38.
Nem tenho paz nem
como fazer guerra

Petrarca

Nem tenho paz nem como fazer guerra,

espero e temo e a arder gelo me faço,

voo acima do céu e jazo em terra,

e nada agarro e todo o mundo abraço.

Tem-me em prisão quem ma não abre ou cerra,

nem por seu me retém nem solta o laço,

e não me mata Amor, nem me desferra,

nem me quer vivo ou fora de embaraço.

Vejo sem olhos, sem ter língua grito,

anseio por morrer, peço socorro,

amo outrem e a mim tenho um ódio atroz,

nutro-me em dor, rio a chorar aflito,

despraz-me por igual se vivo ou morro.

Neste estado, Senhora, estou por vós.