361.
Romeu e Julieta
— outro fim?

Fernando Pinto do Amaral

Há momentos em que é importante chegar

à verdade dos factos: por exemplo,

se Romeu naquele dia soubesse

que Julieta apenas hibernava

sob a aparência de um cadáver,

teria esperado as horas necessárias

para que ela acordasse

ou talvez fosse mesmo dar-lhe um beijo

semelhante ao da história infantil

da bela adormecida.

Fugiriam os dois pra muito longe,

esqueceriam Verona e o ódio

de Capuletos e Montéquios

e talvez descobrissem uma outra cidade

onde vivessem tranquilos

e criassem os filhos — um lugar

onde fossem felizes para sempre,

pelo menos enquanto durasse o amor

e às vezes dura sempre

tal como nas histórias infantis.

Se assim tivesse acontecido, a história

de Julieta e de Romeu seria

parecida com as histórias infantis

em que a eternidde se renova

segundo a natureza, projectada

em netos & bisnetos & etc.

Em vez disso, na história conhecida

o destino fintou a natureza,

suspendeu-lhe os limites, proclamou

que para lá da morte só o amor

é eterno — e assim

as almas desses dois apaixonados

desde então até hoje

precisam de se amar para sobreviver.