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— O que lhe parece? Gosta?

A primeira página chegava até aqui. Estavam as duas ali, em frente da montra, a ler através da névoa e de um vidro que não estava muito limpo. Felizmente, o livro descansava quase à altura dos olhos e o candeeiro de alumínio que Matías tinha instalado como foco para chamar a atenção — um gesto excessivamente teatral mas eficaz — facilitava bastante a leitura.

— Não sei bem dizer — respondeu Lola —, acho que sim. Gosto do tom, lê-se de uma forma muito natural.

Continuavam no passeio. Há algum tempo que Lola se sentia incomodada com o frio.

— E a si — perguntou por sua vez —, interessa-lhe?

— Sim, sim, claro — reconheceu a mulher do lenço na cabeça. — Fala de coisas que me são certamente mais próximas do que a si. E não só pela diferença de idades.

— Não é espanhola, pois não?

Lola perguntou-se pela primeira vez quem seria aquela mulher e porque é que estava nesse bairro. De repente deu-se conta de que sentia curiosidade.

— Não, sou inglesa — respondeu a senhora com um sorriso franco. O seu sotaque, talvez de forma inconsciente, tornou-se mais acentuado. — Embora esteja há treze anos em Madrid.

Estava enregelada, mas tinha vergonha de entrar na livraria e deixar a mulher na rua.

— E como veio para o nosso país?

A mulher olhou para Lola, que se aconchegava no seu casaco de malha.

— A senhora está cheia de frio — disse em vez de responder.

Lola também sorriu.

— Sim, é verdade. — A névoa continuava agarrada à rua, como se tivesse chegado para ficar. — Quer entrar comigo? — disse dirigindo-se decididamente até à entrada. — Posso ler-lhe um pouco mais se formos lá para dentro.

— Oh… Agradeço-lhe. Mas não quero incomodar o seu negócio.

Lola já estava a levantar o balcão.

— Incomodar? Não incomoda nada. Não se preocupe; se vier alguém, paro e pronto.

Entraram uma atrás da outra na estreita livraria. Lola retirou alguns cadernos que havia na única cadeira e ofereceu esse lugar à mulher enquanto reservava para si o banco que guardavam debaixo do balcão. Depois tirou o livro da montra. O candeeiro de mesa dava muito calor apesar de ter uma lâmpada de doze watts.

— Sabe do que mais gostei?

A mulher tinha tirado o lenço. O seu cabelo era completamente branco, mas não era velha; Lola pensou que devia ter aproximadamente a idade da sua mãe.

— Que essa menina fala da sua situação sem ressentimento. Dá a sensação de que vai crescer sem amargura, não acha?

Lola ficou pensativa.

— Talvez — disse por fim. — Sem dúvida, no que lemos até agora não há nenhum desejo de dramatizar, o que me parece muito bem. A realidade já é bastante dura.

Desta vez sorriram as duas ao mesmo tempo. E pouco tempo depois, quando retomou a história, a voz de Lola soou como se todos os livros que havia na loja se tivessem concentrado nela.