“Primeiro é o tempo obrigatório dedicado ao trabalho. Você tem que sair da casa, ir para algum lugar onde vai fazer uma apresentação, ou vai a um encontro, dar uma palestra, ou seja, vai cumprir uma tarefa ligada ao trabalho. Eu tenho que trabalhar, muito do meu tempo ainda é dedicado ao trabalho. Cada vez considero mais trabalho o tempo dedicado a ouvir meu violão, e isso tem que se tornar uma exigência na questão das priorizações, das disputas com os outros tempos que sou obrigado a me dar. Depois, tem a criação, que é um segundo movimento. O terceiro elemento é o descanso, é a recomposição. Aos setenta anos de idade há a necessidade de descansar, de dormir, de esvaziar a fonte emissora de energia, deixar espaços abertos vazios para a recomposição. Tento heroicamente me organizar para ter esse tempo, porque na juventude uma noite perdida não importa. Se sou jovem posso passar a noite e emendar com o dia seguinte sem muito problema. Hoje em dia não é possível. Os impactos são imediatos. Se eu não durmo aquelas quatro horas a mais que eu precisava e concedo essas horas para uma outra coisa, uma farra ou mesmo para ler ou para tocar, não dá certo. Eu tenho o cuidado de refrear todo esse ímpeto que é extremamente prazeroso e sedutor, que é estar ali e ficar tocando. Tem uma hora que eu digo não. O terceiro tripé é a restauração de todas as energias tomadas pelo trabalho e pela criação, devidas a essa fonte inicial que tem que estar mantida. São esses três movimentos o tempo todo: o trabalho, a criação e o descanso.”