ENTRA O CÃO

Chego mais perto aos pouquinhos, em direção aos olhos brilhantes que tinha visto dentro de mim.

A cidade está fria e escura.

Este beco está cheio de torpor.

O céu afunda. Escuro, escuro céu.

Agora estou ali, talvez a uns cinco metros de um bicho que me encara. Meus olhos se adaptam e eu o vejo inteiro, encolhido no chão.

Vejo os olhos.

O pelo áspero, irregular, cor de ferrugem.

Respirando, arfando vapor.

Lentamente, chego mais perto.

Perto demais.

Chego perto demais e o cachorro se levanta de repente e me rodeia, atento. Mantém a cabeça baixa, mas tenta olhar para cima.

Passa por mim, para e olha para trás.

— O que é? — pergunto.

Mas eu sei.

Tenho que segui-lo.

Aos poucos, ele me conduz pelas ruas de volta ao campo. Move-se com o que só posso chamar de uma graça irregular.

E então.

Há um lugar no chão.

Na grama orvalhada.

Ele para e se senta ali, e a cidade parece morta à nossa volta.

Gosto dos olhos dele.

Parecem desejo.