147.
Morena

Guerra Junqueiro

Não negues, confessa

Que tens certa pena

Que as mais raparigas

Te chamem morena.

Pois eu não gostava,

Parece-me a mim,

De ver o teu rosto

Da cor do jasmim.

Eu não… mas enfim

É fraca a razão,

Pois pouco te importa

Que eu goste ou que não.

Mas olha as violetas

Que, sendo umas pretas,

O cheiro que têm!

Vê lá que seria,

Se Deus as fizesse

Morenas também!

Tu és a mais rara

De todas as rosas;

E as coisas mais raras

São mais preciosas.

Há rosas dobradas

E há as singelas;

Mas são todas elas

Azuis, amarelas,

De cor de açucenas,

De muita outra cor;

Mas, rosas morenas,

Só tu, linda flor.

E olha que foram

Morenas e bem

As moças mais lindas

De Jerusalém.

E a Virgem Maria

Não sei… mas seria

Morena também.

Moreno era Cristo.

Vê lá depois disto

Se ainda tens pena

Que as mais raparigas

Te chamem morena!