A PONTE

— Não vou atravessar aquilo — digo ao cachorro.

Ele me olha como quem dissesse: Ah, se não vai.

— Olhe só como é fraca! — protesto, mas o cão simplesmente não está interessado.

Sobe na ponte e começa a atravessá-la. Com muito cuidado, piso nela também...

É de madeira.

Tem rachaduras, e minhas mãos ardem com a força que uso para segurar as cordas.

Olho para baixo.

Para aquilo que parece um abismo.

Aos poucos, porém, vou fazendo a travessia, às vezes engatinhando para conseguir.

É como as palavras faladas, a ponte. Eu a quero, mas tenho medo dela. Deus do céu, quero desesperadamente chegar ao outro lado — assim como quero as palavras. Quero que minhas palavras construam pontes tão fortes que seja possível caminhar sobre elas. Quero que elas se elevem acima do mundo, para que eu possa me erguer e andar até o outro lado.

Às vezes a gente tem que se agachar para construir uma ponte.

Já é um começo, acho.