As crónicas estão para um romance como as canções para uma sinfonia. No final da II Grande Guerra, o escritor inglês J. B. Priestley escreveu um livro chamado Delight, um conjunto de crónicas sobre o prazer de ler o jornal ao domingo de manhã, fumar na banheira ou escutar o som de uma partida de futebol. Era uma Europa que procurava um sentido maior depois de anos terríveis.

Estes textos de Miguel Araújo lançam-nos um convite igualmente tentador. Desafiam-nos a que nos consigamos abstrair-nos da correria da vida, nos desliguemos das catástrofes dos noticiários e nos reencontremos com os grandes nadas e os pequenos tudos. Impelem-nos a que deixemos de ser «pessoas da sala de jantar», aquelas que «nem sequer percebem que o melhor das festas passa-se nas cozinhas», que telefonam demasiado e que preferem água de piscina a água do mar. Saímos destas páginas decididos a demorar no chuveiro, a comer comida de verdade e a descobrir a humilde filosofia contida no gesto de lavar a loiça. À mão e sem batotas.

Miguel Araújo canta estes segredos em doses de três minutos, com o ritmo e a melodia de qualquer grande canção pop. Porque, seja o que for, bem ou mal, há que viver demoradamente.

«Toda a gente devia ter um Miguel Araújo na sua vida. Ele tem uma mistura de coolness, sabedoria e humor perante o mundo que contagia quem está por perto.» Nuno Markl

«O livro é ele. Os seus pensamentos, imagens, divagações (algumas verdadeiros achados) retratam-no com maior nitidez do que as canções que escreve. Um prédio, um café, uma tabuleta, uma súbita dor nas costas («sinais de alarme», aos 40 anos?), até uma canção, são pretexto para algo que não é bem filosofar mas monologar sobre coisas triviais na aparência mas por vezes mais profundas do que imaginamos.» Nuno Pacheco, Público