GAROTOS NO BECO
Deve haver milhares de becos aqui, nesta cidade da minha mente.
Becos escuros por toda parte.
Em cada um deles, há pessoas brigando, retalhando-se mutuamente e desferindo socos e pontapés em corpos já caídos.
Passamos por cada um deles, observando e descobrindo que algumas pessoas são derrubadas para sempre, enquanto outras se levantam e continuam a lutar...
Por fim, chegamos a um beco deserto. É solitário e indiferente, e uma brisa leve percorre o chão. Sussurra para os detritos, depois os ergue e move.
Exatamente como eu.
Neste instante.
Por este cachorro.
Ele sai de fininho quando um grupo de rapazes entra no beco.
Apenas suas passadas falam quando eles se aproximam de mim e no mesmo instante me jogam no chão. Acertam os punhos e os pés no meu rosto e no meu corpo.
Minhas costelas se esfacelam.
Meu coração luta para permanecer dentro do peito.
Olho para o cão, implorando por ajuda, mas nada chega.
A ajuda já está aqui.
Está nas mãos, nos pés, nas vozes cobertas pelo hálito dos meus agressores; e, quando vão embora, eles passam por cima de mim e saem do beco como se nada houvesse acontecido.
Meu sangue corre.
A rua é fria.
O cachorro aparece acima de mim, olhando para baixo. Faz com que eu pense em todas as outras pessoas espancadas nos becos. Todos os vencedores. Todos os lutadores. Todos os perdedores. E todos os que se recusam a ficar caídos.
Ele espera.
Ele me observa.
Demora um pouco, mas me ponho de pé.
Olho para ele — é preciso tomar uma decisão.
O desejo me percorre.
E me inunda.
Transborda.
Incendeia-se em meus olhos, e eu contemplo o beco. Começo a andar, através da dor, sempre decidindo. Escolhendo. Sabendo.
Dizendo ao cachorro que vou lutar.
Com o desejo escrito nos olhos.