(Tempo da Maria)
(1926)
Ela é como o verão, e na escureza calma dos olhos dela
Relampeiam os entusiasmos sossegados da plenitude,
Eu a vejo de pedra, bem rija, de-pé,
Dura, no perfil duro, resplandecente sobre toda a criação.
5 Duro, reto, com a cabeça escondida nos pés dela,
Vejo um homem de bruços, abatido no chão.
Ele esconde naqueles pés imóveis os olhos sem sono
Porém não sabe mais chorar, esturricado pela insolação.
Careço que ela não tenha um gesto de piedade,
10 Careço que ela não chore de misericórdia,
Que não tenha uma palavrinha de consolação.
Porque tudo voltaria em reflorescimento novo,
Eu lhe falaria novamente os nossos insultos passados,
E seria insuportável a volta da humilhação.
15 Ela é como o verão...
Pois que seja a magrém, uma ensolarada magrém incomparável...
Careço que tudo pare, tudo seque, tudo morra em meu verão!
Careço que ela fique de pedra, bem rija, de-pé,
Dura, no perfil duro, resplandecendo sobre toda a criação!