21
Alguns dias depois, permitiram que Ijeong voltasse à cozinha. Ele se levantou de manhã cedo e andou com cuidado pelo corredor escorregadio. Alcançou as escadas e começou a descer, mas então seu coração deu um salto. Ele não soube o motivo, mas estava convencido de que, se descesse as escadas em espiral, aquela a quem ele estivera procurando com tanto desespero estaria à espera dele no final. Não era só por causa do cheiro. Ele não foi para a cozinha, virou na direção da sala das máquinas. Ela estava ali.
Os dois ficaram de frente um para o outro. Sem uma palavra, olharam-se com tanto fervor quanto seus olhos e — como nunca haviam aprendido que era proibido — seus corações permitiam, tanto quanto seus corpos podiam suportar, e então sem se darem conta se deram as mãos. Se estivessem na Coreia, aquilo jamais teria acontecido. Mas a história era outra no meio do oceano quando uma epidemia estava em seu auge. Pela primeira vez na vida, Kim Ijeong sentiu o toque da mão de uma mulher e, vermelho, abaixou a cabeça. Ela fez o mesmo. Ele não sabia o que fazer em seguida, portanto apenas balbuciou:
— Meu nome é Kim Ijeong, o caractere do “dois” no “i” e o caractere de “ereto” no “jeong”.
Com a cabeça ainda abaixada, a garota deu um risinho. Depois levantou a cabeça e revelou o rosto que estivera escondido sob o manto. A lâmpada a gás na passagem brilhou sobre ela. Quando se observava com cuidado, seu rosto brilhava com um espírito misterioso que não podia ser escondido por imundície nenhuma. Ao contrário de suas bochechas, que estavam rígidas de ansiedade, seus olhos sorriam com suavidade e davam as boas-vindas ao novo amor, e o cheiro de sangue de corça era o mesmo de sempre. Ijeong tocou o seu próprio rosto. Ardia como fogo, e os músculos de seus braços tremiam como se ele tivesse trabalhado duro.
— Sou da família real — declarou ela —, do clã de Jeonju Yi, e me chamo Yeonsu.
Ele ouviu um clamor do outro lado da passagem. Não encontrando mais o que dizer, eles olharam nos olhos um do outro e por fim soltaram as mãos. Yeonsu voltou para a cabine. Ijeong ficou onde estava e reprimiu os sentimentos que transbordavam dentro dele. Tendo sido criado sem mãe ou irmãs, pela mão áspera de um ambulante, Ijeong considerava tudo nela maravilhoso. Não tinha a menor ideia do que faria em seguida, mas isso apenas aumentava sua empolgação.