12.
Ah, porque não posso
eu em prosa, ou rima

António Ferreira

Ah, porque não posso eu em prosa, ou rima

tão alto levantar o brando nome,

que em toda praia estranha, estranho clima,

brandura a fera gente dele tome;

com que eu batendo as asas vá por cima

da baixa inveja, e assi a vença, e dome,

que em vão seus dentes quebre e dura lima,

em vão louvor esconda, erros assome?

Mas, pois não basta o esprito a empresa tanta,

bastar devia ao menos aqueixar-se

esta língua em meu mal só fria, e muda.

Assi a clara vista me ata, e espanta,

que quando dela espero mor ajuda,

então a vejo em dano meu calar-se.