359.
Bucólica, para uma ninfa
da serra

Egito Gonçalves

À Suzy

Não és filha do luar, nem flor de celofane,

mas o teu riso é a alegria desta tarde

ao vires nadar comigo nas águas do açude

como um arbusto branco, esbelto, impermeável.

Uma canção roça os teus lábios e floresce

por entre os eucaliptos e as mimosas…

Não há junto de ti ânsias de cais,

nem partidas frustradas, nem mortes por inércia.

Tuas pernas de bailarina rasgam-se nas silvas

percorrendo os fraguedos da montanha,

enquanto os filósofos esperam na estante

o momento invernal de serem percorridos.

Puro e diáfano, sento-me a teu lado…

Ficaram as máscaras no comboio, longe,

onde estarão no regresso, certamente,

intactas e prontas para a angústia.

Longe das algas frias e envolventes

o encontro aproveita a música dos pássaros,

com fantásticos veludos no fundo do cenário

feitos tons de verdes sobrepostos.

Mas o calor abranda e abandona o dia;

o momento é de calma e de separação.

As asas fecham-se, os pastores regressam,

e as estrelas nascem no pico das montanhas.

A noite vem dar-me a hora da partida

e a ti um diadema de silêncio.

Contorno as lágrimas mentais que me visitam

para vencer o abismo-espera que se segue.

A sombra escorre da lagoa, cinzenta como a rocha…

O vento refresca a tristeza que espadana da fonte

e, engastada em ternura, esfuma-se a canção

das flores que riscam a berma das estradas.