151.
Penélope

David Mourão-Ferreira

Mais do que sonho: comoção!

Sinto-me tonto, enternecido,

quando, de noite, as minhas mãos

são o teu único vestido.

E recompões com essa veste,

que eu, sem saber, tinha tecido,

todo o pudor que desfizeste

como uma teia sem sentido;

todo o pudor que desfizeste

a meu pedido.

Mas nesse manto que desfias,

e que depois voltas a pôr,

eu reconheço os melhores dias

do nosso amor.