TUDO CERTO

Pela primeira vez, uma multidão me confronta nesta jornada urbana pelas noites, ruas e trevas. Há uma enxurrada de gente vindo na minha direção, e todos, percebo, são desprovidos de rosto. Um vazio lhes tolda os olhos e eles não têm a menor expressão.

Tínhamos entrado em uma rua e lá estavam eles, fluindo em direção a nós.

O cão vai abrindo caminho em zigue-zague e eu o sigo, escolhendo meus espaços na onda humana.

Vez por outra, vejo um rosto que conservou sua forma.

Em dado momento, vejo Sarah tentando encontrar seu caminho, e em outro, quando tropeço, alguém me ajuda a me levantar, e é o rosto de meu pai que vem a meu encontro quando ergo a cabeça.

Sigo em frente. Não tenho escolha.

A questão é que não me incomodo.

Quero que o mundo apinhado gire do seu jeito — que me faça encontrar meu próprio caminho, ainda que às vezes isso seja uma luta.

À medida que vou avançando, sinto a tudocertice me perpassar.

O engraçado é que tudocertice não é uma palavra de verdade. Não está nem no dicionário.

Mas está dentro de mim.