2 A centralidade do conceito de organismo no conhecimento biológico e no ensino de Biologia*
Introdução
Apesar de parecer óbvio para o senso comum que a Biologia tem como um de seus principais objetos de estudo o organismo, vários autores têm argumentado que, de forma geral, este perdeu seu papel central nessa nessa Ciência devido à crescente ênfase nos aspectos moleculares e ao fato de a Biologia Evolutiva darwinista não ter atribuído, desde Darwin e pela maior parte do século XX, um papel explicativo claro ao organismo em sua estrutura conceitual (Lewontin, 1978, 2002; Goodwin, 1994; Feltz, 1995; Webster e Goodwin, 1999; El-Hani e Emmeche, 2000; Ruiz-Mirazo et al., 2000; Gutmann e Neumann-Held, 2000; El-Hani, 2002; Sepúlveda, Meyer e El-Hani, no prelo). Segundo Ruiz-Mirazo et al. (2000), as pesquisas biológicas atuais estão focalizadas em níveis mais restritos que o organismo, tais como a Biologia Molecular e a teoria evolutiva genecêntrica, ou em níveis mais globais, como em algumas partes da Biologia Evolutiva e da Ecologia.
A Biologia Molecular tem sido caracterizada, na maior parte de sua história, por um esforço em explicar os fenômenos orgânicos com base apenas em mecanismos moleculares, além de apoiar-se na noção de informação genética para compreender processos evolutivos e de desenvolvimento, sobretudo em termos do papel dos genes (Etxeberri e Umerez, 2006). Dessa perspectiva, o sucesso da Biologia Molecular na segunda metade do sé culo XX terminou por criar a impressão de que todos os fenômenos biológicos poderiam ser suficientemente compreendidos por meio de explicações moleculares, conduzindo, assim, a uma via pela qual a biologia deixou de ser uma ciência do organismo.
No começo do século XXI, a Biologia Molecular parece estar se afastando, contudo, da visão reducionista que a caracterizou desde seu nascimento. Avanços recentes na Biologia Molecular e em outros campos que nasceram dela, como a genômica e a protêomica, têm levado a uma compreensão dos sistemas biológicos como redes informacionais complexas, que demandam, para sua compreensão, a adoção de uma perspectiva "sistêmica". Daí a onda atual de "biologia de sistemas" nesses campos (Ideker et al., 2001), frequentemente descrita como uma abordagem não reducionista (e.g., Chong e Ray, 2002; Kitano, 2002), ainda que um determinismo e reducionismo envergonhados possam ser ainda detectados em trabalhos ditos "sistêmicos" (cf. Leite, 2007) e não seja muito claro o que significa, de fato, a chamada "biologia de sistemas", que tem ganhado atualmente tanta prevalência (Keller, 2005). Embora as investigações sobre sistemas moleculares e celulares tenham de fato aumentado sua escala espacial, trabalhando em níveis mais elevados de organização, não parece haver qualquer tendência clara na biologia de sistemas de retomada do organismo como objeto prioritário de estudo.
Até mesmo a teoria sintética da evolução é marcada pela tendência de ver o organismo como um objeto meramente passivo, sem qualquer influência ativa sobre o mundo físico externo (El-Hani, 2002; Lewontin, 2000; Lewontin, 2002). Lewontin discute como a adesão da biologia moderna a uma compreensão da adaptação baseada em uma visão unilateral da relação entre organismo e ambiente contribuiu para o deslocamento do organismo do foco de estudo da Biologia Evolutiva. O processo de mudança evolutiva tem sido usualmente concebido de tal maneira que o organismo apresenta "soluções" que não são produzidas por eles próprios, mas por mecanismos de origem de variações que são cegos às suas necessidades, para "problemas" produzidos por um ambiente externo, cuja dinâmica também não depende do organismo. Na síntese evolucionista, a importância dos organismos está relacionada ao fato de que eles variam. O organismo se torna um ponto de encontro passivo de forças alheias a ele próprio. Esse modo de compreender a adaptação implica a (na) visão simplista de que o ambiente se modifica por uma dinâmica própria, sem que sejam levados em conta os efeitos das atividades das formas vivas, que modificam o próprio ambiente em que vivem de maneira tanto a promover como a inibir sua própria vida e a de outros organismos. Pode-se entender, então, como, de acordo com a visão que tem sido dominante na Biologia Evolutiva, o organismo constitui o nexo passivo de forças externas (as condições ambientais que estabelecem pressões seletivas) e internas (os mecanismos de produção de variação), independentes umas das outras. Esse foi outro caminho pelo qual a Biologia perdeu seu caráter de uma ciência do organismo.
Lewontin considera que as interações entre organismos e ambiente são muito mais complexas do que proposto nessa visão dominante. Elas apresentam, em sua visão, um caráter dialético, ou seja, organismos e ambiente exercem uma influência recíproca sobre suas dinâmicas. Para esse autor, a evolução pode ser mais adequadamente descrita como um processo no qual a evolução dos organismos conduz à resolução de problemas que são, em certa medida, postos pelos próprios organismos ao modificarem o ambiente em que vivem, o que faz com que os problemas que necessitam de solução mudem gradualmente à medida que os organismos evoluem. Trata-se de um processo de coevolução dos organismos e de seus ambientes. A partir de tal visão sobre o processo evolutivo, os organismos adquirem um papel central na construção das explicações sobre sua evolução.
Na visão de Lewontin (2000, 2002), para compreender o organismo, devem-se considerar fatores internos a ele que não estão restritos aos genes. A ontogenia de um organismo é consequência de uma interação singular entre seus genes, a sequência temporal dos ambientes externos aos quais está sujeito durante a vida e eventos aleatórios que têm lugar em interações moleculares e celulares ao longo do processo ontogenético. Dessa forma, existem situações em que as características apresentadas pelos organismos não são consequência nem da variação genética nem do ambiente externo.
Lewontin (2002) também tece interessantes considerações sobre a definição de ambiente. Para esse autor, existe uma confusão entre a assertiva correta da existência de um mundo físico externo a um organismo (que continuaria a existir mesmo na ausência de vida) e a afirmação incorreta de que existe ambiente sem organismo. Em sua visão, o ambiente de um organismo é formado pelas condições externas que são para ele relevantes. Portanto, não existe ambiente sem organismo nem organismo sem ambiente. Os organismos, além de determinarem os fatores relevantes de seu ambiente, também constroem ativamente um mundo à sua volta, alterando constantemente o próprio ambiente.
Webster e Goodwin (1999, p.495, tradução nossa) destacam a importância de se pensar o organismo a partir de suas próprias características:
Uma das maiores consequências de uma conceituação de organismos como estruturas ou totalidades auto-organizadas é [...] a reafirmação do organismo como o próprio objeto da pesquisa biológica: um objeto real, existindo em seu próprio modo e explicado em seus próprios termos.
Desse modo, eles enfatizam a importância de se ter na devida conta o organismo como um elemento central do conhecimento biológico. A redução das explicações biológicas a explicações puramente químicas e físicas faz com que a Biologia perca seu status de campo de conhecimento específico. Há, contudo, boas razões para defender a autonomia epistemológica e metodológica da Biologia (ainda que não sua completa independência em relação à Física e à Química) (Mayr, 1982). Explicações físicas e químicas são necessárias, mas não suficientes para a compreensão dos fenômenos vitais, em vista da organização dos sistemas biológicos. Para compreender a dinâmica dos sistemas vivos, é preciso considerar sua organização, que comporta vários níveis de complexidade hierárquica, assim como a existência de propriedades que emergem no organismo devido a certos tipos de padrões organizacionais.
Quanto à abordagem do conhecimento biológico no contexto do ensino, pesquisas sobre o Ensino de Biologia têm apontado uma tendência de enfatizar aspectos moleculares. Tem sido mostrada em alguns estudos a existência de uma tendência reducionista no conhecimento escolar de Biologia, no qual geralmente se enfatiza a unidade da vida em níveis moleculares e celulares, sem esforço similar para a construção de uma compreensão integrada dos seres vivos em níveis acima do celular (Kawasaki e El-Hani, 2002a; Kawasaki e El-Hani, 2002b; Coutinho, 2005; Silva, 2006). Diante dessa situação, vale a pena investigar se o Ensino de Biologia pode beneficiar-se da explicitação do conceito de organismo como elemento central no conhecimento biológico.
A partir das teses de que o conceito de organismo tem papel central, estruturador do conhecimento biológico, e de que a compreensão dos sistemas vivos demanda abordagens não reducionistas, uma vez que explicações moleculares não são suficientes para dar conta da compreensão dos fenômenos biológicos, este artigo se propõe a: 1) elucidar o conceito de organismo por meio de discussões advindas da Filosofia da Biologia contemporânea, por meio da integração dos conceitos de níveis hierárquicos de organização, sistemas auto-organizáveis, autonomia agencial e propriedades emergentes; 2) discutir o conceito de organismo como elemento integrador do conhecimento biológico e do ensino de Biologia.
O organismo como unidade autônoma, coletiva e evolutivamente construída
Segundo Ruiz-Mirazo et al. (2000, p.210), o termo "organismo" expressa a ideia de seres vivos em oposição a uma visão global de vida, enfatizando aspectos de autonomia e a capacidade do sistema biológico de criar significado. Esse termo faz referência ao tipo de organização encontrada em seres vivos, ficando nele subentendido que os seres vivos se diferenciam da matéria inanimada pela forma como seus componentes estão organizados, e não pelos tipos de componentes.
Como forma de explicitar um conceito de organismo que seja condizente com os debates contemporâneos na Biologia Teórica ou Filosofia da Biologia e que indique um padrão organizativo do ser vivo, ressalta-se neste artigo a centralidade desse conceito por meio de uma abordagem hierárquica das estruturas e dos processos biológicos. O entendimento dos seres vivos mediante níveis hierárquicos de complexidade é comum nas Ciências Biológicas (Ruiz-Mirazo et al., 2000). Entre outros fatores, isso ocorre devido ao fato de essas ciências estenderem suas investigações desde uma perspectiva micro (por exemplo, do ambiente celular e genético) até as dimensões macro (como no caso de populações e ecossistemas). Entre os conceitos mobilizados por essa abordagem hierárquica, temos os de fechamento organizacional, autonomia agencial e propriedades emergentes, que constituem, juntos, uma base heuristicamente poderosa para a compreensão do organismo.
Conceitos fundamentais na compreensão do organismo
O organismo como um sistema organizacionalmente fechado
O organismo pode ser concebido como um sistema que possui um fechamento organizacional. Dessa forma, a elucidação do conceito de organismo está relacionada à compreensão do conceito de sistema, o qual se refere à percepção e/ou à formação de um limite que determina os componentes, de tal maneira que possamos individuar o sistema como um conjunto de componentes que estabelecem certa estrutura de relações e são por ela estabelecidos, diferenciando-se de um ambiente externo ao sistema.
A existência de um fechamento organizacional pode ser percebida por meio da manutenção de relações circulares entre as partes do sistema, que se sustentam mutuamente. É a manutenção desse fechamento organizacional que permite reconhecer cada ser vivo como único. Por exemplo, um animal se modifica durante sua vida, mas existem relações organizacionais que permitem não só distingui-lo do ambiente externo como também reconhecêlo, apesar das transformações, como sendo o mesmo organismo. Portanto, reconhece-se cada organismo como um sistema parcialmente aberto a trocas de energia, matéria e informação, mas que se caracteriza pela manutenção de certas relações de organização. Nos sistemas vivos, faz parte desse padrão organizacional a existência de uma barreira dinâmica que separa o organismo de seu ambiente. Nos organismos unicelulares, essa barreira é a membrana celular e, em muitos deles, também uma parede celular. Nos multicelulares, apesar da existência da membrana celular delimitando cada célula que o constitui, a separação do organismo em relação ao seu ambiente ocorre por meio da formação de outras barreiras, como, por exemplo, a pele (que, obviamente, também é formada por células)4.
Uma vez delimitado o organismo, pode-se definir em termos gerais o que faz parte de sua constituição e o que não faz. Três níveis hierárquicos podem ser assim reconhecidos: o ambiente externo (ecológico-evolutivo); o organismo; o ambiente interno (componentes tissulares e celulares – no caso de organismos multicelulares – e também moleculares).
Da auto-organização à autonomia agencial
O fechamento organizacional está relacionado ao conceito de auto-organização, ou seja, à formação e à organização de uma estrutura ordenada a partir da interação das partes do próprio sistema. Moreno (2004) distingue três sentidos para o conceito de auto-organização: a) geral, designando conjuntamente os fenômenos de formação espontânea de ordem dinâmica; b) autonomia, quando o sistema é capaz de ser mantido de forma adaptativa, exercendo suas ações funcionais dentro de um ambiente variável; e c) autonomia coletivamente organizada, ou seja, os sistemas biológicos inseridos em níveis superiores de organização, tais como populações e comunidades.
Moreno (2004) destaca que, no sentido geral, a auto-organização pode ser entendida como um fenômeno resultante da emergência de uma estrutura global e sistemática por meio de interconexões de unidades simples.
No sentido da autonomia, trata-se da capacidade do sistema de agir segundo leis e regras próprias. A ideia de autonomia requer uma identidade distinta, pressupondo não somente a distinção entre sistema e ambiente, mas também a possibilidade de essa distinção ser realizada pelo próprio sistema. Moreno (2004) dá como exemplo hipotético de autonomia o aparecimento de sistemas autônomos mínimos no ambiente pré-biótico da Terra, ou seja, de sistemas que seriam capazes de se autogerar recursivamente, formando um limite que os separava do ambiente, possibilitando a automanutenção dos sistemas em um entorno variável. Nesse ambiente pré-biótico, o grau de autonomia individual era maior do que aquele encontrado em qualquer um dos seres vivos que posteriormente surgiram no ambiente terrestre, já que os sistemas autônomos no ambiente pré-biótico não estavam inseridos em redes de relações com outros sistemas autônomos. Portanto, as primeiras formas autônomas, ao mesmo tempo em que tinham um grau elevado de autonomia, apresentavam também, por serem sistemas extremamente fechados em si mesmos, uma limitação quanto à possibilidade de aumento de complexidade. Dessa forma, para que fosse possível a evolução de sistemas vivos diversificados, foi necessária a inserção de sistemas autônomos individuais em redes de conexão com outros indivíduos, daí emergindo níveis superiores da organização biológica, como comunidades e ecossistemas.
Especificando o conceito de autonomia para representar os sistemas vivos que se encontram integrados em níveis superiores de organização biológica, Moreno (2004) afirma que os seres vivos constituem um tipo especial de autonomia, aberta evolutivamente, e não restrita ao âmbito individual: a autonomia coletivamente organizada. Os organismos vivos são formados por meio da conexão histórico-coletiva e inseridos em um metassistema mais amplo, em uma escala tanto espacial quanto temporal, permitindo a origem de sistemas ecológicos capazes de reciclar componentes necessários à sustentação da organização individual de base. Assim, ao preço da perda de uma autonomia completa no nível individual, a metaorganização biológica permitiu a articulação de formas de vida de modo indefinidamente sustentável.
Etxeberria e Moreno (2007, p.30) refinam o conceito de autonomia nos seres vivos mediante a associação da autonomia com a capacidade de agência. Esses autores procuram diferenciar o que é o sistema, o ser, e o que é sua agência, o fazer. Para eles, a identidade do sistema deve aparecer como uma organização estável da qual derivam ações para o exterior do sistema, devendo-se distinguir entre processos constitutivos e interativos. Essa distinção é exemplificada por meio do fenômeno de bombeamento ativo de íons nas células:
[...] o bombeamento ativo de íons é necessário para manter o funcionamento da célula (que, do contrário, explodiria como consequência de uma crise osmótica). Mas este bombeamento, que implica uma forma de "trabalho", porque é um transporte para a célula cont ra um gradiente de concentração, requer uma sub-organização interna de diferentes reações encadeadas. A célula mantém seu funcionamento graças ao bombeamento de íons (processo interativo), o qual requer um mecanismo interno (processo constitutivo), que, por sua vez, em escala temporal mais ampla, depende indiretamente da correta realização do processo de bombeamento. Em outras palavras, ainda que, em última instância, o fazer do sistema (re)genere recursivamente seu ser, tem de haver uma dupla escala temporal no processo, que permita falar de um sistema com identidade agencial. Este deve aparecer como uma forma de organização mais complexa do que as ações que se produzem a cada momento. Se não for assim, estaríamos diante de um processo meramente automantido, mais do que frente a um verdadeiro caso de autonomia (Etxeberria e Moreno, 2007, p.31, tradução nossa).
Etxeberria e Moreno (2007) consideram, ainda, que um sistema autônomo deve possuir algum tipo de suborganização capaz de regular os fluxos de matéria e energia entre o sistema e seu entorno, ou seja, para um sistema ser considerado autônomo, devem existir ações deste sobre o meio externo.
A noção de autonomia agencial desenvolvida por Etxeberria e Moreno auxilia na delimitação de organismos em casos fronteiriços. Por exemplo, como ficaria a definição de organismos em sistemas que são formados por unidades ("indivíduos") de diferentes genótipos, mas que possuem um alto grau de integração, como é o caso da caravela-portuguesa (Physalia physalis) (Sterelny e Griffiths, 1999; Ruiz-Mirazo et al., 2000; Etxeberria e Moreno, 2007) ou de insetos sociais como as abelhas, no qual o conjunto de indivíduos poderia ser considerado um superorganismo, já que cada indivíduo tem uma função específica e há, inclusive, em muitas espécies uma separação entre organismos reprodutivos e organismos não reprodutivos, de modo similar à separação entre germoplasma e somatoplasma em organismos multicelulares? A identificação do organismo nesses casos associaria a perspectiva da agencialidade à organização hierárquica dos processos biológicos. Os organismos seriam identificados como "aqueles sistemas nos quais as relações funcionais de suas partes integrantes formam um todo com um maior grau de integração funcional do que a existente entre os sistemas que formam a unidade superior" (Etxerrebia e Moreno, 2007, p.34, tradução nossa). No caso dos insetos sociais, por exemplo, é possível perceber maior integração funcional entre os componentes que constituem a abelha do que entre as diferentes abelhas da colmeia. Portanto, o núcleo da autonomia agencial estaria no nível da abelha individual, podendo esta ser considerada como o organismo.
O caso da caravela é de análise mais complexa, porque não é tão evidente que a coesão das células na colônia seja menor do que a coesão dos componentes das células individuais. Contudo, a própria qualificação da caravela como uma colônia decorre do fato de que as células que a constituem não exibem tanta coesão entre si quanto temos nos organismos multicelulares. Parece, assim, que o núcleo da autonomia agencial está ao nível das células, e não da colônia, apesar de o caso da caravela ser, de fato, mais difícil do que o das colmeias. A noção de autonomia agencial certamente não resolve todos os problemas na delimitação dos organismos, mesmo porque a própria descrição e delimitação de níveis de organização dependem não só da integração entre componentes, mas também da atuação de um observador externo. No entanto, a noção de autonomia agencial parece ser de fato um critério útil na delimitação de organismos.
Uma abordagem hierárquica do conceito de organismo
A concepção de uma autonomia agencial relativa ao nível do organismo individual e de sua inserção em níveis superiores de organização pode ser modelada por meio de uma hierarquia escalar.
No estudo do organismo, é importante compreender tanto sua constituição como os níveis superiores no qual se insere. Um estudo local e restrito da constituição e dos mecanismos físico-químicos de um organismo vivo permite aprofundar o conhecimento por meio de uma riqueza de detalhes, permitindo a descrição das interações e dos mecanismos generativos que permitem a emergência das características descritas em um nível hierárquico mais complexo, como o nível orgânico. Entretanto, compreender o ambiente externo, por exemplo, as comunidades ecológicas e os ecossistemas nos quais os organismos se inserem e interagem com outros organismos, também é necessário.
Como as entidades e os processos biológicos podem ser descritos em diferentes níveis de complexidade e em diferentes intervalos de tempo, torna-se necessário modelar escalas espaciais e temporais nos quais eles se situam, no contexto de modelos hierárquicos. Um modelo hierárquico interessante, heuristicamente poderoso, é encontrado na hierarquia escalar proposta por Salthe (1985; 2001). Esse autor propõe que, por razões pragmáticas, devemos trabalhar com três níveis de organização: o nível superior (que estabelece condições de contorno para as entidades e os processos no nível focal e, desse modo, restringe suas dinâmicas por meio de efeitos seletivos), o nível focal (no qual se encontra o fenômeno de interesse) e o nível inferior (que gera as interações das quais emergem as entidades e os processos envolvidos no fenômeno de interesse, ou seja, as condições iniciadoras de tais processos e entidades, também restringindo suas dinâmicas)5.
De acordo com esse modelo, as dinâmicas dos processos e das entidades no nível focal resultam, então, da interação de restrições que operam de baixo para cima (bottom-up) e de cima para baixo (top-down).
Para representar essa estrutura hierárquica, pode-se utilizar a seguinte notação: [nível superior [nível focal [nível inferior]]]6. A representação hierárquica de Salthe (1985) foi utilizada como base para o estabelecimento de três níveis de organização relativos à estrutura e aos processos biológicos, tomando-se o organismo como nível focal, o ambiente externo como nível superior (entendendo como ambiente os fatores do meio externo que são relevantes para determinado organismo, no sentido proposto por Lewontin, 2002) e o ambiente interno como nível inferior (elementos tissulares, celulares e moleculares). Dessa forma, considera-se o organismo como ponto central da discussão, assumindo sua unidade e autonomia por meio das relações engendradas pelos seguintes níveis: [ambiente externo (ecológico/ evolutivo) [organismo [ambiente interno (tissular/celular/molecular)]]]. A colocação do organismo no nível focal desse modelo hierárquico reflete um posicionamento a favor de uma compreensão da Biologia como uma ciência do organismo, ressaltando-se, ainda, a autonomia da Biologia em relação a outras áreas do conhecimento científico, em particular, à Química e à Física.
Relacionada à estrutura hierárquica da organização biológica está a ideia de propriedades emergentes, ou seja, de propriedades observadas ao nível de um sistema como um todo, que, embora relacionadas à microestrutura do sistema, não são redutíveis às propriedades e relações das partes do sistema. Assim, em um sistema complexo como o organismo, novas propriedades surgem especificamente no nível do sistema como um todo, por exemplo, um determinado comportamento animal, não podendo este ser explicado apenas pela análise da constituição e dos mecanismos moleculares. Tomando como exemplo um organismo unicelular, seu padrão organizacional emergente depende das interações ocorridas no nível imediatamente inferior (interações moleculares) e no nível imediatamente superior (restrições impostas pelo ambiente ao longo da evolução do organismo e, no tempo ecológico, nas interações que ele estabelece com outros organismos). O organismo unicelular não deve ser compreendido, pois, apenas como ponto de encontro entre os níveis inferior e superior. Deve-se considerar a sua história evolutiva e a inserção em um metassistema ecológico mais amplo. O organismo é caracterizado por sua autonomia agencial, o que implica que ele tem regras próprias e flexibilidade na interação com o meio externo, agindo sobre este e modificando-o, não podendo ser considerado apenas um ente passivo.
Explicitando o conceito de organismo
A partir do que foi discutido anteriormente, podemos destacar as seguintes ideias centrais para a elucidação do conceito de organismo:
a. Sistema complexo, com fechamento organizacional resultante de relações circulares entre as partes do sistema, conferindo coesão ao sistema e gerando um limite dinâmico que separa o sistema do ambiente externo.
b. As relações circulares e o fechamento organizacional gerados dentro do próprio sistema são tratados como parte de um processo auto-organizado. Um sistema auto-organizado se mantém longe do equilíbrio termodinâmico, mantendo vias de estabilidades e regras geradas dentro do próprio sistema.
c. Os seres vivos apresentam um tipo particular de auto-organização chamada de autonomia agencial, ou seja, a identidade do sistema aparece como uma organização estável da qual derivam ações para o exterior do sistema. O agente autônomo, ou seja, o organismo, é definido mediante uma perspectiva hierárquica, sendo considerado nível do organismo aquele que apresenta maior integração funcional quando comparado aos níveis superiores de organização.
d. No nível orgânico, aparecem propriedades irredutíveis às propriedades e relações de suas partes. Portanto, os organismos apresentam propriedades emergentes, cuja irredutibilidade deve ser entendida em termos de sua não dedutibilidade das propriedades que as partes exibem em estruturas relacionais mais simples (El-Hani e Queiroz, 2005). As próprias ações dos organismos acontecem no nível orgânico, portanto, a capacidade de agência pode ser considerada uma propriedade emergente desse nível de organização hierárquica.
e. Os organismos estão integrados em níveis hierárquicos superiores de organização, tais como populações, comunidades e ecossistemas. A inserção nesses níveis tem grande influência sobre a manutenção do nível orgânico. Um exemplo da ocorrência da organização coletiva e de dependência entre os seres vivos, em um ciclo de relações autossustentadas, pode ser visto no ciclo do nitrogênio. O nitrogênio é encontrado na atmosfera em grande quantidade na forma de gás nitrogênio. No entanto, a maior parte dos seres vivos não consegue utilizar o nitrogênio na forma encontrada na atmosfera e depende de bactérias que fixam o nitrogênio incorporando este elemento em suas moléculas orgânicas. A associação de bactérias fixadoras de nitrogênio com plantas (como é o caso das leguminosas) permite que as últimas obtenham compostos nitrogenados. Quando plantas e animais morrem, o nitrogênio presente em seus protoplasmas é decomposto em compostos de amônia, que fertilizam o solo. Algumas plantas conseguem utilizar a amônia, mas o composto utilizado com maior facilidade é o nitrato. A amônia presente no solo é oxidada pela ação de bactérias do gênero Nitrossomonas, levando à formação de nitrito. Por sua vez, o nitrito é oxidado por bactérias do gênero Nitrobacter, levando à formação de nitrato. O nitrato é absorvido e utilizado com facilidade pela maior parte das plantas verdes na produção de matéria orgânica, principalmente de proteínas e ácidos nucleicos. As plantas, ao servirem de alimento para animais, passam o nitrogênio orgânico ao longo da cadeia alimentar. Parte dos compostos nitrogenados presentes no solo é utilizada por bactérias desnitrificantes, que acabam por produzir gás nitrogênio, que é novamente incorporado à atmosfera, fechando-se, assim, um ciclo de relações biológicas que permite a manutenção de organismos de diferentes espécies (Odum, 2004). É nesses termos que organismos podem ser concebidos como unidades autônomas coletivamente organizadas, inseridos em processos ecológicos e evolutivos que são fundamentais para a sua manutenção.
Alguns termos foram destacados nas considerações acima para evidenciar a relação conceitual entre eles e como eles acabam por se justificarem mutuamente, dando indicações da consistência teórica de tal perspectiva sobre o organismo. Esses diferentes conceitos podem ser integrados na seguinte formulação do conceito de organismo: um organismo é uma unidade autônoma, coletiva e evolutivamente construída, possuindo propriedades que emergem no nível orgânico. Essa explicação de organismo engloba os conceitos de níveis hierárquicos, auto-organização, autonomia, agência, evolução e propriedades emergentes discutidos anteriormente. O destaque dado à capacidade de agência permite compreender o organismo como tendo um papel ativo no seu ambiente, contrapondo-se à visão do organismo como ente passivo, tal como encontramos tanto em uma abordagem reducionista da Biologia quanto na teoria sintética da evolução.
O conceito de organismo como integrador do conhecimento biológico e do ensino de Biologia
A explicitação do conceito de organismo dentro do conhecimento biológico é necessária, uma vez que esse conceito tem sido pouco debatido. Como Ruiz-Mirazo et al. (2000) afirmam, o organismo tem sido tratado de forma marginal dentro da Biologia. Além disso, mediante uma abordagem hierárquica que assuma o organismo como nível focal de discussão, esse conceito passa a ser reconhecido como elemento integrador de conceitos referentes a níveis inferiores de organização (aspectos moleculares, celulares e tissulares) e níveis superiores (como populações, comunidades e ecossistemas).
A compreensão do organismo como unidade autônoma, coletiva e evolutivamente construída, possuindo propriedades que emergem no nível orgânico é mais adequada ao Ensino Superior, uma vez que exige alto grau de abstração. Entretanto, podem-se destacar dois pontos que se refletem na educação básica: 1) o estudo desse conceito é um importante elemento para a formação de um corpo conceitual sistêmico na formação de professores de biologia. Dessa forma, a compreensão da natureza do conhecimento biológico tendo como ponto focal o organismo pode auxiliar os futuros professores a relacionar conceitos nas situações de ensino de Biologia; 2) o conceito de organismo proposto pode ser recontextualizado didaticamente para uso no Ensino Médio mediante a utilização das ideias de níveis hierárquicos de organização e propriedades emergentes. Isso pode ser feito indiretamente com base no estudo de casos exemplares de organismos em seus contextos fisiológicos, comportamentais e ecológicos.
Para exemplificar de que forma o conceito de organismo pode ser integrador no conhecimento biológico, pode-se pensar, por exemplo, na nutrição de um determinado animal. Para obter alimento, um mamífero estabelecerá inúmeros tipos de comportamentos e interações ecológicas: ele pode, por exemplo, competir por alimento e/ou utilizar estratégias de armazenamento para tempos escassos. Em uma competição por alimento dentro de uma mesma espécie, as diferenças individuais serão fundamentais para a sobrevivência e a reprodução. Assim, quando um organismo atua no ambiente para a obtenção de alimento, ele acaba por modificar o ambiente para outros indivíduos da mesma espécie ou de outras (isso se refere, portanto, à forma como o organismo determina e é determinado por seu ambiente). Obtido o alimento, os nutrientes adquiridos entrarão na rede metabólica daquele organismo e passarão a fazer parte de sua constituição e/ou de seu metabolismo. A qualidade e quantidade dos nutrientes obtidos influenciarão nas condições físicas do organismo e na forma como este atua no ambiente externo. Nesse exemplo, fica em evidência a importância de se relacionar os aspectos do comportamento, as interações ecológicas com outros organismos e os fatores morfológicos e fisiológicos na explicação de determinado fenômeno biológico.
Provenza e Launchbaugh (1999) destacam, por exemplo, que animais herbívoros apresentam comportamentos muito complexos e enfrentam inúmeros desafios na sua interação com o ambiente para obter alimentos. Segundo os autores, a necessidade nutricional muda constantemente como consequência da idade, do estado fisiológico e das condições ambientais. Além disso, a quantidade de energia, minerais, proteínas e até mesmo toxinas nas plantas varia no espaço e no tempo. Assim, quando animais herbívoros se inserem em um novo ambiente, os animais que avaliam seus recursos alimentícios de forma mais apropriada têm vantagem em termos de sobrevivência e reprodução. Esse comportamento nutricional é extremamente complexo e pode inclusive ser aprendido pelo convívio em grupo. Os autores ainda destacam que qualquer mudança em níveis hierárquicos internos ao organismo (células, tecidos ou órgãos) ou no ambiente externo (mudança na alimentação, competição com outras espécies e convívio em um grupo de determinada população) influenciará o comportamento de um organismo individual, ressaltando, assim, o caráter complexo das relações entre níveis.
Em relação ao contexto de ensino, a centralidade do organismo permite a integração de diferentes níveis de organização e um ensino mais significativo. No ensino de Biologia em geral, os conteúdos são vistos de modo descontextualizado. Na organização do conhecimento biológico na educação básica, mesmo seguindo uma abordagem hierárquica, os níveis de organização são vistos como unidades isoladas, não se enfatizando suas relações. Dessa forma, a organização do conhecimento biológico ou ocorre partindo dos aspectos microscópicos para os macroscópicos ou, ao contrário, dos macroscópicos para os microscópicos. Por exemplo, aborda-se a constituição química celular sem enfatizar como ocorrem as reações químicas dentro de células específicas. Em seguida, são estudadas a estrutura celular e suas organelas, depois, enfatiza-se a formação de tecidos e sistemas, e, por último, os tipos de seres vivos e as relações ecológicas. Segue-se essa sequência do micro para o macro ou a sequência inversa. O importante a ser ressaltado é que, em geral, o estudo desses diferentes níveis de organização, no contexto de ensino, não é contextualizado mediante exemplos de situações reais que ocorrem com os organismos. Além disso, a integração dos vários níveis de processos e entidades biológicas não é feita. Ou seja, muitas vezes os alunos não conseguem integrar os conceitos estudados em diferentes níveis e podem, por exemplo, não reconhecer que o organismo é constituído por células ou não compreender a posição espacial do DNA dentro da estrutura celular (Caballer e Gimenez, 1992; Pedrancini et al., 2007).
Uma alternativa de ensino mais integradora seria contextualizar os diferentes níveis hierárquicos da organização do conhecimento biológico a partir do estudo de um tipo de organismo particular. No contexto da educação superior, por exemplo, El-Hani (2002) se refere a um curso de herpetologia7do Departamento de Zoologia da Universidade do Texas, em que se segue uma metodologia de ensino que aborda diferentes níveis de organização a partir do organismo. A equipe responsável pelo curso inclui um sistemata molecular, um curador de museu, um morfologista funcional, um ecólogo comportamental, um ecólogo de comunidades e um sistemata morfologista, o que torna possível uma abordagem interdisciplinar. Ou seja, ao invés de cada área abordar os conteúdos em separado, eles são vistos a partir da contextualização em um tipo de organismo específico. Essa forma de ensino, contextualizada a partir de um determinado organismo, pode ser trabalhada na educação básica por meio de situações e relações de conteúdos que sejam coerentes ao Ensino Fundamental e ao Ensino Médio.
Considerações finais
A retomada do conceito do organismo como um elemento integrador do conhecimento biológico permite tanto caracterizar a Biologia como uma ciência autônoma quanto auxiliar na relação entre conceitos de diferentes níveis de organização.
O enfoque no organismo ajuda a caracterizar a Biologia como uma ciência autônoma, visto que delineia seus contornos em relação aos outros domínios científicos. Por exemplo, pode-se questionar como a Biologia se distingue da Química. Apesar da ênfase atual nos componentes moleculares, dado o impacto da Biologia Molecular (por exemplo, a preocupação com as sequências de nucleotídeos e a expressão gênica), a Biologia tem como centro de estudo (ou deveria ter) o organismo, ou seja, como o organismo é implicado por sua constituição molecular. Na Química, por sua vez, o cerne da preocupação diz respeito às moléculas, como elas se constituem e interagem umas com as outras. Ou seja, os diferentes domínios científicos têm como objetos de pesquisa diferentes níveis de organização.
A compreensão do organismo a partir de uma representação hierárquica escalar, na qual o organismo é o nível focal das interações entre ambiente externo e interno, permite relacionar conceitos de diferentes níveis, favorecendo a integração do conteúdo biológico. Essa forma de compreender o conhecimento biológico pode auxiliar também nos contextos de Ensino Superior e na educação básica.
Apesar de os conceitos biológicos serem recontextualizados nas situações de ensino, o que lhes confere características próprias em cada nível de ensino, a utilização de organismos reais para explicar os diferentes conceitos biológicos parece ser uma estratégia de ensino capaz de aproximar a Biologia e o conhecimento cotidiano do aluno e de integrar conteúdos que normalmente têm sido vistos de forma fragmentada no ensino de Biologia.
Entende-se, portanto, que a retomada do conceito de organismo na abordagem dos fenômenos vitais pode auxiliar tanto a construção do conhecimento biológico quanto o ensino de Biologia.
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