A triste verdade sobre o Holocausto

EM PALOMAR, DE ITALO CALVINO, O PROTAGONISTA — cuja cabeça não pára um segundo de elaborar — tem sempre tantas opções à sua disposição sobre a atitude a tomar em determinado momento que, regra geral, a hesitação acaba por traí-lo, como acontece quando procura decidir entre passar e não passar ao lado de uma rapariga em topless e fica tanto tempo parado a olhar que ela se sente desconfortável e resolve ir-se embora.

Para quase tudo há — estou certa — mais de uma perspectiva; ainda assim, é preciso ser muito ignorante ou muito perverso para dizer que, apesar do número excessivo de livros sobre Auschwitz, todos eles são manifestamente fantasiosos, como ouvi a um jornalista português que crê ter escrito uma obra-prima imbatível sobre o assunto.

Infelizmente, não é o único a pensar assim: num inquérito divulgado pelo jornal britânico The Guardian, ficamos a saber que 23% dos adultos norte-americanos com idades compreendidas entre os 18 e os 39 anos acham que o Holocausto é um mito e que tudo o que o cinema e a literatura retratam sobre esse período é exagerado e próximo da lenda; 63% dos inquiridos a nível nacional desconhecem que seis milhões de judeus tenham morrido em guetos, prisões e campos durante a Segunda Guerra Mundial; 48% não conseguem, aliás, nomear um único campo de concentração ou de extermínio. A cereja no topo do bolo: quase dois terços dos adolescentes norte-americanos desconhecem a própria existência do Holocausto. (E ainda dizem que a palavra «Auschwitz» está nas capas de demasiados livros?)

Porém, se isto já é suficientemente chocante — porque demonstrativo da mais pura ignorância num tempo em que, ainda por cima, é tão fácil obter informação —, não é ainda o pior. Num país onde, como se sabe, vivem imensos judeus, muitos dos quais pertencentes a famílias que saíram da Europa nos anos quarenta, fugindo à barbárie e à perseguição, cerca de 11% dos americanos interrogados dizem que a culpa do Holocausto foi… dos judeus.

Enfim, a culpa é da educação, ou da falta dela, e a América, sempre a olhar para o próprio umbigo, está a esquecer cada vez mais depressa de onde veio a maior parte das famílias que hoje dominam a economia americana. Mas atenção: mais de 56% de todos os ignorantes que referi acima conhecem os símbolos nazis e já viram suásticas nas plataformas que habitualmente consultam. Adeus, futuro.