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(Tempo da Maria) 

(1926) 

 

 

Se você se apoiasse um momento em meu peito, Maria, 

Eu havia de me inclinar um pouquinho pra frente, 

Sobre você meus olhos úmidos haviam de chover chuvas de brilhos, 

Que nem os ramos do ingazeiro na praia curta dos corgos... 

 

5      Eu não havia de falar nenhuma das palavras que hoje falo, 

Na certa que minha boca estaria rindo esse riso entre-aberto, 

Esse riso sem bulha nenhuma dos espantos bem-aventurados... 

Maria, nas alturas muito grandes como a do Corcovado, 

Quando a gente enxerga lá embaixo as cidades ao sol, 

10   Bem se sabe que vida, que palpitação estridente anda lá... 

Porém a gente não escuta nada e a cidade rebrilha esticada na luz... 

Eu ficava junto de você que nem a cidade enxergada de longe no sol... 

Porém você havia de sentir a bulha do meu sangue, o galope do meu pensamento, 

Todo o meu ser esticando estalando na paixão, multiplicado... 

15   Amo você com a luta-pela-vida das cidades! 

Você perceberia tudo isso e havia de me olhar se dando mais... 

 

Pois meus braços haviam de suspender o peso de você, por gosto, 

Mas só por gosto não, pela fatalidade procurada, 

E então seria o momento da sombra chegar... 

20   Eu enlaçaria você de supetão no meu amor que tem a escureza da noite, 

E longo, lento, brilhante, úmido, maravilhado, 

Nasceria apagando tudo, devorando tudo e nos esquecendo da Terra, 

O beijo desta boca apaixonada...