O PRISIONEIRO

 

 

 

 

Eu cerrei brandamente a janela sobre a noite quieta

E fiquei sozinho e parado, longe de tudo.

Nenhuma percepção — talvez uma leve sensação de frio no vento

E uma vaga visão de objetos boiando no vácuo dos olhos.

Nenhum movimento — distâncias infinitas em todas as coisas
No lençol branco que era outrora o grande esquecimento

No poeta que ontem era o refúgio e a lágrima

E no misericordioso olhar de luz que sempre fora o supremo apelo.

Nenhum caminho — nem a possibilidade de um gesto desalentado

Na angústia de não ferir o desespero do espaço imóvel.

 

Passariam as horas e nas horas o auge de cada instante de sofrimento

Passariam as horas até a hora de voltar para o amor das almas
E seguir com elas até a próxima noite.

Nenhum movimento — é preciso não despertar o sono dos que velam em espírito

É preciso esquecer que há poesia a ser colhida nas longas estradas.

Nenhum pensamento — a mobilidade será o horror de todas as noites

É preciso ser feliz na imobilidade.