26
Acordar de manhã mais contente do que o rouxinol que canta desde o princípio do Verão na árvore em frente da janela do meu quarto.
Ficar mais um momento na cama porque não há escola e a minha irmã não tarda.
Olhar pelas tirinhas do estore mal fechado e imaginar o dia de sol que anda lá por fora.
Esperar que, ao menos hoje, a minha vizinha não esteja dobrada sobre a máquina de costura, com montes de roupa ao seu lado.
Contar os minutos e os segundos que faltam para a Rosa entrar em casa. Escutar os ruídos do elevador em movimento e acreditar sempre que é ela finalmente.
Pensar, pela primeira vez, que tenho pena que a avó Lídia não vá pegar na minha irmã ao colo, contar-lhe histórias, rir para ela, dar-lhe um dia pão e queijo à chegada da escola. Pena de não lhe poder dar hoje a avó de presente.
Sonhar todos os países onde hei-de ir com ela. E ter mais força para enfrentar os primeiros-ministros aborrecidos que não querem obedecer às minhas ordens. Só porque a partir de agora eu já não estou sozinha, e é bom não estar sozinha nunca mais.
Recordar o amigo que um dia me disse: «Tudo é importante para o equilíbrio da nossa vida.»
Ouvir mais uma vez o ruído do elevador. Desta vez o ruído certo.
Contar os segundos.
Ouvir a campainha.
A chave que se mete na fechadura.
A porta que se abre.
Rosa.
Rosa, minha irmã Rosa.