95.
Ao jurar-me ela seu fiel amor

William Shakespeare

Ao jurar-me ela seu fiel amor,

palavra que acredito e sei que mente;

deve pensar-me um jovem sem tutor,

nos enganos do mundo inexperiente.

Assim, pensando em vão que me crê jovem,

saiba embora já fui melhor do que hoje,

as suas falas falsas me comovem

e a verdade de parte a parte foge.

Mas porque não dirá ser ela injusta?

Porque não digo minha idade avança?

No amor, idade e anos dizer custa

e é costume de amor fingir confiança.

Deitamo-nos, mentimos, mente, minto.

Mentir em culpa é-nos lisonja, sinto.