O sexo das inocentes
TORNEI-ME ADOLESCENTE NUM TEMPO em que quase tudo o que dava prazer era considerado pecado. No colégio, corria o boato de que, perdida a virgindade, seria impossível encontrar marido, e uma freira irlandesa chegou a sugerir que, se nos sentássemos um dia ao colo de um rapaz, puséssemos uma revista pelo meio… Pior era não se poder fazer perguntas sobre sexo (usar a palavra já era um escândalo) nem haver sobre a matéria livros disponíveis, pelo que os mitos e a ignorância não podiam senão crescer e multiplicar-se. Lembro-me, por exemplo, de uma miúda com quem fazia ginástica pensar que as mulheres tinham de ser operadas à barriga para darem à luz, contando que uma vizinha não chegara a tempo à maternidade e tivera o bebé «como uma cadela». Já na faculdade, a um ano de terminar o curso, uma colega anunciou que não queria ter filhos porque com o parto «aquilo» alargava e nunca mais se tinha prazer. (E ia ser professora…) Mas não se pense que os rapazes sabiam muito mais do que nós, pois já não eram tempos de os pais os mandarem a um bordel de confiança, mas também ainda não havia assim tantas adolescentes dispostas a ter relações sexuais. Safavam-se os que tinham lábia ou a sorte de apanhar uma estrangeira de férias em Portugal à procura de um namorado de Verão — e, nesse aspecto, as suecas eram as que tinham fama de ser mais avançadas.
O sexo continua a ser um tema sobre o qual as pessoas fingem saber mais do que sabem — como, aliás, ilustra de forma brilhante uma cena do filme Um Amor Inevitável, em que Meg Ryan simula um orgasmo em pleno restaurante só para mostrar ao seu amigo Billy Crystal, que se acha óptimo na cama, como a mulher com quem ele esteve na véspera pode ter apenas fingido que gostou. Mesmo assim, na Europa os tabus relativos ao sexo praticamente desapareceram e a informação está toda à distância de meia dúzia de cliques. Pareceu-me, por isso, bastante supérfluo um filme publicitário com o título Viva la Vulva que circula na Internet, no qual ostras, bocas, frutos, cortinas entreabertas e moldes de plasticina entoam, com lábios pretensamente vaginais, uma canção que louva o facto de não haver duas vulvas iguais. OK, e daí?
A marca de produtos de higiene íntima que promove o filme avança com o argumento de que ninguém pode cuidar bem do que não conhece; e estudos recentes confirmam que 70% das mulheres não fazem a mais pequena ideia de como é uma (a sua) vagina. Acabo de descobrir que essa marca, ainda por cima, é sueca. Adeus, futuro.