LUTA E RESISTÊNCIA POLÍTICA: A IMPRENSA FEMINISTA BRASILEIRA NOS ANOS 1970 E 80 37
Barbara Popadiuk
Elaine Schmitt
Karina Janz Woitowicz
Introdução
Folhear um jornal é um modo de remontar fragmentos de uma história enquanto ela está se desenrolando. Por proporcionar um registro – sempre parcial – do cotidiano, marcado por tensões, disputas e elementos de um determinado contexto, o jornal se apresenta ao mesmo tempo como um importante objeto e uma fonte para a pesquisa histórica.
Enquanto um modo de construção da realidade (ALSINA, 2009), o jornalismo estabelece um tipo de vínculo ou interdependência em relação às instituições e às esferas de poder, que interferem na produção de um conhecimento singular do mundo, constituindo versões que tendem a se tornar hegemônicas. Em certos momentos históricos, em que o controle da imprensa serviu como forma de legitimação do poder instituído pela força, a relação entre democracia e liberdade de expressão se tornou evidente. Foi o que aconteceu durante a ditadura militar no Brasil, que nos chamados “anos de chumbo” (1964-1985) promoveu ataques aos direitos humanos, perseguições, torturas e mortes a opositores, contando com o apoio ou silenciamento da grande mídia, seja por medo ou conivência.
Contudo, não se pode dizer que houve um discurso único e consensual de defesa dos militares que reverberou em todos os espaços de mídia, formando uma opinião pública favorável ao governo. Houve resistência em todas as partes do país: nas brechas do discurso oficial, por iniciativa de jornalistas que atuavam nos meios censurados, e na vigorosa imprensa alternativa e/ou independente que surge como espaço de oposição política e ousa desafiar o poder principalmente nos períodos mais duros do regime, após o Ato Institucional n.º 5, em 1968.
O que dizer, então, dos jornais e boletins informativos que circulam às margens das estruturas de poder e promovem discursos dissonantes? Como eles participam do processo de construção da realidade social e histórica? A imprensa alternativa ou independente – no sentido de distanciar-se das relações de dominação para ver-se livre de compromissos mercadológicos –, produzida no período da ditadura militar brasileira, é reveladora do processo de organização da sociedade a partir de grupos e setores que se mobilizam para lutar pela democracia.
O foco do presente texto valoriza as narrativas contra-hegemônicas protagonizadas por uma parcela dessa imprensa que colocava em pauta as demandas do movimento de mulheres. Tratam-se de jornais na maioria das vezes de pequena circulação, produzidos sem estrutura financeira ou mesmo profissional, com envolvimento de mulheres militantes que entendiam exatamente o papel da imprensa na defesa da democracia: informar, denunciar, promover o debate, formar a opinião, mobilizar as pessoas, contrapor versões dos acontecimentos. E constituir um espaço próprio para que as mulheres pudessem se fazer ouvir, em uma clara percepção de que feminismo e democracia demandavam uma luta conjunta. Eis que emergia a imprensa feminista de 1970 e 80.
Pretende-se, portanto, discutir o fortalecimento do movimento feminista a partir de suas publicações impressas, entendendo que se tratam de fontes para observação das dinâmicas sociais que marcaram os anos 1970 e 80. Para tanto, são trazidas referências sobre a trajetória do feminismo e o papel da mídia alternativa e independente na visibilidade das lutas das mulheres e no próprio processo de organização dos grupos feministas, de modo a situar historiograficamente o debate sobre os conflitos que marcaram o período.
Com base em uma pesquisa documental realizada junto ao acervo de periódicos do Laboratório de Estudos de Gênero e História da Universidade Federal de Santa Catarina (LEGH/UFSC) e aos documentos do Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria) 38 , buscou-se discutir a atuação da imprensa feminista na articulação e projeção das lutas feministas, com base no mapeamento dos principais jornais que circularam no Brasil durante a ditadura militar e nos primeiros anos de abertura política. Dessa forma, serão apresentadas informações sobre os locais onde foram produzidos, orientação editorial, bem como as principais temáticas e lutas travadas em suas páginas. A partir desse levantamento, discute-se a existência de veículos em diferentes regiões do país e o modo como a imprensa feminista permitiu um tipo de articulação em rede, conectando grupos e demandas das mulheres por meio da ação discursiva.
Ao traçar algumas informações sobre a história de veículos feministas e suas bandeiras, buscou-se lançar luz sobre o processo gradativo de conquista de espaço para tematizar, em meio à ditadura, os direitos das mulheres. Trata-se de uma história que compõe um cenário de lutas pela resistência que contou com o papel decisivo da imprensa não hegemônica para instituir na esfera pública as demandas pela cidadania das mulheres, conjugada com transformações no campo da política.
Muitas dessas experiências de imprensa feminista permanecem invisíveis ou pouco conhecidas, e certamente há diversos outros jornais e boletins produzidos em distintos lugares deste país que não integram este trabalho, por não estarem disponíveis nos acervos mencionados. Portanto, a discussão em pauta, longe de oferecer um retrato do que foi a imprensa feminista do período em questão, busca recompor alguns fragmentos de uma imprensa que, décadas atrás, constituiu as bases do movimento feminista no Brasil.
Jornalismo alternativo, lugar de militância feminista
Pode-se dizer que, em meio às pautas de crítica e denúncia às situações de opressão vivenciadas durante a ditadura militar, a imprensa alternativa atuou na defesa dos interesses e demandas de diversos movimentos sociais. As questões feministas também encontravam espaço nesses veículos, o que permitiu, em determinados momentos, o estabelecimento de vínculos de solidariedade entre os diferentes grupos e movimentos que integravam a luta pela democracia.
Porém essa solidariedade nem sempre se mostrou plena e irrestrita, pois ao mesmo tempo que a imprensa alternativa e independente dava espaço para as causas feministas e assumia a defesa dos direitos das mulheres, por vezes recaía em contradições, próprias das disputas no interior do movimento de esquerda (WOITOWICZ, 2009). Céli Pinto (2003, p. 64) recupera a imagem do feminismo na época e analisa o tratamento dado por alguns representantes dessa imprensa às questões relativas às mulheres: 39
O feminismo era malvisto no Brasil, pelos militares, pela esquerda, por uma sociedade culturalmente atrasada e sexista que se expressava tanto entre os generais de plantão como em uma esquerda intelectualizada cujo melhor representante era justamente o jornal Pasquim , que associava a liberalização dos costumes a uma vulgarização na forma de tratar a mulher e a um constante deboche em relação a tudo que fosse ligado ao feminismo. (PINTO, 2003, p. 64).
A difícil inserção sobre a temática mulheres na imprensa do período, que além da esquerda, somava-se à da censura militar, é discutida também por Teles e Leite (2013), ao relembrarem quando, em 1976, o jornal alternativo Movimento teve sua 45.ª edição vetada por abordar, especialmente, o trabalho da mulher no Brasil. Nesse caso, comentam as autoras, “até as tabelas com os dados estatísticos elaborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram censuradas” (TELES; LEITE, 2013, p. 143).
As contradições presentes na própria imprensa alternativa reforçaram a urgente necessidade de o movimento feminista criar seus próprios veículos, reconhecendo a importância de valorizar um discurso capaz de promover o debate sobre as chamadas “causas específicas” das mulheres. As diferentes experiências de comunicação que marcaram a história do movimento, notadamente entre os anos 1970 e 80, revelam esse tipo de mídia como um lugar de resistência que atua no fortalecimento das causas do movimento e do ideal de democracia a ser conquistado no país, no espaço privado e nas relações cotidianas.
O feminismo no período é marcado por importantes debates e conquistas que se efetivaram como resultado das práticas de organização e resistência feminista, como na criação do Grupo Latino-Americano das Mulheres em Paris e do boletim informativo Nosotras , conforme descreve Rosa (2013, p 154):
Apesar das condições precárias, o entusiasmo e a disposição para criar algo novo frente às capturas incessantes dos aparelhos do estado e da normatização de uma sociedade patriarcal fizeram com que as mulheres do Grupo criassem um jornal-boletim, difundindo as ideias feministas.
Suas publicações, no entanto, pareciam ir além de denúncias, uma vez que eram frequentes propostas de ações e saídas que transformassem, com urgência, a “face do mundo”.
Além do Nosotras , do Grupo Latino-Americano, houve também a criação do jornal Zero, elaborado pelo Círculo de Mulheres de Paris. O objetivo era produzir uma tribuna de debates que oportunizasse a socialização de experiências tanto individuais quanto dos subgrupos, propondo a reflexões sobre as relações existentes dentro do movimento internacional de mulheres. Na figura abaixo, podemos ver os direcionamentos datilografados que organizavam a futura criação do jornal:
Figura 1 : Registro em ata da organização para a criação do jornal Zero do Círculo de Mulheres em Paris
Fonte : Acervo do LEGH/UFSC
Temáticas como igualdade no âmbito do trabalho, direito a creche, combate à violência doméstica, sexualidade e direito ao corpo, aborto e direitos reprodutivos, participação política, entre diversas outras, fazem parte das bandeiras e ações do movimento, tanto no Brasil quanto em grande parte do mundo ocidental.
Diante da criação de grupos feministas brasileiros, foram lançadas publicações entre o final dos anos 1970 e o início dos 80 que, com orientações editoriais distintas, inseriram o debate sobre diversas questões feministas nos meios da política, da intelectualidade e em setores de base.
As experiências dos grupos feministas e de mulheres apontavam cada vez mais para a necessidade de criar um discurso próprio, que deu origem às experiências de imprensa feminista (WOITOWICZ, 2014). Em um Encontro do Movimento das Mulheres no Brasil, realizado no Rio de Janeiro em agosto de 1981, entre as temáticas discutidas ganhava destaque a comunicação. O evento, registrado no livro Mulheres em Movimento , discutiu o papel educativo dos meios de comunicação, considerando que cumprem “não apenas o seu sentido conservador de reprodução da ideologia dominante, mas também, o seu sentido de mudança enquanto focos de resistência e propagadores das novas ideias e valores” (BARSTED, 1983, p. 13).
Ao abordar a importância da criação ou reapropriação da mídia, Leila Barsted observa que na década de 1970 novos espaços foram sendo criados para o discurso das mulheres, a partir de meios variados: revistas, boletins, jornais alternativos, luta por espaço dentro da grande imprensa, do rádio, da televisão e do cinema. Para ela, “os veículos de comunicação se apresentam inseridos numa estratégia de educação do movimento feminista, de recriação da identidade social da mulher e de resgate de nossa história” (BARSTED, 1983, p. 16).
A necessidade de uma imprensa feminista própria colocou-se, assim, a partir da consciência de que os meios tradicionais de comunicação, esfera de atuação dos donos do poder, e até mesmo alguns setores da imprensa alternativa, ou ignoram a mulher, ou reforçam os estereótipos discriminatórios a seu respeito, ou a manipulam enquanto objeto de consumo-consumidora. Ou seja, negam a existência de um falar feminino e, portanto, de uma mulher sujeito de sua fala e de seu desejo. (BARSTED, 1983, p. 14).
Entre as experiências de imprensa alternativa feminista 40 , destacam-se os primeiros jornais produzidos no final dos anos 1970: Brasil Mulher (1975-1979) e Nós Mulheres (1976-1978). Além desses veículos, existiram muitas outras experiências do movimento de mulheres e feministas, como as publicações Maria Quitéria (1977) 41 , Correio da Mulher (1979), Liberta (Porto Alegre, 1980), Mulherio (1981-1987), Chanacomchana (1982) 42 , Mulher ABC , o goiano Mariação , as revistas Fotochoq e Maria Sem Vergonha , além de programas de rádio e boletins criados por grupos feministas em diferentes regiões do país. O jornal Liberta , criado por Sônia Weidner Maluf e Diná Lemos no contexto universitário do Rio Grande do Sul, tinha como principais pautas a luta por creches dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a divulgação do movimento feminista no Brasil: “[...] a gente fazia mais de reflexão falando de bases literárias, falando de sexualidade, falando de virgindade, que era uma discussão muito presente pra gente. Virgindade, sexualidade, prazer e muito dessa influência de leitura reichiana”, relata Sônia Weidner Maluf (2006) em entrevista.
Sobre os esforços para a produção, Sônia relembra o uso de mimeógrafos à tinta com matrizes perfuradas e as estratégias elaboradas para a compra de materiais:
[...] a gente passava o chapéu pra conseguir papel, pra conseguir matriz, e a mão de obra era nossa. Então a gente passava a noite rodando jornal. O que a gente fazia muito era festa, o ‘Liberta’ organizava festa e cobrava entrada. As festas do ‘Liberta’ eram famosas. A gente pedia um CA [Centro Acadêmico] emprestado, salão de algum CA emprestado, fazia a festa, cobrava ingresso, trabalhava uma noite inteira, vendia no bar cerveja, não sei o quê, e juntava uma grana que dava pra fazer um ou dois números do jornal. Outra coisa que a gente fez foi pegar livros relacionados a mulher, com editoras, livrarias e tal, e vender e ficar com uma parte p ro grupo.
É possível perceber que o movimento feminista, à medida que se constitui como um espaço de resistência e luta em defesa das mulheres, passou a incorporar em suas ações diversas práticas relacionadas aos processos midiáticos. Os jornais, a partir de distintas orientações – que circulam entre o enfoque político, a luta de classes e questões ligadas à desigualdade entre homens e mulheres –, promoveram o debate sobre as causas do feminismo a partir da publicização de determinados assuntos na esfera pública (WOITOWICZ, 2014).
A partir disso, podemos compreender a imprensa feminista de 1970 e 80 para além de uma experiência jornalística que, em tese, seria formada por jornalistas e estruturada a partir de processos de produção e noticiabilidade determinadas pela prática profissional. Nesse momento, a urgência em comunicar outros discursos, muitas vezes de forma clandestina, transgredia qualquer lógica estabelecida profissionalmente, conforme relata Rosalina Santa Cruz Leite:
Não éramos jornalistas, éramos políticas, todas militantes de algumas ações diferentes, inclusive e aprendendo a ser feminista [e] o jornal [Brasil Mulher] é muito interessante porque mostra que éramos jovens. A maioria estava tendo o seu primeiro filho, éramos mães e estávamos tendo um contato direto com a periferia e clubes de mães. Foi ali que começamos a fazer um feminismo de base. (LEITE, 2017, s/p).
De acordo com Elizabeth Cardoso (2004), a imprensa feminista é um fenômeno nacional, presente em praticamente todas as regiões do país, que atravessou diferentes fases para sua consolidação durante a ditadura militar e após a abertura política do país. Na pesquisa de campo realizada pela autora em acervos históricos foram catalogados 75 periódicos feministas, entre boletins, revistas e jornais de todo o Brasil.
[...] não foi registrado nenhum título da região Norte; foram encontrados sete títulos na região Sul (cinco do Paraná e dois do Rio Grande do Sul); oito títulos originários da região Centro-Oeste (cinco do Distrito Federal, um do Mato Grosso e dois de Goiás); foram encontradas 12 publicações feministas editadas na região Nordeste (cinco de Pernambuco, três da Bahia, uma do Piauí, uma da Paraíba e duas do Rio Grande do Norte); e 46 títulos feministas foram publicados na região Sudeste (28 da capital paulista, seis na região do ABCD, três do interior de São Paulo, quatro do Rio de Janeiro e cinco de Belo Horizonte). (CARDOSO, 2004, p. 50).
Com base nesses registros, observa-se que o fenômeno da imprensa alternativa encontrou nas experiências feministas um importante espaço de organização, mobilização e luta. E, como seria impossível abordar todas as publicações que representam as lutas do movimento no período considerado, serão apresentados a seguir alguns aspectos dos jornais que fazem parte do acervo utilizado no projeto “Mulheres de luta: feminismo e esquerdas no Brasil (1964-1985)”, que ilustram, em sua diversidade, o papel assumido pela imprensa no interior dos movimentos sociais como uma voz que visibiliza conflitos e produz disputas de sentido.
Características da imprensa feminista: os jornais na construção do movimento
A coleta do material de pesquisa documental que embasa este trabalho foi realizada em etapas, uma delas se deu por pesquisas na internet, que permitiram acesso a arquivos on-line dos exemplares de dois jornais digitalizados: Mulherio 43 e Nós Mulheres 44 , além de edições avulsas do Chanacomchana 45 . O acervo acadêmico de pesquisa do Laboratório de Estudos de Gênero e História (LEGH) da Universidade Federal de Santa Catarina, que é, também, composto por materiais doados pelo Centro de Informação da Mulher (CIM) e pelo Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), contribuiu com a maior parte dos veículos analisados. Seu conteúdo foi disponibilizado por pesquisadoras e pesquisadores ao longo dos anos, a partir de pesquisas que permitiram, entre outros tipos de documentos, o acesso aos periódicos feministas, ainda que em alguns casos de forma incompleta. Por meio dessas consultas foi possível identificar 13 periódicos de curta e média duração que circularam durante a ditadura civil-militar no Brasil: Brasil Mulher , Nós Mulheres , Mulherio , Mulher Paulista , Bennet Informa , Jornal Brasília Mulher , Cadernos da Mulher , Jornal Maria , Jornal Mulher CECF , Espaço Mulher , Jornal da Mulher, Nzinga Informativo e Chanacomchana .
Imagem 1 : Capas de jornais feministas
Fonte : Arquivo do LEGH/UFSC
Organização : As autoras, 2019
Outra forma de levantamento do material foi uma busca pelos arquivos do Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria), localizado em Curitiba/PR. Nesse Centro, publicações de diversos movimentos sociais de variados anos e temas (inclusive estados/países) estão arquivadas. Além de jornais, esse arquivo engloba boletins, cartilhas de movimentos sociais, folhetos, registros de eventos, materiais educativos e outras publicações que revelam as variadas práticas de comunicação presentes nas ações do movimento feminista e de mulheres (urbanas e rurais). No levantamento para esta pesquisa, seis iniciativas de imprensa feminista foram encontradas: Revista Vivência , Jornal da Mulher (Cabo) , Lua Nova , Mulher , Presença da Mulher e Mulher Teresina .
Ao todo, 19 experiências de jornais alternativos feministas integram este trabalho. A maior parte desses periódicos foi produzida no Sul e Sudeste do Brasil, mas a pesquisa demonstra que a produção não circulava apenas nesses espaços, sendo identificados periódicos que existiam nas regiões Norte, Nordeste e no Distrito Federal.
De acordo com pesquisa bibliográfica e análise documental, até certo momento, a relação direta com os partidos de esquerda determinou a participação das mulheres na luta contra o regime. Segundo Celi Pinto (2003), o afastamento dos partidos aconteceu pela percepção das mulheres de que não tinham a devida voz nesses espaços para discutir as reivindicações feministas. “A esquerda exilada, marxista e masculina via no feminismo uma dupla ameaça: a unidade da luta do proletariado para derrotar o capitalismo e ao próprio poder que os homens exerciam dentro dessas organizações e em suas relações pessoais” (PINTO, 2003, p. 53).
Elizabeth Cardoso (2004) indica que dois acontecimentos simbolizaram alterações na imprensa feminista: o II e III Congresso da Mulher Paulista, em 1980 e 1981, respectivamente. Os eventos efetivaram a ruptura dos movimentos com os partidos de esquerda. Assim, a liberdade de enfocar e aprofundar os temas específicos das mulheres ganhou força.
Cardoso ainda categoriza a imprensa feminista pós 1974 em duas fases: a primeira e a segunda geração. Com duração de seis anos, a primeira ligaria o debate entre questão da mulher versus questões gerais e o combate à ditadura. A segunda geração (1981-1999) assumiria questões exclusivas das mulheres, incorporando o conceito de gênero.
As características dos jornais, no que se refere ao papel que assumiam e mesmo ao modo como eram produzidos, aproximam-se bastante. Em relação à periodicidade, na grande maioria das vezes não foi possível identificar esse dado devido à inconstância das publicações, uma característica da imprensa alternativa da época, dadas as dificuldades – técnicas, financeiras, de pessoal e também relativas à censura – para fazer circular os jornais. A limitação financeira enfrentada pela imprensa feminista é mencionada por Rosalina Leite (2003, p. 237), que analisa que a periodicidade do Brasil Mulher e do Nós Mulheres foi prejudicada pela dificuldade de conciliar a publicidade com os objetivos de militância. Além das campanhas de apoio aos jornais, ambos propagandeavam os demais órgãos da imprensa alternativa, o que denotava o esforço para fortalecer esses espaços, comum entre os veículos que circularam durante a ditadura militar.
Podemos observar na Tabela 1 alguns aspectos sobre as experiências de imprensa feminista, como os jornais existentes, os locais onde foram produzidos, o período em que circularam e o número médio de páginas, que contribuem para um mapeamento inicial das publicações.
Tabela 1 : Informações sobre os jornais feministas
Jornal
Local de produção
Período de
circulação
Nº de páginas
Brasil Mulher
Londrina/PR –
São Paulo/SP
1975-1979
Média de 16
Nós Mulheres
São Paulo/SP
1976-1978
Média de 14
Mulherio
São Paulo/SP
1981-1988
Média de 22
Mulher Paulista
São Paulo/SP
1981
Média de 04
Chanacomchana
São Paulo/SP
1981-1986
Média de 20
Bennet Informa
Rio de Janeiro/RJ
1982
Média de 04
Jornal Brasília Mulher
Brasília/DF
1982-1983
Média de 06
Cadernos da Mulher
Curitiba/PR
1984
Média de 06
Jornal Maria
Curitiba/PR
1984
Média de 08
Mulher (Teresina)
Teresina/PI
1984
Média de 04
Jornal Mulher CECF
São Paulo/SP
1984-85
Média de 20
Espaço Mulher
São Bernardo d o Campo/SP
1985
Média de 08
Jornal da Mulher
Curitiba/PR
1985
Média de 08
Nzinga Informativo
Rio de Janeiro/RJ
1985-86/1988-89
Média de 09
Mulher
Rio de Janeiro/RJ
1986
Média de 12
Presença da mulher
Manaus/AM
1986
Média de 36
Revista Vivência
Campinas/SP
1988
Média de 24
Jornal da Mulher (Cabo)
Cabo/PE
1989
Média de 04
Lua Nova
Porto Alegre/RS
1989
Média de 10
Fonte : as autoras, 2019.
Nessa classificação, a primeira geração de periódicos está representada apenas por Brasil Mulher e Nós Mulheres . Como já mencionado, esses veículos buscavam conferir protagonismo às mulheres, ao mesmo tempo que conjugavam lutas específicas com a resistência à ditadura. Ambos os jornais encerraram sua publicação no final dos anos 1970 e são os mais citados como exemplos de imprensa feminista alternativa desse momento histórico.
Em sua análise das origens da imprensa feminista brasileira, com os jornais Brasil Mulher e Nós Mulheres , Rosalina de Santa Cruz Leite (2003) assim descreve o contexto em que os jornais se desenvolveram:
Mulheres que se auto-organizam nas periferias, em busca da garantia de direitos sociais, e as feministas preocupadas com a emancipação feminina, a discriminação, a sexualidade, o poder, reinventando uma nova forma de fazer política junto com a luta reivindicativa das classes populares. Só assim pode-se entender o papel desempenhado pelos jornais Brasil Mulher e Nós Mulheres nessa conjuntura. (LEITE, 2003, p. 238).
A autora observa que os dois jornais refletem um “período histórico muito intenso e marcado por transformações rápidas e profundas” (LEITE, 2003, p. 237) e destaca como características das publicações as marcas da autonomia e da contestação à ordem social da época. As feministas que participaram dos referidos jornais eram majoritariamente militantes oriundas da esquerda, o que caracteriza os impasses em torno da dupla militância na formação dos jornais Brasil Mulher e Nós Mulheres . 46
No Brasil Mulher 47 , que publicou 16 edições regulares e mais quatro “extras” ao longo de sua existência, o destaque é para o discurso da igualdade e das lutas pelas causas democráticas, que envolvem homens e mulheres. Segundo Elizabeth Cardoso, o Brasil Mulher :
É o primeiro jornal feminista brasileiro feito no Brasil e traz a gênese do debate entre mulheres feministas e mulheres militantes de esquerda: a situação clássica de dupla militância do movimento feminista no período de 1974 a 1980. Editado bimestralmente, em formato tablóide, contendo 16 páginas em preto-e-branco e ilustrado com fotos, item muito valorizado pela publicação, o Brasil Mulher tinha tiragem de 10 mil exemplares, com circulação nacional e venda em bancas, livrarias e por assinatura. Sua publicação cessa em março de 1980. (CARDOSO, 2004, p. 43).
Já o Nós Mulheres , lançado um ano depois, tendo como jornalista responsável Anamárcia Veinsecher, publica oito edições no período de 1976 a 78, assume-se como feminista e enfatiza o comprometimento com questões específicas das mulheres, a partir das quais desenvolve, ao longo da sua existência, um importante trabalho com mulheres de classes populares. De acordo com Bernardo Kucinski (2003, p. 128), o jornal possuía “uma base de ativismo mais ampla do que a do Brasil Mulher , incluindo membros de clubes de mães engajadas em lutas por creches na zona sul de São Paulo”. Sua matriz ideológica, segundo o autor, era “o paradigma clássico das esquerdas, mas com autonomia clara para a luta feminista” (KUCINSKI, 2003, p. 128). Nas suas páginas, revela-se o comprometimento contra a opressão de sexo e de classe, e a defesa do feminismo da igualdade.
Amelinha Teles relembra o alcance periférico que o movimento feminista teve na época, também a partir dos clubes de mães – que contou com a ajuda financeira de um padre:
No dia do jornal a gente ficava a noite toda na gráfica, fazendo. Depois a gente ia levar para as bancas de jornal pra distribuir nos bairros, nos sindicatos. E depois a gente fazia avaliação [...]. Ai, eu fazia leitura em dezoito clubes de mães [...]. Eu levava 150 jornais. Quem dava o dinheiro era o padre, ele falava assim ‘você não tá falando de aborto né?’ e eu dizia ‘de jeito nenhum!’. A gente estava falando né, claro. Inclusive assim, eu aprendi o seguinte: que eu nunca precisava falar nada, as mulheres que falavam, eu só respondia. Eu nunca precisei falar de aborto. Que o padre falava assim: ‘não pode falar de aborto’ Ai um dia tá lá... todo mundo discutindo aborto. Aí o padre falou assim ‘mas eu falei pra você que não pode discutir aborto e você tá discutindo’. Eu falei assim: ‘não, eu não falei, mas as mulheres tão falando e não posso falar coisas que elas não podem falar. Uma coisa é eu falar, outra coisa é elas falarem’. E ele falou ‘ah, então tá’. (TELES, 2017, s/p).
A produção desses dois veículos está concentrada em São Paulo, apesar de o Brasil Mulher ter começado suas atividades em Londrina, no Paraná. O Brasil Mulher e o Nós Mulheres foram produzidos por associações: Sociedade Brasil Mulher e Associação das Mulheres, respectivamente. Esse aspecto reflete o processo de organização do movimento em agrupamentos ou coletivos de mulheres que atuam no período ditatorial.
Conforme observado a partir do levantamento dos principais temas presentes nos textos informativos dos dois jornais, o conteúdo se aproxima da constatação de Cardoso (2004), uma vez que parte considerável de suas produções remete à situação política do país. Das 51 matérias analisadas do Brasil Mulher , trabalho e situação política atingem a maior marca de publicações: 22 conteúdos (21.5%). Outros temas se destacam, como saúde (7 publicações, 13,7%) e educação (6 publicações, 11,7%).
O jornal Nós Mulheres apresenta proximidade temática com os conteúdos publicados no Brasil Mulher . Foram analisadas 65 matérias, e destas, os temas de destaque foram trabalho (18 conteúdos, 27,7%) e situação política (10 publicações, 16,9%).
A segunda geração da imprensa feminista engloba, no contexto deste trabalho, os demais jornais analisados, que totalizam 17 publicações. Para Cardoso (2004), nos anos 1980 os assuntos e demandas das mulheres tiveram algumas mudanças, a partir do processo de abertura política, possibilitando às mulheres discutirem sobre temas mais específicos dos movimentos. Assim, cada informativo ou jornal dava vazão a temas que não necessariamente eram tratados da mesma maneira pelos outros veículos, em razão de um maior direcionamento das lutas.
Assim, em uma conjuntura política um pouco mais aberta ao diálogo sobre questões específicas das mulheres, e menos marcada pela militância de esquerda, surge em São Paulo, no início de 1981, o jornal Mulherio , como a concretização de um antigo projeto de algumas pesquisadoras da Fundação Carlos Chagas, que se dedicavam ao estudo da condição feminina no Brasil. Fundado por Adélia Borges e conhecido como “o mais duradouro e o mais feminista dos jornais feministas” (KUCINSKI, 2003, p. 129), Mulherio fugia do modelo organizativo da imprensa alternativa dos anos 1970, contando com o suporte de uma entidade. O jornal não era ligado a nenhum grupo feminista em particular; ele era formado por mulheres de vários grupos e dava destaque para questões relacionadas a comportamento e sexualidade, sendo publicadas 39 edições bimestrais ao longo de seis anos.
Nessa segunda geração de jornais, percebe-se uma rede maior de publicações feministas, o que indica uma aproximação das mulheres aos movimentos e a criação de novas frentes de atuação, com a luta pelo fim da ditadura e pela efetivação dos direitos das mulheres na democracia.
Além de experiências que dizem respeito a grupos que se formaram a partir da criação de um veículo, o que se destacam no período são as iniciativas de produção de jornais como uma prática comum de diversos grupos feministas. Muitas vezes de forma artesanal e com poucos recursos, esses veículos eram publicados com o firme propósito de divulgar a causa feminista, dentro e fora do movimento.
Nas publicações identificadas nesse mapeamento, observa-se que, além da tematização diferenciada da primeira geração, é possível encontrar características mais específicas dentro do próprio movimento, como é o caso do Jornal Nzinga Informativo , que acaba direcionando suas discussões para o feminismo negro e o combate ao racismo, e do Chanacomchana , vinculado ao feminismo lésbico.
A produção desses jornais é variada e apresenta interessantes singularidades. Várias das equipes que produzem esses periódicos são relacionadas a comissões de saúde, grupos de mulheres e universidades. Como exemplo, o Conselho Municipal de Condição Feminina de Curitiba/PR e o Estadual de São Paulo/SP produziam o Jornal da Mulher e Mulher CECF, respectivamente. O Espaço Mulher tem um caráter universitário, sendo produzido pelo Núcleo de Memória Popular do ABC – Instituto Metodista de Ensino Superior. Outras publicações são relacionadas a grupos e movimentos, como o Brasília Mulher (Grupo Brasília Mulher), Jornal Maria (Movimento de Mulheres 8 de Março), Chanacomchana (Galf – Grupo de Ação Lésbico-Feminista) e Lua Nova , que era produzido a partir do Núcleo de Ação Sindical e Feminista, de Porto Alegre/RS.
Pode-se perceber, dessa maneira, a atuação dos coletivos e grupos de mulheres na produção dos conteúdos diversos que compõem bandeiras e lutas do movimento feminista. Além de uma produção jornalística, esses conteúdos abordam diversas áreas que são ocupadas também por mulheres, como literatura e cinema.
Grande parte dos arquivos levantados da segunda geração possui poucas edições ou até mesmo um único exemplar. Isso se deve ao próprio momento em que foram produzidos, à dificuldade de armazenamento, à pequena circulação que alguns periódicos tinham e mesmo à falta de registro de experiências de imprensa alternativa no país. Percebe-se que as ligações com movimentos ou grupos institucionais definia as suas pautas e até o momento da produção. Jornais como Lua Nova e Brasília Mulher , que estão ligados a movimentos e grupos de mulheres, delimitam seus conteúdos a partir das discussões internas do movimento, ou da publicização de eventos importantes como Encontros Feministas e outros tipos de ação. Outra finalidade desses jornais é o agendamento das atividades dos próprios movimentos, grupos de mulheres e Conselhos institucionais.
É interessante pontuar que os movimentos referentes ao dia 8 de março refletem em uma parte significativa de publicações, ganhando destaque na cobertura da imprensa alternativa. Alguns jornais surgiram e tiveram sua primeira publicação motivada por esse marco das lutas das mulheres, outros fazem um apanhado histórico ou ocupam uma edição inteira como especial do Dia Internacional da Mulher, como o jornal Bennet Informa .
Um ponto interessante, presente em diversas publicações, é a interação entre as leitoras desses periódicos. Alguns jornais reproduzem a coluna de cartas para que as leitoras possam fortalecer canais de diálogo e expressão em torno dos assuntos abordados e do próprio movimento. Na revista Presença da Mulher e nos jornais Mulherio e Chanacomchana, essa coluna se mantém ativa para a criação de um vínculo entre as mulheres. O Jornal da Mulher do Cabo, por exemplo, pede para que as leitoras enviem cartas com sugestões, críticas e outros comentários, com o intuito de fortalecer a organização e a comunicação.
Entre as dificuldades para produção de um jornal, a periodicidade é uma questão a ser observada. Grande parte das produções tem uma regularidade interrompida, com meses ou edições que acabaram não sendo produzidas. Uma das justificativas para essa descontinuidade é a falta de recursos para a produção das publicações, aspecto relatado em diversas edições da imprensa alternativa.
Dificuldades orçamentárias para a impressão e circulação dos jornais, limitações de equipe para produção do material e impasses que a conjuntura política do período apresenta para essas mulheres concretiza o desafio de fazer jornais como parte da resistência feminista. Mesmo o Mulherio , que é considerado um dos maiores jornais feministas, também passa por questões de financiamento. Desde as primeiras edições, o jornal pede às leitoras que assinem o periódico e deixa claro que essa ação faz com que seja possível continuar a produção do veículo.
Esse é o exemplo de um jornal que possuía pontos de venda e o apoio de uma fundação (Carlos Chagas). Outros jornais que circularam no mesmo período não tinham a mesma condição. O Nzinga Informativo teve diversos percalços para sua continuidade, e é possível observar essa questão a partir da distância temporal de uma publicação a outra. Nas últimas edições recolhidas pode-se destacar os agradecimentos a sindicatos que auxiliaram na produção dos jornais, o que revela um tipo de vínculo e colaboração no interior dos movimentos sociais.
Os temas da segunda geração de publicações são mais variados e indicam a consolidação dos movimentos de mulheres e a busca pela efetivação de políticas públicas. Nesse período, a discussão de raça fica mais evidente no Mulherio e Nzinga Informativo , se comparada com as publicações anteriores aos anos 80. Autonomia das mulheres, saúde, direitos reprodutivos e direito ao corpo também são temas que se desenvolvem nesse período.
Contudo é importante considerar que o debate em torno da situação política se manteve presente nas diversas publicações da imprensa feminista, mesmo após o fim da ditadura civil-militar. A abertura política motivou discussões em torno da garantia dos direitos das mulheres na Constituinte, em um momento em que o movimento feminista caminha para a institucionalização (PINTO, 2003). Os conteúdos da imprensa feminista passam então a refletir as demandas das mulheres, construídas ao longo do processo de organização do movimento, e a necessidade de manter em pauta as lutas históricas por direitos.
Além do caráter diversificado da imprensa feminista, outro aspecto que a caracteriza diz respeito às relações mantidas com diversos movimentos e, mesmo, com outros periódicos alternativos. É possível identificar, de forma recorrente, a menção a temas tratados em outros jornais, brasileiros ou de países da América Latina, que também possuíam uma produção voltada aos direitos das mulheres. A indicação de leituras de outras produções que possuíam sintonia com a linha editorial dos periódicos reflete o sentido de colaboração e integração no interior do movimento feminista que se fortalece com a ação da imprensa.
Considerações finais
As lutas das mulheres durante e mesmo após a ditadura se entrelaçam com os discursos de resistência produzidos pela imprensa alternativa, revelando uma forma particular de ação política. Sustentadas no papel de mobilização e visibilidade do feminismo, as práticas de comunicação contra- hegemônicas possibilitaram colocar em pauta importantes demandas e reivindicações das mulheres no referido período.
As experiências aqui mencionadas mostram a diversidade interna do movimento feminista, a circulação de debates em diferentes partes do país, bem como a força do discurso como mecanismo de luta política. Dezenove jornais, de regularidade incerta e circulação restrita, contribuíram de alguma forma para produzir resistências. E, mesmo que não seja possível medir os impactos dessa mídia alternativa (DOWNING, 2002), é certo que ela serviu como apoio à luta feminista ao questionar o sistema político e as desigualdades cotidianas vividas pelas mulheres.
Certamente, diversas outras iniciativas que fizeram parte da imprensa feminista no período considerado poderiam também figurar neste levantamento, lançando perspectivas capazes de ampliar e mesmo contrapor aspectos em torno do fenômeno investigado. Ao reconhecer os limites do mapeamento apresentado, entendemos que o tema permanece aberto a novas investigações e demanda a descoberta e disponibilização de acervos e documentos ainda pouco acessíveis ou desconhecidos.
Diante do recorte proposto, consideramos que revisitar esse momento da história brasileira, marcado pelo autoritarismo e pelo desrespeito aos direitos humanos, representa uma possibilidade de discutir o processo de construção da democracia e as heranças da imprensa feminista nas experiências desenvolvidas na atualidade pelos feminismos, que permanece emergindo em defesa da igualdade e da justiça social e com compromissos históricos contra a opressão.
Por fim, acreditamos que a reflexão sobre as lutas e enfrentamentos permanentes na defesa dos direitos das mulheres segue necessária em inúmeros cenários e contextos.
Fontes
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Referências
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