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— A senhora acha que ela está apaixonada pelo Roger?
Lola fez finalmente uma pausa quando uma vizinha que chegava depois de ter ido comprar pão nos desejou os bons dias. Está há demasiado tempo a ler e acho que agradece o intervalo.
— Acho que não.
— Que pena… Tenho vontade de que se apaixone.
Sorrio e decido abordar outra questão que me preocupa mais.
— Estava a perguntar-me se a senhora e o seu marido não gostariam de recuperar o vosso trabalho de editores. Imagino que deva ser um trabalho apaixonante.
Lola contempla-me com estranheza. Acho que a pergunta a apanhou de surpresa.
— Sim, era interessante — reconhece sem muito entusiasmo.
— Acha que é muito difícil?
— Abrir outra vez a editora? Impossível — responde taxativamente.
— Pelo dinheiro?
Encolhe os ombros.
— Sim — reconhece —, em parte. Mas, além disso, o que é que íamos editar? Pemán, Agustín de Foxá, Gabriel y Galán? A senhora nem sequer sabe quem são, pois não?
Não consigo perceber o que me está a querer dizer.
— O meu marido publicou em Espanha a obra de Apollinaire, de Cocteau, de Paul Morand… Não se conseguiria adaptar perante tudo o que aconteceu. Diz que prefere vender borrachas.
— Estou a perceber. O seu marido é um homem muito íntegro.
— Ou muito teimoso — responde ela. — Enfim, quer que continuemos?
— Não está cansada?
— Não, claro que não… Adoro esta história; poderia continuar a ler durante horas.
Lola não sabe como fico feliz com essas palavras. Mas ainda diz algo mais:
— E sabe uma coisa, Alice? Gosto muito de a partilhar consigo.