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Nenhuma flor foi vista durante dois meses. Yi Yeonsu mordia as unhas das mãos. Seu pai esperava pela carta do imperador Gojong, e seu irmão mais novo estudava espanhol sem cessar. Jinu seguia os capatazes para todos os lados e pegava uma palavra aqui e outra ali. A senhora Yun estava focada no problema de como se enforcar. Havia entrado na menopausa no México, talvez pela mudança abrupta de clima. Os motivos eram diferentes, mas as duas mulheres daquela casa pararam de ovular mais ou menos na mesma época e sofriam com isso. A senhora Yun perdeu o apetite e pensava apenas em suicídio. A depressão desencadeada pela mudança hormonal balançou com força o seu ser, porém se suicidar não era fácil. Havia dias em que ela chegava até mesmo a pensar que, se fosse estuprada, pelo menos não haveria onde ela se esconder da vergonha e nenhuma possibilidade de recuperação, o que tornaria mais fácil aquela decisão.

Yeonsu jamais pensou em suicídio. Acreditava que Ijeong voltaria. Mas, antes de ele voltar, sua barriga cresceria e nasceria uma criança. Como ele podia ao mesmo tempo estar e não estar ali? Ela colocou a tristeza de lado, acalmou tranquilamente sua mente e se dispôs a encontrar uma forma de entrar em contato com ele. Porém, por mais que pensasse, não encontrava um jeito de fazer isso a não ser por intermédio daquele intérprete nojento. E não havia como se aventurar a fugir para a fazenda Chenché sozinha, sem conhecer o caminho.

Quando ficar evidente que estou grávida, minha mãe pode ser capaz de dar fim à sua própria vida por vergonha. Antes que isso aconteça, meu pai e meu irmão me entregarão uma faca e dirão para eu cometer suicídio. “Termine tudo com dignidade. Esse é o único jeito de limpar a desonra.” Talvez o próprio Jinu enfiasse uma faca em meu coração e depois diria que foi suicídio. Os outros aceitariam suas palavras, como sempre aceitaram. Seria a solução mais fácil para todos.

Certa noite, quando todos os trabalhadores que voltaram dos campos de sisal estavam dormindo e os grupinhos que haviam se embebedado roncavam, ela se levantou em silêncio da cama e foi até a casa de Gwon Yongjun. Uma mulher maia estava sentada em frente à porta fumando um cigarro. Yeonsu sorriu obsequiosamente para aquela mulher que não falava sua língua para que ela soubesse que não tinha a menor intenção de roubar o seu homem. A mulher evitou seu olhar, distraída, como se não estivesse nem um pouco preocupada com aquilo, e olhou apenas para as estrelas espalhadas pelo céu. Do seu cigarro subia uma fragrância forte, parecida com a de artemísia queimada.

Yeonsu abriu a porta e entrou. Gwon Yongjun se levantou na cama, surpreso. Sem sequer se vestir adequadamente, afastou depressa o mosquiteiro e saiu da cama. Ao contrário do modo como tratara a mulher maia, Yeonsu o encarou sem pestanejar. Assim, parecia ser bem mais alta do que Gwon Yongjun e também o sobrepujava psicologicamente. Com aquela pose dignificada, que ela aprendera na infância, era difícil imaginá­-la como uma garota capaz de rolar sobre a grama com um rapaz da sua própria idade.

— O que foi?

Yeonsu mordeu o lábio. Seus lábios se abriram apenas o suficiente para deixar passar uma única formiga. Ela havia tomado uma decisão difícil, mas agora que viera até ali, não era fácil. As palavras que diriam que ela estava grávida e precisava encontrar o pai, as palavras que pediriam ajuda, recusaram­-se a atravessar seus lábios. O próprio Gwon Yongjun estava desesperadamente tentando pensar no motivo de ela ter ido vê­-lo. Seria por causa de dinheiro? Era possível. Aquele rapaz inconsiderado ganha sozinho o dinheiro para quatro pessoas. Então as bochechas dela, antes rechonchudas, não estão magras, e sua pele antes bonita, pálida? Ele assumiu a liderança da conversa e perguntou àquela garota, que havia aprumado as costas e projetado o queixo para frente, mas era incapaz de dizer o que tinha vindo dizer:

— É dinheiro?

Ela não respondeu nada. Uma miríade de pensamentos atravessou a cabeça dele. Subitamente, ele se deu conta do motivo de ela estar ali, por que viera vê­-lo no meio da noite, assim tão distante e ao mesmo tempo tão inquieta. Esperou até que ela dissesse por sua própria boca. Após um longo silêncio, após deliberar por um longo tempo em meio à confusão, ela finalmente abriu a boca.

— Se me ajudar, não me esquecerei da sua bondade.