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O espanhol de Yi Jinu melhorava a cada dia. Já estava bom o bastante para que, dali a um pouco mais de tempo, ele pudesse trabalhar como intérprete. Afinal, o espanhol utilizado nos campos de sisal era simples e, se ele interpretasse algo errado, ninguém jamais teria como saber.
Gwon Yongjun sentou-se ao lado de Yi Jinu à sombra de uma árvore e cutucou-o de leve.
— Já falou com a sua irmã?
Yi Jinu balbuciou:
— Bem, eu...
Gwon Yongjun explodiu:
— Faz muito tempo que lhe perguntei isso, e agora me disseram que vocês andam comendo codorna assada! Você não serve para mim. Sempre arranca o que quer, mas não consegue atender nem mesmo esse pedido simples. É por isso que dizem para nunca trabalhar com aristocratas. Eles engolem o que gostam e depois limpam a boca.
Gwon Yongjun não deu a Yi Jinu a chance de se defender; simplesmente se levantou de um salto e afastou-se. Yi Jinu ficou ansioso. Foi para casa e sentou ao lado da irmã. Yi Yeonsu parou de costurar e olhou o rosto do irmão.
— O que foi?
Seu irmão mais novo, que antes não passava de uma criança, agora se comportava como um homem depois de apenas poucos meses de trabalho nos campos.
Ele respondeu que tinha um pedido a lhe fazer. Quando Yeonsu perguntou o que era, ele hesitou e não conseguiu dizer nada. Porém, já tinha ido até ali e dava na mesma continuar ou não. Yeonsu continuou insistindo:
— O que foi?
Yi Jinu hesitou, depois por fim abriu a boca.
— O intérprete... O sr. Gwon. — Yeonsu assentiu, mas seu rosto se endureceu. — Ele não para de me importunar porque deseja se encontrar com você.
Yeonsu voltou o olhar para a sua costura.
— Então você aprende espanhol com ele e ele fica lhe pedindo isso?
Yi Jinu lambeu os lábios e assentiu.
— Não daria para encontrá-lo somente uma vez? Você só precisa ir e dizer a ele que não quer ir de novo. Ele pode não ser de classe alta, mas parece ser uma pessoa decente.
Yeonsu torceu os cantos da boca em um sorriso:
— O que quer dizer classe aqui?
O rapaz se aproximou dela:
— É verdade. É verdade, não é?
Yi Yeonsu olhou no fundo dos olhos do irmão e falou, resoluta:
— Nunca mais fale desse assunto comigo novamente. Se falar, ficarei muito brava. Não é porque ele é de uma classe baixa. Simplesmente não posso fazer isso.
— Mas ele tem muito dinheiro! — explodiu Jinu, amuado. — Não só fala bem inglês como também fala espanhol, e não vai morrer de fome, aconteça o que acontecer. Você acha que vamos conseguir voltar? Vamos acabar todos morrendo aqui. Em quatro anos, quando terminar o nosso contrato com a fazenda, você terá vinte anos e vai precisar encontrar alguém para se casar aqui mesmo, não é?
A cada palavra que seu irmão disparava, o coração de Yeonsu doía como se estivesse sendo atravessado por agulhas. Ela sabia mais do que ninguém que seu sonho de estudar, conseguir um emprego e se realizar no mundo como um homem chegara ao fim. As fazendas de sisal do Yucatán estavam muito distantes daquele sonho. Ali, ela teria de ir morar com um homem. Teria de acordar às três e meia da manhã, preparar a roupa e a comida do seu marido que seguiria para os campos, dar de comer aos filhos e depois sair ela mesma para o trabalho e cortar folhas de sisal, amarrá-las em feixes e empilhá-las no armazém, depois voltar, preparar o jantar, lavar a roupa, limpar a casa e se deitar. Ela não queria viver assim. Mais uma vez ela pensou ardentemente em Ijeong. Onde ele está? Talvez tenha encontrado outra mulher. Na fazenda Yazche, alguns homens já estavam morando com mulheres maias, e alguns já tinham até concubinas. Os solteiros espreitavam as casas dos maias à noite. Se um homem chamasse a atenção de uma mulher, ia morar com ela na mesma hora. Talvez Ijeong também já tivesse...? Ela sacou o calendário que havia feito e o olhou. Três meses haviam se passado. Seria impossível vê-lo novamente, não é? Mesmo que eles se encontrassem, não conseguiriam mais ficar juntos, entrelaçar seus corpos loucamente. O desejo que se acumulara de repente sacudiu seu corpo. Isso é o inferno. Um homem horroroso baba por mim, meu irmão seria capaz de vender a própria irmã para ele e eu não posso ver o meu amado. Meu pai parece um cadáver ambulante e minha mãe parou de conversar. Não posso mais viver assim. Talvez eu devesse simplesmente me atirar nos braços de Gwon Yongjun. Ninguém diria nada a essa altura. Nem meu pai, nem minha mãe. Talvez eles mesmos pensem que é melhor assim. Aquela ideia era tão horrível, que Yeonsu mordeu o lábio com toda a força.
Justamente naquele momento, ouviu-se um clamor na entrada da fazenda Yazche e os coreanos correram naquela direção. Jinu, que estava sentado desanimado, também saiu da casa e foi em busca do local do ruído. O que seria aquilo? O clamor aos poucos foi se aproximando. Não era o som de pessoas irritadas ou brigando; era o som de vozes flutuando de contentamento. Por curiosidade, Yeonsu abriu um pouco a porta e pela fresta olhou para fora. Dois homens vinham andando na direção dela, rodeados por outros homens. Como os apaixonados quase sempre costumam fazer, Yeonsu superestimou o significado daquela sorte impressionante, daquele encontro que ela saborearia pelo resto da vida. Não havia outro nome para dar àquilo que não destino. Ele viera. Fora um manquejar ligeiro, parecia saudável. De onde estaria vindo? Por que estaria vindo? Teria vindo para ficar ou iria deixá-la mais uma vez? Havia tantas coisas que ela queria perguntar a ele, mas não conseguia sair, por isso apenas observou-o de dentro da casa escura, caminhando na direção dela.
Assim que entrou na fazenda Yazche, Ijeong não parou de pensar em Yeonsu também, torcendo para que ela estivesse ali. Quando ele foi entregue ao capataz e este soltou suas algemas, e uma multidão de coreanos o envolveu por todos os lados, a saudade dele aumentou ainda mais. Yazche era uma fazenda ainda maior do que ele imaginara. Ele e Dolseok foram recebidos com efusão. Os moradores pediram notícias da fazenda onde Ijeong estivera, e dos amigos e parentes que talvez continuassem lá. Ijeong avistou entre os adultos um garoto que o observava e fingia ser nobre. Era o irmão mais novo de Yeonsu, Jinu. Soube então com certeza que ela estava em Yazche. Ijeong apressou o passo. Os coreanos seguiram Ijeong e Dolseok de perto e lhes fizeram perguntas intermináveis sobre a situação nas outras fazendas, o preço da comida, o salário, os maus-tratos, os capatazes, os feitores, o intérprete. Ijeong respondeu de modo abstrato e caminhou na direção da casa onde moraria. Suas pernas, que por tanto tempo haviam ficado algemadas, doíam, mas ele logo esqueceu a dor.
Porém, por mais que procurasse, ele não a encontrou. Algumas mulheres começaram a sair para buscar água ou pendurar a roupa no varal, mas Yeonsu não estava entre elas. Quando ele passou por certa casa, seu coração bateu com violência em seu peito. Não entendeu exatamente porque, mas olhou para dentro da casa escura. Lá, um rosto coberto o espiou e depois se escondeu. A empolgação aumentou no seu peito até ele achar que enlouqueceria, mas ele passou pela casa e entrou naquela onde iria viver. Embora não tivesse visto seu rosto claramente, soube com certeza que era ela. Sentiu sua energia singular, um poder que infundia tudo ao redor dela com um ânimo misterioso.
Quando chegaram à sua casa, Ijeong e Dolseok se deitaram no chão duro. As pessoas que os seguiram continuaram fazendo perguntas. Uma delas era Jinu.
— De que fazenda vocês vieram?
— Chunchucmil.
— Existe algum intérprete por lá?
— Claro que não.
— Como vocês trabalham sem intérprete?
Ijeong olhou para Jinu, que era alguns anos mais jovem que ele, e sorriu:
— Você fala quando está conduzindo gado ou cavalos? Todo mundo entende.
Os olhos de Jinu brilharam ao ouvir Ijeong falar:
— Como são as pessoas em Chunchucmil?
Dolseok esfregou os olhos e respondeu:
— Três já morreram. Um esfaqueado, outro a chicotadas e o outro se suicidou. Aqui já morreu alguém?
Todos fizeram que não. As palavras de Dolseok foram um conforto para a gente da fazenda Yazche. Pelo menos todos ali ainda estavam vivos.
Apesar da exaustão, Yeonsu e Ijeong se reviraram na cama a noite inteira, sem conseguir dormir. Os últimos três meses tinham sido uma separação longa demais para aqueles jovens de sangue quente.