EU ME PERDOO

Esses dias, assistindo à TV, vi alguém dizer que o primeiro passo para a cura é a aceitação. Então, acho que talvez a melhor forma de começar isso seja assumindo para mim, de uma vez por todas, que eu nunca fui tão feliz assim sozinho. E, pior que isso, sempre fingi para os outros, sobretudo para mim mesmo, que a minha companhia era tudo o que me bastava. Tolice, eu sei.

Aqui por dentro do meu peito tudo queima, sabe?! Tem uma voz que fica zunindo no meu ouvindo – “Culpado! Assassino!” –, como se o espelho me acusasse de todos os crimes que já cometi. Mortes passionais. Atentados contra mim mesmo.

Talvez eu devesse pedir desculpas a mim por todos os amores que abortei ainda nos primeiros sinais de vida: o frio na barriga, o sorriso acompanhado da notificação no celular, a lembrança – pelo menos três vezes a cada minuto – daquele sorriso.

Vai ver meu erro sempre tenha sido subestimar minha própria história, como se já fosse meia-noite durante o dia inteiro e meu destino de abóbora fosse a vida real.

Argh. Calma, coração! É em vão correr tanto assim, andar acelerado, descompassado. Ainda mais quando somos os juízes das nossas próprias condenações. Eu só preciso de um pouquinho de paz. Ou melhor, diferentemente de todas as outras vezes, preciso assumir que, na verdade, é necessário perder um pouquinho a calma e me apaixonar enlouquecidamente e sem medo do fim. De quando for, inevitavelmente, tarde demais.

Fiquei traumatizado, entende? Já sofri muito, apesar de tão jovem. O amor, esse safado, quase nunca sorriu para mim. Um riso assim, meio de canto de boca, aquele que escapa pelos olhos. Um mostrar de dentes que a gente não segura. Que é espontaneamente estonteante. Apaixonante. Apaixonado.

Perdão. Perdão. Perdão. Comecei a repetir isso por dentro, como se todos os meus pensamentos começassem a apertar as mãos uns dos outros, celebrando o fim da Terceira Guerra Mundial que acontecia dentro de mim e ninguém via. Ninguém nem sequer notava.

Parece pouco, não é?! Mas você não imagina o alívio que meus ombros estão sentindo agora. Me sinto ao menos um pouco mais disposto a quebrar a cara mais algumas vezes, até achar alguém que ajude a ressignificar meu sorriso.