SOBRE O VELHO DA GRAÇA

Sobre O velho Graça

Alfredo Bosi

 

A reedição de O velho Graça de Dênis de Moraes atesta não só a presença cada vez mais forte e resistente de um dos maiores narradores de nossa literatura como o alto mérito do seu biógrafo.

Dênis de Moraes aprendeu com Graciliano que o culto da verdade histórica (apesar dos fáceis relativismos do discurso pós-moderno) é um imperativo ético inescapável. Ele construiu, em O velho Graça, uma biografia com todo o rigor da documentação e dos depoimentos pessoais que o seu projeto requeria. Temos um Graciliano sem retoques: duro, mas apaixonado; frio e áspero na superfície da fala e do gesto, mas ardente e sempre humano na fonte da vida pessoal, que se chama coração. Não por acaso o epílogo tudo resume: “O coração aberto aos homens”.

Dênis de Moraes traçou aqui o duplo itinerário do homem Graciliano: a paixão pela palavra nele precedeu e acompanhou a opção política, que, por sua vez, transcendeu (mas jamais renegou) a adesão partidária. Algo de sólido e constante fez convergirem ambas as escolhas: a fidelidade ao compromisso com o homem brasileiro, visto ora na pobreza do migrante, ora na truculência do senhor rural, ora nos meandros escuros da sua intimidade, ora, enfim, na condição kafkiana de réu sem culpa formada .

Tudo se encontra nesta biografia, que é completa (na medida do possível), fiel, empática e, como a desejaria o velho Graça, escrita com sóbria simplicidade.

Como admirador incondicional da obra de Graciliano, faço votos para que este livro conheça não só a leitura de professores e estudantes universitários, mas de todos aqueles que procuram na literatura a expressão de nossa humana condição trabalhada na luta sem trégua pela palavra justa.

 

Wander Melo Miranda

 

Onde termina a vida e começa a escrita é o ponto de inflexão da biografia de Graciliano Ramos. Torná-lo legível em seu desdobramento ético, estético e político foi a tarefa que Dênis de Moraes se impôs com argúcia de historiador e sensibilidade literária. Para traçar a figura do velho Graça, teve de refazer a trajetória luminosa e sofrida de um escritor incomum, sempre voltado para o testemunho minucioso de sua gente, sem nunca abandonar o compromisso maior com a palavra artística, que soube desentranhar como ninguém do território minado da gramática e da lei. Com o passar dos anos, o sertanejo arredio e destemido tornou-se referência incontornável da cultura brasileira. Revisitar sua vida e obra pelas mãos de seu melhor biógrafo é uma leitura imperdível.