CAPÍTULO 7

É engraçado como o tempo parece passar de maneiras diferentes, às vezes. No caminho até o aeroporto, parecia que o tempo não passava rápido o suficiente. Mas, ao mesmo tempo, tudo estava acontecendo muito rápido. Eu queria chegar lá, entrar no avião e ir embora. Mas o medo apertou meu coração, envolvendo-o como um punho que me fez lembrar de que os seres humanos não foram feitos para voar.

Chegamos no aeroporto, e Matt pegou a minha mão.

"Vamos, o Hastings vai cuidar da bagagem ", disse ele.

Eu hesitei. Entrar no aeroporto só iria tornar tudo ainda mais real. Olhei de volta para Hastings, e ele estava sorrindo para mim.

"Vá em frente, Srta. Hart. O Monsieur Dufour está esperando", disse ele.

Saí do carro, e Matt me guiou para dentro. Havia tantas pessoas lá dentro, indo de um lado para o outro. Alguns carregavam apenas mochilas, e outros pareciam levar malas para famílias inteiras empilhadas sobre enormes carrinhos.

Pessoas pobres. Pessoas ricas. Famílias. Casais. Trabalhadores do aeroporto, abrindo caminho através da multidão. Longas filas cheias de pessoas agitadas à espera de passagens, informações e tudo o mais que os trabalhadores pudessem lhes dar.

Meu estômago se apertou e eu me senti enjoada. Parecia que tudo estava girando em torno de mim. Minhas pernas fraquejaram. Eu desacelerei um pouco, mas Matt me segurou.

"Talvez eu devesse ter usado o nosso jato...", disse ele.

"Você tem um jato?" É claro que ele teria um jatinho particular.

Matt parecia meio sem graça. "Bem, sim, mas eu não gosto de usá-lo. Você sabe se quanto manutenção essas coisas precisam? É mais fácil voar assim", disse ele. "De qualquer forma, vamos para um lugar mais tranquilo."

Ele pegou minha mão novamente e a apertou com firmeza. Parecia que ele jamais iria me soltar. Eu me deixei ser puxada por entre a multidão. Eles passaram por mim em um borrão. Uma mãe arrastando cinco filhos. Um homem solitário olhando para a planta do terminal. Um casal rico carregando um pequeno cachorro em seus braços enquanto caminham em direção ao portão de segurança.

Todos eles pareciam sem rumo. Sem direção. Mas não Matt. Ele sabia exatamente onde estava indo.

Matt levou-me até um lance de escadas isoladas. Eles terminaram acima do piso principal do aeroporto, alto o suficiente para que as pessoas lá embaixo parecessem ser uma fazenda de formigas. Estava escuro e silencioso lá em cima, totalmente diferente do caos lá embaixo. Uma única mulher em uma mesa sorriu para nós, e Matt entregou-lhe um cartão preto lustroso.

O rosto dela registrou choque apenas o suficiente para eu notar. Sua expressão inicial foi rapidamente substituída por um profissionalismo calmo.

"Que bom vê-lo novamente, Sr. Dufour", disse a mulher. "Você está ciente de que o seu voo vai partir em breve. O senhor é bem-vindo a qualquer momento, mas-"

Matt a interrompeu. "Eu estou bem ciente. Eu não pretendo ficar muito tempo."

"Muito bem, Sr. Dufour ..."

A mulher virou-se para o computador discreto ao seu lado e começou a digitar nele. Então ela olhou para mim com as sobrancelhas ligeiramente levantadas.

"E esta é..."

"Minha convidada", disse Matt.

"Muito bem. Então duas pessoas-"

"Na verdade, por favor, adicione-a à minha conta. Esta é Penelope Hart, e ela irá me acompanhar nas minhas viagens a partir de agora", disse Matt, colocando o seu braço em volta do meu ombro.

Quando ele me tocou, meu corpo ficou incrivelmente quente. Eu senti os olhos da mulher em mim, quase como se fossem dedos tocando a minha pele. Minha respiração acelerou.

"Certo?" Matt me perguntou.

Respirei fundo antes que eu pudesse responder.

"Certo." O canto dos lábios da mulher se curvaram para cima um pouco.

"Entendido. Eu vou adicioná-la à sua conta... Srta. Hart, H - A - R - T, correto?"

"Por que - uh, sim," eu disse.

"Obrigada", disse a mulher e acenou com a cabeça.

Um momento depois, ela terminou de digitar.

"Pronto, já fiz seu check-in", disse ela. "Por favor, aproveitem o seu curto período de tempo conosco antes de seu voo, Srta. Hart e Sr. Dufour."

Ela nos deu um sorriso branco perfeito e fez um gesto em direção à porta que eu não tinha notado antes. Ela se abriu automaticamente, revelando uma sala com baixa iluminação.

Nós caminhamos através da porta e antes que ele fechasse, a mulher ainda disse.

"Obrigada por ficar conosco novamente", ela disse e fez uma pequena reverência.

Eu dei uma olhada no novo ambiente, ouvindo o som de pratos e copos tilintando suavemente. Havia uma mistura de cheiro de café fresco e perfume caro.

O aposento estava cheio de pessoas relaxando em pequenas mesas, bancos e sofás. A atmosfera geral era totalmente diferente do que antes. Ninguém estava correndo. Ninguém estava confuso. Todos sabiam exatamente para onde deviam ir e quando, e não havia necessidade de pressa.

Senti meus ombros relaxando e a minha respiração desacelerou.

Matt me levou a um par livre de cadeiras, posicionadas ao lado de uma pequena mesa. A área só era iluminado por uma pequena vela bruxuleante que cheirava a... lavanda!

"Eu pensei que seria melhor trazê-la para o lounge executivo," Matt disse "você está se sentindo melhor?"

"Sim", eu disse. "Desculpe se fiz você se preocupar."

"Eu quero que você relaxe. Eu te trouxe nesta viagem, não foi? Meu trabalho é cuidar de você." Matt disse. E então sua voz caiu um pouco, soando mais profunda. "Isso é exatamente o que eu vou fazer."

Um arrepio percorreu o meu corpo, me deixando sem fôlego. O que dizer depois disso? Mas quem lhe pediu para cuidar de mim? Eu não preciso que ninguém cuide de mim. Não foi isso o que a minha mãe me ensinou? Nunca dependa de homem algum. Nem mesmo Matt.

Mas ainda assim, eu queria acreditar. Eu cruzei as pernas com força para tentar me distrair da forma como a voz de Matt acordava algo profundamente dentro do meu corpo.

"Não podemos ficar muito tempo, mas talvez você deva beber alguma coisa ", disse Matt. "Vou pegar um pouco de chá."

"Ok", eu consegui dizer.

Matt levantou-se e foi até o que parecia ser uma pequena cozinha. E então eu estava sozinha.

Não demorou muito para perceber que, mesmo que eles estivessem tentando ser discretos, todo mundo estava olhando para mim. Eu era nova no lugar. Eu não estava vestida como eles, mesmo que tivesse tentado. Mas isso não era tudo. Eu era a única mulher negra lá.

Em outro canto, havia um homem negro mais velho conversando com uma loira novinha com cara e corpo de modelo. Ele parecia se encaixar, com seu terno cinza sob medida e lenço colorido no bolso. Eu tive a impressão de que ele estava tentando ao máximo não olhar para mim. Como se me reconhecer fosse trazer atenção a ele. Como se isso fosse fazer com que todos notassem que haviam dois de nós no meio deles.

Eles provavelmente se perguntavam o que Matt queria comigo. Eu quase ri. Eu mesma gostaria de saber. Eu segurei um pouco do tecido do meu vestido em meu punho. Porque eu? Por que não outra pessoa que era mais... Mais...

"Sentiu minha falta?"

Matt voltou com um belo bule ornamentado em um prato cheio de doces decorativos minúsculos. Era o completo oposto do conjunto minimalista que ele tinha em casa.

Matt sentou-se e me serviu uma xícara marrom escura.

"Eu só queria um bule de chá, mas eles insistiram que eu trouxesse todo o conjunto de chá Tajikistani", disse ele e empurrou um dos pequenos pires na minha direção. "Aqui, deixe mostrar."

Matt agia com se tudo isso fosse a coisa mais simples do mundo. Ele adicionou água ao chá escuro até chegar ao dourado escuro ao qual eu estava acostumada. Ele então pegou uma joia rosa pálida de um dos pratos e a ergueu para eu cheirar. Era como se eu estivesse andando em um jardim inglês.

"Rosa", disse ele, antes de colocar algumas no chá.

"Agora, a última parte," continuou Matt, "você coloca um destes em sua boca e deixa dissolver enquanto bebe o chá. Eu sei que soa estranho, mas você tem que experimentar."

Antes que eu pudesse tomar uma decisão, Matt já estava preparando uma xícara para si mesmo. Eu olhei para os pequenos mimos. Eles eram moldados no formato de flores minúsculas e brilhavam à luz das velas.

A coisa toda parecia estranha. Por que tanta frescura para uma bebida simples? Mas Matt parecia excitado em me mostrar. Meus dedos pairaram sobre os pequenas doces, então finalmente peguei uma das delicadas flores de açúcar e a coloquei na minha boca.

O sabor do açúcar praticamente puro foi quase demais. Eu agarrei o chá e tomei um gole grande para diminuir o doce, e fiquei chocada com o quão amargo ele era. Lentamente, a doçura do açúcar e o amargo do chá se fundiram em algo novo. Cada vez que eu tomava um gole, ele mudavau. E cada vez que ele mudava, eu gostava mais do que antes.

"Bom, não é?" comentou Matt.

Ele olhava para mim com um sorriso faminto. Ele vinha me observando o tempo todo? Olhei para a minha xícara, minhas orelhas queimando.

"Sim", eu disse. "Eu gostei..."

O sorriso de Matt aumentou.

"Normalmente, um chá como este pode levar horas", disse ele. "Você fica de bobeira, agindo como se não tivesse nada mais planejado para o dia. Eu costumava fazer isso com Maman quando eu era jovem. Era o nosso 'tempo juntos.' Talvez eu possa lhe mostrar uma agradável sala de chá da próxima vez que formos voar."

Na próxima vez?

Minha mente voltou ao que ele tinha dito para a mulher na recepção.

"Ela me acompanhará a partir de agora."

Com quanta antecedência ele estava planejando? Eu olhei para Matt e prendi a respiração. Ele não parecia estar mentindo. Só estava bebendo o seu chá como se não houvesse mais nada que ele preferisse estar fazendo, além de estar aqui, sentado comigo. Um lampejo de esperança se acendeu dentro do meu peito e eu me senti leve. Parecia estranho, como se eu estivesse flutuando.

"Próxima vez?" Eu perguntei para Matt enquanto olhava para o meu chá. Eu não queria me perder naqueles olhos.

"Sim, da próxima vez", disse ele. "A menos que você odeie tanto Paris tanto que nunca mais queira voltar."

Ele fez uma pausa e, em seguida, estendeu o braço sobre a mesa, agarrando minha mão e me fazendo olhar para ele.

"Então eu vou ter que levá-la para Londres ou Tóquio, ou para quantos outros lugares for necessário para deixá-la feliz em viajar comigo."

"E se você nunca encontrar um lugar? Você não pode simplesmente me arrastar pelo mundo todo para sempre", eu disse.

"Eu não posso?"

Matt apertou sua mão na minha. Meu estômago se tensionou e eu me afastei.

"Desculpe interromper, mas o avião começou a embarcar. Seria melhor se vocês fossem até o portão."

Hastings estava ao nosso lado com uma expressão totalmente inescrutável. Há quanto tempo ele tinha chegado?

Não importava. Nós não tínhamos tempo o suficiente para nos preocuparmos com esse tipo de coisas. Ou, pelo menos, eu achava que não. Matt parecia muito mais relaxado com essa coisa toda.

"Vamos!" Eu disse. "Não podemos nos atrasar!"

A ansiedade crescia dentro do meu peito, como se eu fosse passar por algum tipo de avaliação importante.

"Não se preocupe. Você não tem que se apressar. Eles não vão partir sem que estejamos no avião."

"Mas as passagens dizem que -"

"Penelope, eu prometo que tudo vai ficar bem. Confie em mim."

Eu não acreditei nele, mas, como sempre, suas palavras acabaram sendo verdade.