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Precisamos de uma pausa. Acho que nos vai servir para digerir o que acabámos de ler.

Lola suspirou e juro que estive prestes a fazer o mesmo.

— Coitada — murmura com melancolia.

Talvez me engane, mas pareceu-me que tem lágrimas nos olhos. Por um momento, sinto tanta ternura por ela como pela pequena Rose.

Depois sorri e recompõe-se. Volta à realidade. É de novo essa mulher cheia de entusiasmo e sensatez. «A mulher do livreiro», chamo-lhe no meu íntimo sem que ela saiba; não é que seja secundária, mas comecei a chamá-la assim porque conheci primeiro o seu marido. É só isso. Mas nunca lho direi porque receio que não lhe agrade nada.

— Que má é esta Frances — disse com isso que a minha vizinha chama desenvoltura —, que cobra, meter-se com James.

Acho graça ao seu comentário. E por um momento sinto-me tão bem…

— Deve estar cansada de ler — digo mudando de assunto.

— Não — responde alegremente; depois hesita. — Bem, um bocadinho.

— Sabe o que vou fazer?

Olho através da pequena montra. Não está a chover.

— Vou um momento ao café da rua Barquillo buscar dois chocolates quentes com churros para si e para mim.

— Ai não, a sério — protesta ela. — Não é preciso.

— Não gosta de chocolate quente?

Olha para mim de uma forma muito expressiva.

— Adoro — reconhece.

— Então está decidido.

Pego no casaco e levanto eu própria o balcão para sair da loja. Mesmo quando estou prestes a abandonar o átrio, cruzo-me com uma rapariga jovem — não será mais velha do que a nossa Rose — com óculos e franja. Leva um desses romances cor-de-rosa nas mãos. Coitada…

Não sei porque é que nos bares de Madrid é tão difícil levar um chocolate quente para tomar noutro sítio. O empregado de mesa não achou muita graça ao facto de eu levar o chocolate numa bandeja. Não confiava em mim, por isso tive de lhe deixar vinte pesetas de sinal. Por fim, em troca disso, temos chávenas quentes e churros tapados com um pano limpo.

São quase onze e meia. O seu marido regressará à uma ou à uma e meia. Não gosto da ideia de que ele me veja ali dentro.

A rapariga dos óculos e da franja ainda está a escolher a sua nova história de amor. Lola pôs no balcão uma caixa de cartão com todos os romances colocados em posição vertical. A rapariga tira-os uma e outra vez para ver a capa.

— É que já os li quase todos — desculpa-se.

Lola olha para mim com uma expressão impaciente. Eu transporto a bandeja com as duas mãos e, sem qualquer palavra, ela afasta a caixa, arrebatando-a das mãos da rapariga, e deixa-me algum espaço para apoiar a bandeja.

Desta vez quem suspira sou eu…