13. O BAILE DA AGUARDENTE

Sai o Guia, cantando:

Que prados tão florescentes

Neste dia de prazer!

Vinde já, oh! Camponeses,

A Jesus louvor render.

Volta.

Eu quero beber

Bebida humana,

Pois está em uso

A bela Caiana!

Fala o Guia:

Não se deve escurecer,

Nem se deve mais negar,

Que este modo de beber

Está pela gente boa:

Bem é que a minha pessoa

Também entre no louvado,

Se os mais não têm gostado,

Faço o que meu gosto pede,

Nem todo aquele que bebe,

Se pode chamar chumbado.

Saem duas Pastoras, cantando:

Não se encontra uma choupana,

Para a gente conviver,

N’estes desertos não há

Que comer, nem que beber.

Volta.

Se aqui encontrarmos

Alguma bebida,

Iremos contentes

Da nossa vida.

Fala a primeira Pastora para o Guia:

Você com esta garrafa

N’este caminho entretido,

Deixa ver se leva dentro

Algum codório sortido.

Segunda Pastora:

Senhor, deixe ver a prova

Desta bebida excelente;

Suando, não bebo vinho,

O melhor é aguardente.

Guia:

Não duvido de lhe dar,

Mas quero beber primeiro:

Não posso vender fiado,

Pois custou o meu dinheiro.

O Guia bebe e diz:

Lá vai a prova.

Primeira Pastora, bebendo:

Oh! que bebida tão santa!

Segunda Pastora, bebendo:

É gostosa a gerimpana.

O Guia recebe a garrafa e diz:

É forte a minha caiana.

Saem duas Pastoras, cantando:

Nossas maninhas já foram,

Que nos serviram de guia,

Vamos ver se encontramos

Para nossa companhia.

Volta.

Nós agora, manas,

Vamos tão suadas,

Pois há muitos dias

Não bebemos nada.

Fala a terceira Pastora:

Agora sim, minha mana,

Tenho a viagem vencida;

Pergunte àquele senhor

Se vende alguma bebida.

Segunda Pastora:

Ora veja, minha mana,

Já lhe tenho perguntado,

Ele, pois, me respondeu

Que nada vende fiado.

Guia:

Olhem, moças, como bebem,

Ponderem o tempo presente,

Não bebam demasiado,

A caiana mata a gente.

O Guia dá aguardente à terceira e quarta Pastoras.

Terceira Pastora, depois de beber:

Olhe, mana, é muito boa.

Quarta Pastora, depois de beber:

É gostosa, é excelente.

Guia:

Queria Deus n’estes caminhos

Vocês não fiquem conviventes.

Canta o Guia:

Esta aguardente

É nossos pecados,

Em bebendo os homens

Ficam descarados.

(Repetem todos o mesmo.)

Cantam as quatro Pastoras:

Quem n’esta era

Não bebe aguardente,

Não tem bom gosto,

Não é convivente.

(Repetem todos o mesmo.)

Canta o Guia:

A bela caiana

Sempre aplaudida

Para as gentes boas

É santa bebida.

(Repetem todos o mesmo.)

Cantam as Pastoras:

Quem n’esta era

Não bebe aguardente,

Não tem bom gosto,

Não é convivente.

(Repetem todos o mesmo e ficam todos bêbados.)

Todas as Pastoras:

Você, senhor convivente,

Não sabemos seu destino;

Você vai para Belém

Adorar o Deus Menino!

Guia:

Vejam como estão vocês

Da caiana tão tomadas:

Vocês não veem o presepe;

Como estão embriagadas!

Todas as Pastoras:

Já que chegamos a ver

Nascido o Infante Messias,

Demos graças e louvores

Com prazer e alegria.

A saúde deste gosto

Bebamos mais aguardente,

Para já de uma vez

Ficarmos mui conviventes.

Guia:

Deixemos de brincadeiras,

Vocês já estão chupadas;

Não bebam mais a caiana,

Sinão ficam descaradas.

Todas as Pastoras:

Está bem, vamos agora

Ao Sol Divino adorar;

Deixemos, pois, a caiana,

Para em casa se chupar.

Todos:

Agora sim, satisfeitos,

Com firme amor e contento,

Adoremos muito humildes

O Sagrado Nascimento.

Loa do Guia:

Meu Menino, tomai conta

Deste pastorzinho chupado,

Depois que a Belém chegou

Não se lembra mais de nada.

Loa da primeira a segunda Pastoras:

Meu Menino pequenino,

Eu estou muito melada;

Mas, com Vossa alta presença,

Não me lembro mais de nada.

Loa da primeira e segunda Pastoras:

Eu não deixo de estar

Com a cabeça mui pesada,

Mas, a vista do que vejo,

Não me lembro mais de nada.

Canta o Guia:

Louvores, aplausos,

Ao Deus Menino,

Humildes rendemos,

Que é o Sol Divino.

Lindas cantilenas,

Amor casto e fino,

Amantes rendemos

Ao Deus Menino.