XXI. Edição extra da Revelações

Revelação político-criminal

Pela primeira vez, nosso semanário deixa de lado neste número o mundo do espetáculo — da telinha, do palco, do acetato e das telas, que é o seu mundo —, e dedica todas as páginas à crônica de sangue e à política, com o fito de denunciar em todos os seus escabrosos detalhes a verdade sobre o monstruoso crime que vitimou nosso fundador, o pranteado e ilustre jornalista Rolando Garro.

EDITORIAL

Sabemos mas fazemos

Por nossa diretora, Julieta Leguizamón

Nós sabemos que este pode ser o último número da nossa querida revista. Sabemos o risco que estamos correndo ao publicar esta edição extraordinária da Revelações denunciando como assassino e corruptor da imprensa peruana o homem que, provavelmente, acumulou mais poder, multiplicou mais a corrupção e causou mais estragos na história da nossa querida Pátria, o Peru: o chefe do Serviço de Inteligência, conhecido por gregos e troianos pelo seu famoso pseudônimo: Doutor.

Sabemos que eu mesma posso perder a vida, como aconteceu com o saudoso Rolando Garro, preclaro jornalista fundador deste semanário, e que, da mesma forma, todos os jornalistas, funcionários e fotógrafos da Revelações podem perder seus empregos, seus salários e ser vítimas, eles e suas famílias, de um assédio impiedoso e cruel por parte do poder sanguinário do Doutor e seu amo e cúmplice, o presidente Fujimori.

Sabemos de tudo e, mesmo assim, sem vacilações, fazemos isto: publicamos este número incendiário da Revelações para demonstrar, de forma explícita, contundente e rotunda que, com o assassinato de Rolando Garro — e sabe quantos mais —, o atual governo cometeu um dos mais atrozes liberticídios da história do Peru (talvez deste vasto mundo) e uma das violações mais cruéis da liberdade de expressão contra um jornalista, polêmico, é verdade, mas respeitado até por seus piores inimigos, que reconheciam seu talento, sua coragem, sua testosterona, seu profissionalismo e seu amor por este nosso antigo país.

Por que fazemos isto, correndo tanto risco?

Antes de mais nada e, sobretudo, por nosso amor à liberdade. Porque sem liberdade de expressão e de crítica o poder pode cometer todos os atropelos, crimes e roubos, como os que ensombreceram a nossa história recente. E por nosso amor à verdade e à justiça, valores pelos quais um jornalista tem que estar disposto a sacrificar tudo, inclusive a vida.

E também porque, se ficarem impunes fatos como o covarde e vil assassinato de Rolando Garro e a igualmente vil e grotesca falsificação da justiça que foi atribuir o crime a um pobre ancião privado das faculdades mentais — estamos nos referindo ao veterano e conceituado recitador Juan Peineta —, o Peru vai mergulhar ainda mais fundo no abismo infernal em que caiu por culpa do regime autoritário, cleptomaníaco, manipulador e criminoso que nos domina.

E, por fim, fazemos isto porque, ao divulgar estas verdades corrosivas, contribuímos para impedir — nem que seja com um ínfimo grãozinho de areia — que o Peru se transforme, por culpa do Doutor e do seu patrão, o presidente Fujimori, numa republiqueta de bananas, uma dessas caricaturas que ofendem a nossa América. Os dados estão rolando. Alea jacta est.

Julieta Leguizamón
(Diretora)

O COMEÇO DA HISTÓRIA

Um forasteiro depravado, um milionário
emboscado e a bacanal de Chosica

(Confissões de Ceferino Argüello,
nosso valente repórter fotográfico
)

Por Estrellita Santibáñez

A história do assassinato do jornalista Rolando Garro, ordenado pelo homem forte do regime do engenheiro Fujimori conhecido como Doutor, começou há dois anos e pouco, quando um misterioso estrangeiro chamado Kosut (nome sem dúvida falso), do qual o Serviço de Imigrações não tem registro de entrada nem de saída do país, o que poderia indicar que se trata de um gângster integrante de uma máfia internacional, contratou nosso colega de trabalho na Revelações, o conceituado fotógrafo Ceferino Argüello, para tirar fotos de uma suposta reunião social que iria ocorrer numa casa em Chosica.

“Fui miseravelmente enganado por esse personagem, que parecia um homem de negócios respeitável, mas era, na verdade, um mentiroso, vigarista e provavelmente agente dos cartéis internacionais”, diz Ceferino. “Ele me contratou para fotografar um suposto evento social que, a bem da verdade, era uma bacanal com prostitutas.”

Quantas meretrizes participaram dessa bacanal, Ceferino?

Umas quatro, se não me engano. Ou, talvez, cinco. Eu não tinha uma visão boa do conjunto, porque ficava tirando as fotos de dentro de uns esconderijos, portanto minha visão estava um pouco recortada. Mas minhas câmeras, sim, tinham uma perspectiva ampla e disparavam bem.

Pode nos descrever as características da bacanal que fotografou, Ceferino?

Bem, acabaram todos nus, praticando o coito ou ato sexual, às vezes de forma correta e às vezes pela retaguarda. Como mostram as respectivas fotografias que tirei.

Você quer dizer, Ceferino, que as meretrizes, o forasteiro misterioso e o engenheiro Enrique Cárdenas se despojaram de suas vestes e fornicaram ali mesmo, como animais, misturados uns com os outros?

Não só fornicaram, se com esse verbo você quer dizer que fizeram amor, Estrellita. Porque houve também outros contubérnios, vulgarmente conhecidos como minetes e boquetes, e, creio, até uma tentativa do sr. Kosut de sodomizar, se me permite esse cultismo, uma das meretrizes; mas, ao que parece, só funcionou parcialmente porque ela sentiu dor, gritou e o sr. Kosut se assustou e desistiu. Minhas fotos testemunham tudo isso, menos os gritos, mas eu ouvi tudo muito bem.

Qual foi a reação do engenheiro Enrique Cárdenas no começo da bacanal?

De surpresa. Claramente, ele também tinha sido enganado. Não sabia que se tratava de uma bacanal. Era evidente que tinha sido convidado para um evento social. E lá se deparou com algo muito diferente. Mas, por fim, vencendo a sua reserva inicial, participou. E, mais tarde, sentiu-se um pouco mal, talvez devido às numerosas libações de álcool e às fileiras de droga que lhe foram induzidas pelo sr. Kosut. Não parecia familiarizado com essas práticas. Em todo caso, o outro teve que trazê-lo de volta para Lima no carro que havia contratado com motorista, porque o engenheiro não estava em condições de dirigir seu próprio automóvel.

Por que insiste em chamar o sr. Kosut de vigarista, Ceferino?

Porque ele nunca me pagou os quinhentos dólares que tinha que pagar pelas minhas fotos. O fato é que depois desse dia nunca mais voltei a vê-lo. No hotel, o Sheraton, me disseram que tinha devolvido o quarto e não disse para onde ia.

E então o que você fez, Ceferino, com as fotos da bacanal?

Guardei-as com cuidado pensando que algum dia o vigarista podia aparecer e me pagar o trabalho que encomendou.

E por que, dois anos e pouco depois, Ceferino, você decidiu contar ao diretor da Revelações que tinha essas fotos?

Fui forçado pelas necessidades econômicas. Sou casado, tenho três filhos e vivo na pindaíba, como diz o povo. Um dos meus filhos, o caçula, pegou escarlatina. Eu precisava urgentemente de recursos porque minha poupança estava zerada no banco. Exatamente: não me sobrava um puto. Então mostrei as fotos ao sr. Rolando Garro, diretor do nosso semanário. E contei toda a história a ele. O sr. Garro me disse que estudaria o caso, que ia ver o que se podia fazer com aquelas fotos. E só um mês e meio depois decidiu publicá-las e fazer aquela edição extra da Revelações, “As fotos da bacanal em Chosica”, que tanto sucesso teve. Infelizmente, para ele e para nós. E para o jornalismo nacional. Pois agora sabemos que foi cruelmente assassinado por ordem do Doutor, por ter publicado essas fotos comprometedoras do sr. engenheiro Enrique Cárdenas.

(Veja a continuação da história do assassinato no artigo da nossa diretora, Julieta Leguizamón, na página seguinte: “A mão que impulsiona os assassinos e a morte heroica do fundador da Revelações.)

O assassinato de um jornalista e a ameaça
à liberdade de expressão no Peru

Por Julieta Leguizamón
(Diretora da Revelações)

Há verdades que doem, que preferiríamos que fossem mentiras, mas neste caso gravíssimo trata-se de apresentar ao nosso público a verdade pura, nua e crua. Há que dizer as verdades, apertando os punhos e os dentes. E é o que fazemos.

Nem eu nem mais ninguém na redação da Revelações sabia que nosso fundador, Rolando Garro — meu professor e amigo —, trabalhava para o Doutor e seu sinistro Serviço de Inteligência. E que, por essa razão, muitas das revelações e campanhas do nosso querido semanário não nasciam espontaneamente, do instinto jornalístico e talento inquisitivo dos nossos redatores, mas eram ordenadas e tuteladas pelo próprio Doutor, de quem Rolando recebia instruções verbais diretas. Tudo isto é confirmado nas gravações secretas que deixamos nas mãos da Promotoria Pública e do Poder Judiciário, denunciando assim o assassinato de Rolando Garro por ordem e instigação do Doutor.

Por que Rolando Garro aceitou, como tantos outros colegas jornalistas, receber emolumentos das mãos manchadas de sangue do homem forte do regime de Fujimori? Por uma razão evidente, e tão clara quanto dolorosa: a necessidade de sobrevivência. Sem ajuda econômica do regime, através do seu Serviço de Inteligência, muitas outras publicações, tanto quanto a Revelações, teriam desaparecido por absoluta falta de anúncios, apesar de algumas delas contarem, como a nossa, com o favor do público. A necessidade, o desejo de continuar existindo, cumprindo sua missão jornalística e cívica, por certo deixaram Rolando à mercê do sinistro homem forte do regime de Fujimori, sem suspeitar que fazendo esse sacrifício, que salvava a vida do semanário, estava sacrificando a própria.

Por que digo isso? Porque quando o nosso colega, o repórter fotográfico Ceferino Argüello, me confessou (e mostrou) as escandalosas fotografias de Chosica, eu naturalmente aconselhei-o a levar o caso ao nosso chefe e diretor e explicar-lhe toda a história do enganoso Kosut. Foi o que fez Ceferino, seguindo o meu conselho. Só viemos a saber mais tarde (o que também está documentado numa das gravações que entreguei à Justiça) que Rolando Garro foi mostrar as fotos ao Doutor e pedir instruções sobre elas. O já mencionado Doutor proibiu terminantemente que as publicasse e fizesse a correspondente denúncia na Revelações ou tentasse com elas exercer alguma forma de coação ou chantagem contra o sr. engenheiro Enrique Cárdenas, protagonista da bacanal. O Doutor me explicou depois, pessoalmente (ver a transcrição da gravação correspondente que entreguei à Justiça), que havia proibido Rolando de publicar as fotos porque sabia que não devia se meter com gente mais poderosa que ele, os ricos do Peru, entre os quais se inclui o destacado e probo minerador engenheiro Enrique Cárdenas.

Mas Rolando Garro não obedeceu às instruções e tentou coagir (chantagem) o sr. Cárdenas, mostrando-lhe as fotos e pedindo que investisse seu dinheiro e seu prestígio na revista, de maneira que esta pudesse aprimorar suas matérias e sua apresentação, e assim as agências de publicidade, graças ao bom nome do engenheiro Cárdenas na nossa diretoria, contratariam anúncios que garantiriam a sobrevivência da Revelações. Como o engenheiro Cárdenas se negou a ser coagido e, inclusive, expulsou Rolando do seu escritório de forma ríspida, ameaçando tirá-lo de lá a pontapés, nosso fundador, tomado por um ataque de cólera desses que muitas vezes o deixavam cego e fora de si, publicou aquele número especial da Revelações. O Doutor decidiu então que tinha que puni-lo e mandou matá-lo.

(Veja a transcrição da gravação secreta que fiz da confissão do Doutor à autora deste artigo, como ameaça preventiva, para que ela — eu mesma — soubesse as possíveis consequências de desobedecer às suas ordens.)

Esta é a triste história da trágica morte de Rolando Garro, motivo da nossa denúncia pública que ocupa as páginas da Revelações desta semana e que expusemos com grande audácia aos nossos leitores ao mesmo tempo que fazíamos a correspondente acusação à Justiça, confiantes em que nossos justos juízes determinarão que o assassino de Rolando Garro seja julgado e merecidamente sentenciado por seu funesto procedimento.

(Veja também como a autora deste artigo, pródiga em arrojo e bravura, conseguiu gravar as comprometedoras confissões do chefe do Serviço de Inteligência quando este a convocava ao seu escritório, ou à casa secreta nas praias do sul, para dar-lhe instruções sobre as operações de desmoralização dos críticos ou adversários do regime que eram o preço da ajuda econômica que nos dava, necessária para a existência desta revista.)

O resto da história não podemos provar, mas sim deduzir e adivinhar. Para inventar uma cobertura para o brutal assassinato do nosso fundador, seus autores — o Doutor e seus meliantes — encontraram um pobre ancião arteriosclerótico, o inesquecível recitador Juan Peineta, muito conhecido por seu velho rancor e ódio a Rolando Garro, documentado em suas repetidas e insistentes cartas e telefonemas contra ele aos jornais, rádios e televisões, pois acreditava que foi devido às críticas de Rolando que perdeu o emprego no conhecido programa Os Três Piadistas, da América Televisión, onde trabalhava antanho. O Doutor pretendeu ocultar seu crime fazendo uma acusação caluniosa contra o veterano cultor da antiga arte da recitação. Esta é a verdadeira história da morte de Rolando Garro.

Julieta Leguizamón
(Diretora da Revelações)

As gravações secretas

(Correndo riscos para servir à Verdade e à Justiça)

Escreve: Estrellita Santibáñez

Antes de começar a entrevista, aviso à nossa diretora, Julieta Leguizamón, que não vou entrevistá-la como minha chefe na revista onde trabalho, e sim com a mesma liberdade e a mesma desenvoltura que teria com qualquer desconhecida que fosse importante para a atualidade informativa. E ela me responde: “Claro que sim, Estrellita. Você aprendeu a lição. Está cumprindo o seu dever de jornalista”. Sem mais preâmbulos, faço a primeira pergunta:

Desde quando você resolveu levar um pequeno gravador escondido na roupa para registrar as conversas com esse importante personagem conhecido como Doutor?

A partir da segunda vez que o vi. Na primeira, para minha grande surpresa, esse homem me confessou que Rolando Garro trabalhava para ele e que queria que a revista sobrevivesse à morte do seu fundador e que eu fosse a nova diretora. Foi então que decidi me arriscar e gravar todas as nossas conversas.

Você sabia a que perigo estava se expondo com essa decisão?

Perfeitamente. Sabia que se ele descobrisse que eu tinha um pequeno gravador no decote, entre os peitos, podia mandar me matar, como fez com Rolando. Mas decidi correr o risco, porque nunca confiei nele. E, graças a isso, descobri o que sei e que agora todo o Peru também sabe, graças ao destemido apoio de todos os jornalistas deste semanário e à denúncia que fizemos na Justiça: de que foi o Doutor quem mandou assassinar Rolando Garro por ter desobedecido à sua proibição, publicando as fotos da bacanal de Chosica. Agradeci a Deus no dia em que ele mesmo, de motu proprio, sem que eu puxasse o assunto, me disse o que tinha feito com o nosso amigo e mestre, fundador da Revelações.

E por que você acha que o chefe do Serviço de Inteligência lhe fez uma confidência tão estúpida, quero dizer, tão grave, pela qual podia ser condenado a muitos anos de prisão? O Doutor tem fama de ser muitas coisas, menos estúpido, não é mesmo?

Já me perguntei isso muitas vezes, Estrellita. Acho que foram várias as razões. Como eu tinha começado a trabalhar para ele, e de forma muito eficiente, fazendo todas as revelações e campanhas de desmoralização que ele mandava, já sentia confiança em mim. Mas, de todo modo, queria ter certeza de que eu nunca iria me atrever a traí-lo. Foi uma forma de me avisar, para que eu soubesse qual podia ser sua vingança se o traísse. Também pensei que ele me contou por uma vaidade satânica. Para que eu soubesse que tinha poderes supremos, incluindo o direito de tirar a vida de quem se insubordinasse. Não dizem que o poder chega a cegar quem o controla?

O que sentiu quando ouviu o Doutor dizer que tinha mandado matar Rolando Garro, que você estimava tanto?

Terror, pânico. Como se diz vulgarmente, eu me caguei de medo, Estrellita, e desculpe a má palavra. Meus joelhos tremeram, meu coração acelerou. E ao mesmo tempo, acredite se quiser, fui tomada por uma secreta felicidade. Já tinha encontrado o verdadeiro assassino de Rolando Garro. Estava ali, à minha frente. Pedi a Deus, à Virgem e a todos os santos que o gravador estivesse funcionando bem naquele dia. Porque, às vezes, com fitas gastas ou bambas, não funcionava direito e se ouvia muito mal, e outras vezes simplesmente não gravava nada. Mas os céus me ouviram; nesse dia a gravação saiu perfeita.

Quantas fitas gravadas você entregou à Promotoria e ao juiz de instrução?

Trinta e sete. Todas as que gravei, inclusive aquelas em que a gravação ficou ruim, quase inaudível. Naturalmente, antes disso tomei o cuidado de tirar uma cópia bem-feita dessas trinta e sete fitas, para o caso de extravio daquelas que entreguei ao Poder Judiciário.

Você acha que os juízes terão coragem de dar o uso adequado a essas gravações? Não receia que possam alegar que uma gravação feita às escondidas, quer dizer, de forma ilícita, não pode ser válida para acusar de assassinato o chefe do Serviço de Inteligência?

Este vai ser, naturalmente, o argumento que o Doutor usará em sua defesa, para não ser acusado e sentenciado pelo assassinato de Rolando Garro. Mas não tem nenhuma base. Consultei destacados advogados sobre isso, e todos me disseram que não há base jurídica, nem moral, para utilizar um estratagema tão chicaneiro. Haveria um escândalo enorme na opinião pública, o país não permitiria. Em todo caso, se acontecesse uma coisa assim, ficaria demonstrado que não existe independência do Poder Judiciário e que atualmente nossos juízes também são, como tantos jornalistas, meros instrumentos dos verdadeiros donos dos corpos e das consciências do Peru: Fujimori e o Doutor.

Quando você ia falar com o Doutor não era revistada antes pelos soldados ou policiais que o protegiam?

Só me revistaram, e muito por alto, na primeira vez. Mas sem tocar nos meus peitos, justamente onde estava escondido o pequeno gravador. Nas outras vezes me deixaram passar sem qualquer verificação. Por outro lado, eu estava proibida de ir procurá-lo sem ser chamada. Todas as nossas reuniões, menos a primeira, naquele bunker que ele construiu nas praias do sul, foram no seu gabinete do Serviço de Inteligência.

Não tem medo de sofrer um acidente oportuno, por exemplo, ser atropelada por um carro ou um caminhão, ingerir comida envenenada ou levar uma facada numa briga de rua armada?

Eu tomo todos os cuidados que posso, naturalmente. Mas não se pode esquecer que, neste momento, o regime de Fujimori e do Doutor não mantém mais o Peru inteiro de joelhos. A oposição à ditadura ganhou força, todos os dias há manifestações contra as iniciativas de Fujimori para ser escolhido pela terceira vez, o que obviamente só conseguiria mediante uma fraude monstruosa. Os defensores dos direitos humanos vão todos os dias lavar a bandeira peruana nas portas do Palácio do Governo. Os meios de comunicação, devido a essas novas circunstâncias, de modo geral são menos servis e submissos, e alguns se atrevem a fazer críticas abertas ao regime. A Fujimori e, principalmente, ao chefe das repressões, censuras e assassinatos. Esperemos que esse contexto de oposição aumente e leve o Doutor ao banco dos réus e depois à cadeia. Para mim, o grande perigo é que antes disso fuja para o estrangeiro, onde ele e Fujimori guardam todos os milhões que roubaram.

A senhora acha que a Revelações vai sobreviver a este último escândalo, ou o Doutor se encarregará de fechá-la para sempre?

Espero que continue viva, agora por sua própria conta, sem as dádivas do regime. Vou fazer o impossível, com a ajuda dos meus valentes colaboradores, para que os assassinos de Rolando Garro não assassinem também o nosso semanário. Contamos, para nos defender, com a opinião pública, sedenta de Justiça e Liberdade. Temos confiança nos nossos leitores.

(Veja nas páginas internas as fotos que Ceferino Argüello, o fotógrafo da Revelações, tirou da nossa diretora Julieta Leguizamón com o gravador que comprovou o crime ordenado pelo Serviço de Inteligência escondido entre os peitos, tentando prendê-lo no sutiã.)

(Veja nas páginas internas a biografia do notável jornalista que foi Rolando Garro, tudo o que se sabe da vida aventureira e criminosa do Doutor, o chefe do Serviço de Inteligência, e a ignominiosa ditadura de que o Peru padece.)

(Veja também, nas páginas centrais, um resumo do “Escândalo das fotos da bacanal de Chosica” e a triste história do reputado vate e recitador Juan Peineta, que os autores do crime de Rolando Garro obrigaram a assumir a culpa e depois mandaram para um asilo de anciãos onde viveu todo esse tempo sem chegar a entender, devido à sua demência senil, o drama de que foi vítima inocente e inconscientemente. Ver, finalmente, a pesquisa feita pelo nosso semanário na qual noventa por cento das pessoas consultadas pensam que Juan Peineta deveria ser indultado porque duvidam que no seu estado físico e mental pudesse ter sido o autor do crime pelo qual foi condenado.)