PESSOAS CADA VEZ
MAIS SOZINHAS
E no meio dessa angústia toda, fico aqui escolhendo as palavras que digam tudo aquilo que não tenho coragem de assumir para mim mesmo. Desde a hora em que acordo e caço o celular numa esperança fútil de um “bom-dia”, ou no contar das horas em que atualizo desesperadamente as redes sociais e verifico exaustivamente as notificações, na esperança de ter uma migalha de atenção.
Eis que se passam dias, semanas, sei lá, lá se vai mais um ano, e fico aqui, nessa mesma esperança tola de assumir um amor, uma paixão, um rosto que sorria de volta para mim. Sabe lá Deus quantas vezes eu já achei que tivesse encontrado o amor da minha vida, e na manhã seguinte: nada.
Tenho dessas de me aventurar, de me perder, de deixar farelos de pão, de deixar um rastro, de criar uma trilha para ver se alguém resolve seguir e, assim como quem não quer nada, me encontrar. Eu sei, sou idiota o suficiente para deixar de lado toda a minha maturidade e idade adulta por uma fantasia. Por uma história que eu queria que fosse minha, e sabe Deus o quanto eu quero que dê certo.
Agora, revirando esse baú de pensamentos e escolhendo as palavras que digam subjetivamente tudo aquilo que eu não tenho coragem de assumir para mim mesmo, percebo que o maior culpado de todas as histórias não terem dado certo sou eu. Isso é o que acontece com quem está sempre disponível. Com quem está sempre disposto a tentar mais uma vez. Com quem dá sempre a cara para bater, na esperança de que o outro desista do tapa ou que, pelo menos, não doa tanto.
É hora de aceitar o inaceitável: eu sempre quis me apaixonar por alguém como você. Talvez um você ainda sem nome, mas que já aparece nos meus sonhos. É hora de abrir os olhos e aceitar que talvez esse alguém nunca leia todos os bilhetes nas garrafas que já lancei ao mar. Ou talvez que não apareça graças àquelas moedas que joguei na fonte, por causa do sopro das minhas velas de aniversário ou dos pedidos feitos para as estrelas cadentes. Que, na verdade, nem são estrelas.
Preciso crescer, é isso. Um crescer tão maduro que não dependa mais de uma metade da laranja ou que pelo menos não precise mais procurar em pomar nenhum essas coisas que a gente encontra nas prateleiras dos supermercados de bandeja. Aqui, onde o faz de conta não tem vez, os vilões são muito mais perigosos, os mocinhos muito menos interessantes e mais cafajestes, as princesas dormem de touca e usam enchimento e, nos bailes reais, o máximo que a gente consegue encontrar são comandas caras, copos cheios e pessoas, ah, pessoas cada vez mais sozinhas.