165.
Guitarra de Satã I

Fradique Mendes (Antero de Quental)

Quando te ofendo, choras em segredo,

Quando te calco, mais te humilhas, pobre!

Confesso, minha ingénua, que isto é nobre…

Mas olha: o amor, sem luta, esvai-se cedo!

Toda flores, a terra era um degredo…

Todo risos, o ar, funéreo dobre…

Quer-se que a alma em mil almas se desdobre:

Não posso amar-te — não me metes medo…

Sê tu uma hora infame e viperina,

E bela d’impudor, de força inculta!

Verás se eu sei amar, boa menina…

Ah! rasga o véu d’essa inocência estulta,

E mostra à luz do dia a Messalina,

Que a mais santa Beatriz tem dentro oculta!