Sai o Guia, cantando:
Que prados tão florescentes
Neste dia de prazer!
Vinde já, oh! Camponeses,
A Jesus louvor render.
Volta.
Eu quero beber
Bebida humana,
Pois está em uso
A bela Caiana!
Fala o Guia:
Não se deve escurecer,
Nem se deve mais negar,
Que este modo de beber
Está pela gente boa:
Bem é que a minha pessoa
Também entre no louvado,
Se os mais não têm gostado,
Faço o que meu gosto pede,
Nem todo aquele que bebe,
Se pode chamar chumbado.
Saem duas Pastoras, cantando:
Não se encontra uma choupana,
Para a gente conviver,
N’estes desertos não há
Que comer, nem que beber.
Volta.
Se aqui encontrarmos
Alguma bebida,
Iremos contentes
Da nossa vida.
Fala a primeira Pastora para o Guia:
Você com esta garrafa
N’este caminho entretido,
Deixa ver se leva dentro
Algum codório sortido.
Segunda Pastora:
Senhor, deixe ver a prova
Desta bebida excelente;
Suando, não bebo vinho,
O melhor é aguardente.
Guia:
Não duvido de lhe dar,
Mas quero beber primeiro:
Não posso vender fiado,
Pois custou o meu dinheiro.
O Guia bebe e diz:
Lá vai a prova.
Primeira Pastora, bebendo:
Oh! que bebida tão santa!
Segunda Pastora, bebendo:
É gostosa a gerimpana.
O Guia recebe a garrafa e diz:
É forte a minha caiana.
Saem duas Pastoras, cantando:
Nossas maninhas já foram,
Que nos serviram de guia,
Vamos ver se encontramos
Para nossa companhia.
Volta.
Nós agora, manas,
Vamos tão suadas,
Pois há muitos dias
Não bebemos nada.
Fala a terceira Pastora:
Agora sim, minha mana,
Tenho a viagem vencida;
Pergunte àquele senhor
Se vende alguma bebida.
Segunda Pastora:
Ora veja, minha mana,
Já lhe tenho perguntado,
Ele, pois, me respondeu
Que nada vende fiado.
Guia:
Olhem, moças, como bebem,
Ponderem o tempo presente,
Não bebam demasiado,
A caiana mata a gente.
O Guia dá aguardente à terceira e quarta Pastoras.
Terceira Pastora, depois de beber:
Olhe, mana, é muito boa.
Quarta Pastora, depois de beber:
É gostosa, é excelente.
Guia:
Queria Deus n’estes caminhos
Vocês não fiquem conviventes.
Canta o Guia:
Esta aguardente
É nossos pecados,
Em bebendo os homens
Ficam descarados.
(Repetem todos o mesmo.)
Cantam as quatro Pastoras:
Quem n’esta era
Não bebe aguardente,
Não tem bom gosto,
Não é convivente.
(Repetem todos o mesmo.)
Canta o Guia:
A bela caiana
Sempre aplaudida
Para as gentes boas
É santa bebida.
(Repetem todos o mesmo.)
Cantam as Pastoras:
Quem n’esta era
Não bebe aguardente,
Não tem bom gosto,
Não é convivente.
(Repetem todos o mesmo e ficam todos bêbados.)
Todas as Pastoras:
Você, senhor convivente,
Não sabemos seu destino;
Você vai para Belém
Adorar o Deus Menino!
Guia:
Vejam como estão vocês
Da caiana tão tomadas:
Vocês não veem o presepe;
Como estão embriagadas!
Todas as Pastoras:
Já que chegamos a ver
Nascido o Infante Messias,
Demos graças e louvores
Com prazer e alegria.
A saúde deste gosto
Bebamos mais aguardente,
Para já de uma vez
Ficarmos mui conviventes.
Guia:
Deixemos de brincadeiras,
Vocês já estão chupadas;
Não bebam mais a caiana,
Sinão ficam descaradas.
Todas as Pastoras:
Está bem, vamos agora
Ao Sol Divino adorar;
Deixemos, pois, a caiana,
Para em casa se chupar.
Todos:
Agora sim, satisfeitos,
Com firme amor e contento,
Adoremos muito humildes
O Sagrado Nascimento.
Loa do Guia:
Meu Menino, tomai conta
Deste pastorzinho chupado,
Depois que a Belém chegou
Não se lembra mais de nada.
Loa da primeira a segunda Pastoras:
Meu Menino pequenino,
Eu estou muito melada;
Mas, com Vossa alta presença,
Não me lembro mais de nada.
Loa da primeira e segunda Pastoras:
Eu não deixo de estar
Com a cabeça mui pesada,
Mas, a vista do que vejo,
Não me lembro mais de nada.
Canta o Guia:
Louvores, aplausos,
Ao Deus Menino,
Humildes rendemos,
Que é o Sol Divino.
Lindas cantilenas,
Amor casto e fino,
Amantes rendemos
Ao Deus Menino.