publica A vida de Lima Barreto.

1953 | NOVEMBRO: É inaugurada a Biblioteca Lima Barreto, em Madureira, no Rio de Janeiro.

1956 | Início da publicação da obra completa de Lima Barreto em dezessete volumes pela Editora Brasiliense, com organização de Assis Barbosa e prefácios de intelectuais de renome, como Oliveira Lima, Alceu de Amoroso Lima, João Ribeiro, Sérgio Buarque de Holanda, Lúcia Miguel Pereira e Gilberto Freyre.

1982 | Em alusão a seu centenário, celebrado no ano anterior, é homenageado no Carnaval carioca pela Escola de Samba Unidos da Tijuca, com o enredo Lima Barreto — Mulato, pobre, mas livre.

FONTES

> FRANCISCO DE ASSIS BARBOSA, “Sinopse cronológica” e “Bibliografia — Obras de Lima Barreto impressas”. In: A vida de Lima Barreto. São Paulo: Edusp; Belo Horizonte: Itatiaia, 1988, pp. 296-302.

> ELIANE VASCONCELLOS (Org.), “Cronologia da vida e da obra”. In: Lima Barreto: Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001, pp. 17-28.

> LILIA MORITZ SCHWARCZ, Lima Barreto: triste visionário. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.