212.
Amavam-se ambos muito.
— Ela à noite roubava
Fradique Mendes (Jaime Batalha Reis)
Amavam-se ambos muito. — Ela à noite roubava
E ele era ladrão.
E quando ele sombrio d’algum crime voltava
Ela ria-se então.
O dia era um prazer: — dormia à noite ela
Sobre o seu coração.
Quando o levaram preso, ela pôs-se à janela
E riu-se muito então.
Ele escrevia-lhe: «eh! nem não queiras que eu padeça
E morra de paixão» —.
Ela lia muito a carta, abanava a cabeça
E ria… e ria então.
Ele foi enforcado enfim de madrugada
E sepulto no chão.
Mas uma hora depois ela era embriagada
E ria muito então.