CACOS DE VIDRO
Chegamos a uma tela de vidro, bem alto na escuridão.
Ao nos aproximarmos dela, sei o que tenho que fazer. O cachorro dá um passo para trás e, devagar, sinistramente, eu me inclino para a frente na vidraça. Trêmulo.
Por algum tempo, apenas olho para baixo, vendo pela primeira vez uma névoa aveludada lá embaixo. Ela cintila e se ondula, e fica mais luminosa a cada momento.
Por algum tempo, o vidro é forte, mas o inevitável não tarda a acontecer.
Ele racha.
Desfaz-se em pedaços e se abre ao cair.
O impulso me empurra, e sou puxado para o chão, a uma velocidade que ultrapassa minha imaginação.
Vejo a vastidão do mundo.
Quanto mais caio, mais rápido ele gira, e à minha volta vejo tudo e todos que conheço. Lá estão Rube e Steve, Sal, Sarah, papai e a Sra. Wolfe, e Julia, a Vadia, com aquele ar sedutor. Até o barbeiro está lá, cortando cabelos que chovem ao meu redor.
Só penso em uma coisa.
Onde está a Octavia?
Ao chegar mais perto do chão, noto que é na água que estou caindo. É um mar verde e liso, até que...
Sou empurrado pela superfície e desço mais. Sou cercado.
Estou me afogando, penso. Estou me afogando.
Mas também estou sorrindo.