12. BAILE

Mello Moraes Filho (Serenatas e Saraus, I, Rio de Janeiro, 1902) divulgou o Baile da Aguardente, pequenino Auto participando dos Bailes Pastoris, cantados e dançados diante dos Presépios no ciclo do Natal. A cachaça atingira o mais alto nível na valorização popular motivando um folguedo cênico dedicado às intenções sentimentais de romarias em louvor do Deus Menino.

Um Guia, espécie de zagal, sentencioso e faceto, e quatro Pastoras, vivem o breve enredo, girando ao derredor do consumo da girimpana, do codório, irresistíveis. A aguardente já possui sinônimo de Caiana, denunciando elaboração posterior a 1810, quando chegaram ao Rio de Janeiro as primeiras mudas da cana-de-açúcar da Cayenne, capital da Guiana Francesa, então domínio português. Era chamada cana de Bourbon, denominando no Brasil a aguardente com ela obtida, no início do apelido:

Eu quero beber

Bebida humana,

Pois está em uso

A bela Caiana!

Girimpana, possível deturpação patusca da Jerebita, desapareceu no vocabulário cachaceiro. Codório, porção de líquido ingerível rapidamente, ainda resiste. João Ribeiro dava-lhe origem do latim de Missa, impiamente utilizado: Quod ore sumpsimus.

A simples ingenuidade do tema indica sua antiguidade, suficiente para atrair e distrair um auditório de pouca exigência literária. Era impressionante a permanência da sugestão poderosa, num indiscutível provocamento do Baile da Aguardente, apresentado em público no festivo dezembro sob a égide e homenagem ao nascimento de Cristo.