CURRAL DO CONSELHO

 

Aqui se recolhem

os animais vagantes

em ruas estradas logradouros públicos

e os de qualquer natureza

encontrados em plantações

pastos

alheias terras

com ou sem dono conhecido.

 

(Anexo-dependência do Matadouro.)

 

Aqui se reúnem

a um passo, a uma parede,

a uma cerca baixa

da morte

os bichos errantes.

E formam nova sociedade.

A sociedade do depósito.

 

Aqui se espera

uma sorte qualquer

ou nenhuma.

Se passam para o outro lado

e são abatidos?

Se apodrecem aqui mesmo

ou fogem?

 

Quem virá buscá-los e para quê,

a burros velhos que não valem

o capim-gordura e o milho prêmios,

e a cachorros cegos de lazeira

desaprendidos de latir?

 

Aqui o Hotel do Fim, ao lado

o Matadouro, meta de ouro.

 

 

DEVERES

 

Cidadão, tome nota dos deveres:

Capinar e varrer toda semana

a testada de sua residência

até o meio da rua

e se não o fizer, pague a capina

e multa de um mil-réis cada semana.

 

Se mora a beira-rio, é responsável

por duzentas braças de limpeza

de sua cristalina correnteza (multa,

vinte mil).

 

Sua caixa de lixo, há de cobri-la

com camada de cal se houver mau cheiro

e depois de vazia, lave a caixa,

cidadão, lave a caixa bem lavada.

 

No seu quintal apare os ramos

das mangueiras que exorbitam para a rua

prejudicando o trânsito nenhum.

E se há erva-de-passarinho nos seus galhos,

ou acabe com ela ou pague multa

de cem mil-réis, eu disse cem mil-réis.

 

 

PROIBIÇÕES

 

Não galope sem razão

nem faça galopar animais soltos

no calmo perímetro urbano.

Não faça, oh não faça

gritaria a desoras

salvo por motivo justificado.

Não invente batuque ou cateretê

que infernize o sono do vizinho.

Não cante ou reze alto, noite alta,

ao velar seu defunto.

Não escale muro de cemitério.

Não suba nas árvores das aleias e nos monumentos

funerários.

Não lave nem estenda roupa branca

entre os túmulos.

 

 

RANCHO

 

Carga

e cangalhas

dormem solidariamente com os tropeiros.

 

Homens arreios mercadorias

não se distinguem uns dos outros, confluídos

 

no bloco noturno sem estrelas:

viagem dormindo.

 

 

FERREIRO

 

Filho do ferro e da fagulha

fulgurando na forja formidável

o seu fole afrouxou e sua força

em face do fiscal e da folhinha

de papel.

 

 

TEMPO AO SOL

 

Sentados à soleira tomam sol

velhos negociantes sem fregueses.

E um sol para eles: mitigado,

sem pressa de queimar. O sol dos velhos.

 

Não entra mais ninguém na loja escura

ou se entra não compra. É tudo caro

ou as mercadorias se esqueceram

de mostrar-se. Os velhos negociantes

já não querem vendê-las? Uma aranha

começa a tecelar sobre o relógio

de parede. E o sagrado pó nas prateleiras.

 

O sol vem visitá-los. De chapéu

na cabeça o recebem. Se surgisse

um comprador incostumeiro, que maçada.

Ter de levantar, pegar o metro,

a tesoura, mostrar a peça de morim,

responder, informar, gabar o pano...

 

Sentados à soleira, estátuas simples,

de chinelos e barba por fazer,

a alva cabeça movem lentamente

se passa um conhecido. Que não pare

a conversar coisas do tempo. O tempo

é uma cadeira ao sol, e nada mais.

 

 

 

 

 

IMPRENSA

 

Nossos jornais sorriem para a vida.

Trescalam doçura nos cabeçalhos:

A Primavera. O Jasmim.

Mas surgem humoristas no jardim:

O Tira-prosa.

E pasquineiros violentíssimos:

O Raio.

 

O Raio irrompe antes da missa de domingo

por baixo de todas as portas.

E sidera. A manhã

ia ser de porcelana rosa, ficou

paisagem de cacos

e dores revoltadas.

 

Onde estão Artur e Teófilo,

onde está Francisco Guilherme?

Estes fundaram a grande imprensa

na rua pequena.

The Times de Londres?

Le Temps de Paris?

O Tempo da vila pobre

onde só havia tempo, não havia notícias,

morreu de falta de assunto.

 

 

CORREIO

 

A grande hora da chegada

do Correio.

Ninguém te escreve, mas que importa?

Correio é belo de chegar.

Surge no alto da ladeira

a mula portadora de malas,

trazendo o mundo inteiro no jornal.

O Agente do Correio está a postos

com os filhos funcionários a seu lado.

É família postal há muitos anos

consagrada a esse ofício religioso.

As malas borradas de lama

com registrados e impressos

que a chuva penetrante amoleceu

abrem-se perante os destinatários

como flores de lona

vindas de muito longe.

Cada família ou firma tem sua caixa aberta

onde se deposita a correspondência

mas bom é recebê-la fresquinha das mãos

e Sô Fernando, que negaceia,

brinca de sonegar a carta urgente:

— Hoje não tem nada pra você.

— Mas eu vi, eu vi na sua mão.

— Engano seu. Quer um conselho?

Vai apanhar tiziu, que está voando

lá fora.

 

Ver abrir a mala é coisa prima.

Traz as revistas de sábado

com três dias de viagem morro acima

abaixo acima, e o cheiro liso do papel

invadindo gravuras: Duque dança,

as barbas de Irineu bolem na brisa

do Senado, e na Rússia

o czar Nicolau tem o olhar vago

de quem vai ser fuzilado e ainda não sabe.

 

Tudo chega na hora

do Correio. A mula é mensageira

do Fato, e sabe

antes de nós toda a terrestre

aventura. Mal comeu

sua cota de milho, já prossegue

rumo do Itambé, levando o mundo.

 

 

TURCOS

 

Os turcos nasceram para vender

bugigangas coloridas em canastras

ambulantes.

Têm bigodes pontudos, caras

de couro curtido,

braços tatuados de estrelas.

Se abrem a canastra, quem resiste

ao impulso de compra?

É barato! Barato! Compra logo!

Paga depois! Mas compra!

 

A cachaça, a geleia, o trescalante

fumo de rolo: para cada um

o seu prazer. Os turcos jogam cartas

com alarido. A língua cifrada

cria um mundo-problema, em nosso mundo

como um punhal cravado.

Entendê-los quem pode?

 

Mas Abrãozinho adolescente

foge de casa, esquivo, em seu segredo.

É capturado, volta. O velho Antônio Abrão

decreta-lhe castigo:

uma semana inteira no balcão,

cabeça baixa, ouvindo

perante os brasileiros

terríveis maldições intraduzíveis.

 

A turca, ei-la que atende

a fregueses sem pressa,

dá de mamar, purinha, a seu turquinho

o seio mais que farto.

Jacó, talvez poeta

sem verso e sem saber que existe verso

altas horas exila-se

no alto da cidade, a detectar

no escuro céu por trás das serras

incorpóreas Turquias. E se algum

passante inesperado chega perto

Jacó não o conhece. Não é o mesmo

Jacó de todo dia em sua venda.

É o ser não mercantil, um elemento

da noite perquirinte, sem fronteiras.

 

Os turcos,

meu professor corrige: Os turcos

não são turcos. São sírios oprimidos

pelos turcos cruéis. Mas Jorge Turco

aí está respondendo pelo nome,

e turcos todos são, nesse retrato

tirado para sempre... Ou são mineiros

de tanto conviver, vender, trocar e ser

em Minas: a balança

no balcão, e na canastra aberta

o espelho, o perfume, o bracelete, a seda,

a visão de Paris por uns poucos mil-réis?

 

 

CAÇADA

 

Nada acontece

na cidade. O último crime

foi cometido no tempo dos bisavós.

Ninguém foge de casa, ninguém trai.

Repetição de cores e casos, ó bolor

da vida longa, no chão pregada a oitenta pregos!

As pessoas se cumprimentam, se perguntam

sempre as mesmas coisas, esperando

lentas confirmações

milimetricamente conhecidas.

Ai, tão bem educadas, as pessoas.

Que fazer, para não morrer de paz?

 

Cada morador limpa sua carabina,

convoca o perdigueiro, saem todos

a matar veado, capivara e paca.

Três dias a morte campeia

no mato violento.

Voltam os caçadores triunfantes,

assunto novo para três meses

e se fotografam entre bichos mortos

com inocência de heróis

regressando de Troia.

 

 

SINA

 

Nesta mínima cidade

os moços são disputados

para ofício de marido.

Não há rapaz que não tenha

uma, duas, vinte noivas

bordando no pensamento

um enxoval de desejos,

outro enxoval de esperanças.

Depois de muito bordar

e de esperar na janela

maridos de vai-com-o-vento,

as moças, murchando o luar,

já traçam, de mãos paradas,

sobre roxas almofadas,

hirtas grades de convento.

 

 

DOIDO

 

O doido passeia

pela cidade sua loucura mansa.

É reconhecido seu direito

à loucura. Sua profissão.

Entra e come onde quer. Há níqueis

reservados para ele em toda casa.

Torna-se o doido municipal,

respeitável como o juiz, o coletor,

os negociantes, o vigário.

O doido é sagrado. Mas se endoida

de jogar pedra, vai preso no cubículo

mais tétrico e lodoso da cadeia.

 

 

VIDA VIDINHA

 

A solteirona e seu pé de begônia

a solteirona e seu gato cinzento

a solteirona e seu bolo de amêndoas

a solteirona e sua renda de bilro

a solteirona e seu jornal de modas

a solteirona e seu livro de missa

a solteirona e seu armário fechado

a solteirona e sua janela

a solteirona e seu olhar vazio

a solteirona e seus bandós grisalhos

a solteirona e seu bandolim

a solteirona e seu noivo-retrato

a solteirona e seu tempo infinito

a solteirona e seu travesseiro

ardente, molhado

de soluços.

 

 

PASSEIAM AS BELAS

 

Passeiam as belas, à tarde, na Avenida

que não é avenida, é longo caminho branco

onde os vestidos cor-de-rosa vão deixando,

não, não deixam sombra alguma, em mim é que eles deixam.

 

Passeiam, à tarde, as belas na Avenida.

São tão belas como as vejo, ou mais ainda?

Só de passar, só de lembrar que passam, a beleza

nelas se crava eternamente, adaga de ouro.

 

Passeiam na Avenida, à tarde, as belas,

as sempre belas no futuro mais remoto.

Pisam com sola fina e saltos altos

de seus sapatos de cetim o tempo e o sonho.

 

À tarde, na Avenida, passeiam as belas,

seios cuidadosamente ocultos mas arfantes,

pernas recatadas, mas Deus sabe as linhas perturbadoras

que criam ritmos, e o caminho branco é todo ritmo.

 

Na Avenida, passeiam as belas, à tarde,

no alto da cidade que entre árvores se apresta

para o sono das oito da noite e não sabe que as belas

deixam insone, a noite inteira, uma criança deslumbrada.

 

 

PRIMEIRO AUTOMÓVEL

 

Que coisa-bicho

que estranheza preto-lustrosa

evém-vindo pelo barro afora?

 

É o automóvel de Chico Osório

é o anúncio da nova aurora

é o primeiro carro, o Ford primeiro

é a sentença do fim do cavalo

do fim da tropa, do fim da roda

do carro de boi.

 

Lá vem puxado por junta de bois.

 

 

O MENINO E OS GRANDES

 

HISTÓRIA

 

No Império fomos liberais

e civilistas na República

(foi a primeira ou falta muito

para chegarmos à primeira?).

42, Santa Luzia,

na guerra fomos derrotados

e nas urnas Deus é quem sabe.

Nunca chegamos ao Poder

nem o Poder baixou a nós.

Ficamos, no choque de forças,

em surdina paralisada.

Mas temos castelos na Escócia.

Corrijo: nas Escócias do Ar.

 

 

BRAÚNA

 

Baraúna

braúna

o pau canta no machado

o pau canta independente de machado

o nome canta

guaraúna

ibiraúna

muiraúna

parovaúna

 

De que são feitas minhas casas

minhas terras

meus cavalos?

De braúna

Em meu catre de braúna o descanso de braúna

Meu passado

meus ossos de família

minha forma de ser

é de braúna

 

Braúna

para não acabar em tempo algum

para resistir

ficar na morte bem guardado

entre paredes de braúna eternamente

 

E disfarçar, braúna,

o que não é madeira, e chora.

 

 

RAIZ

 

Os pais primos-irmãos

avós dando-se as mãos

os mesmos bisavós

os mesmos trisavôs

os mesmos tetravós

a mesma voz

o mesmo instinto, o mesmo

fero exigente amor

crucificante

crucificado

a mesma insolução

o mesmo não

explodindo em trovão

ou morrendo calado.

 

 

ANDRADE NO DICIONÁRIO

 

Afinal

que é andrade? andrade é árvore

de folhas alternas flores pálidas

hermafroditas

de semente grande

andrade é córrego é arroio é riacho

igarapé ribeirão rio corredeira

andrade é morro

povoado

ilha

perdidos na geografia, no sangue.

 

 

AQUELE ANDRADE

 

Que há no Andrade

diferente dos demais?

Que de ferro sem ser laje?

braúna sem ser árvore?

 

É o Andrade navegante

pelas roças pelas

vinhas do Pontal?

Em seu cavalo mais alvo

singra o mar que não lhe deram.

Viajante mais estranho

deixa a terra

paira alto alto alto

e não chego ao seu estribo.

 

Mas desce à porta de casa

em tamanho natural.

 

 

DISTINÇÃO

 

O Pai se escreve sempre com P grande

em letras de respeito e de tremor

se é Pai da gente. E Mãe, com M grande.

 

O Pai é imenso. A Mãe, pouco menor.

Com ela, sim, me entendo bem melhor:

Mãe é muito mais fácil de enganar.

 

(Razão, eu sei, de mais aberto amor.)

 

 

ESCRITÓRIO

 

No escritório do Velho

trona o dicionário livro único

para o trato da vida.

O mais é ciência do sangue

soprada por avós tetravós milavós

e

percepção direta do mundominas.

 

O escritório do Velho é fazenda

abstrata.

Os papéis: terras cavalhadas boiadas

em escaninhos.

 

A mesa do Velho é tabernáculo da lei

indevassável à curiosidade menina

mas a poder de formão

levanta-se o tampo

abre-se a gaveta

furtam-se pratas de dois mil-réis

riqueza infinita de uma semana.

 

 

ESCRITURAS DO PAI

 

Cada filho e sua conta,

em cada conta seu débito

que um dia tem de ser pago.

A morte cobrando dívidas

de que ninguém se lembrava,

mas no livro de escrituras,

vermelha, a dívida estava.

São as despesas da vida

em algarismos cifrados.

Estarás sempre devendo

tudo quanto te foi dado

e nem pagando até o fim

o menor vintém de amor

jamais te verás quitado,

pois no livro de escrituras

— capital, juros e mora —

teu débito está gravado.

 

 

CONTADOR

 

As estórias que ele conta aos filhos

Bicho Folhais

Macaco Garcias

Cafas Medonho

e volta a contar aos netos

onça que comeu homem

Pedro Bicudo que engoliu a dentadura

cachorro que carregava defunto

Saci-Pererê de São José do Calçado

peras da miséria

capado de João Carrinho

papagaio de cu cosido

são os fatos positivos

a vida real e quente

que a gente vê apalpa assimila

ante a irrealidade de tudo mais.

 

 

SUAS MÃOS

 

Aquele doce que ela faz

quem mais saberia fazê-lo?

 

Tentam. Insistem, caprichando.

Mandam vir o leite mais nobre.

Ovos de qualidade são os mesmos,

manteiga, a mesma,

iguais açúcar e canela.

É tudo igual. As mãos (as mães?)

são diferentes.

 

 

FOTO DE 1915

 

Esta família são dois jovens

alheios a tirar retrato.

Um se remira, espelho, no outro

e se reencontra num abraço.

 

Com o primeiro filho, a primeira

filha, e tormentosos trabalhos,

esta família é mais complexa.

Nem se pensa em colher imagens.

 

Vêm surgindo filhos (e penas).

Uns mal chegam, vão-se, enevoados.

Sobra tempo para imprimir

no papel o sonho da vida?

 

A família chega ao limite

de se sentar e recordar-se.

Já não cabe fotografia

panorâmica; um dia coube?

 

De Santa Bárbara o fotógrafo

chega em hora definitiva.

A tarde, a relva. Enquanto há sol,

cadeiras pousam no jardim.

 

Esta família faz-se grupo

imóvel mas sempre fixo.

Quanto sobrou de uma família:

a leve escultura de um grupo.

 

 

IRMÃO, IRMÃOS

 

Cada irmão é diferente.

Sozinho acoplado a outros sozinhos.

A linguagem sobe escadas, do mais moço

ao mais velho e seu castelo de importância.

A linguagem desce escadas, do mais velho

ao mísero caçula.

 

São seis ou são seiscentas

distâncias que se cruzam, se dilatam

no gesto, no calar, no pensamento?

Que léguas de um a outro irmão.

Entretanto, o campo aberto,

os mesmos copos,

o mesmo vinhático das camas iguais.

A casa é a mesma. Igual,

vista por olhos diferentes?

 

São estranhos próximos, atentos

à área de domínio, indevassáveis.

Guardar o seu segredo, sua alma,

seus objetos de toalete. Ninguém ouse

indevida cópia de outra vida.

 

Ser irmão é ser o quê? Uma presença

a decifrar mais tarde, com saudade?

Com saudade de quê? De uma pueril

vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre?

 

 

O BEIJO

 

Mandamento: beijar a mão do Pai

às 7 da manhã, antes do café

e pedir a bênção

e tornar a pedir na hora de dormir.

 

Mandamento: beijar

a mão divino-humana

que empunha a rédea universal

e determina o futuro.

Se não beijar, o dia

não há de ser o dia prometido,

a festa multimaginada,

mas a queda — tibum — no precipício

de jacarés e crimes

que espreita, goela escancarada.

 

Olha o caso de Nô.

Cresce demais, vira estudante

de altas letras, no Rio de outras normas.

Volta, não beija o Pai

na mão. A mão procura

a boca, dá-lhe um tapa,

maneira dura de beijar

o filho que não beija a mão sequiosa

de carinho, gravado

nas tábuas da lei mineira de família.

 

Que é isso? Nô sangra na alma,

a boca dói que dói

é lá dentro, na alma. O dia, a noite,

a fuga para onde? Foge Nô

no breu do não saber, sem rumo, foge

de si mesmo, consigo,

e não tem saída

a não ser voltar,

voltar sem chamado,

para junto da mão

que espera seu beijo

na mais pura exigência

de terroramor.

 

Olha o caso de Nô.

7 da manhã.

Antes do café.

 

 

INSCRIÇÃO

 

Trágica menina

escondendo a sina

em placidez de água parada.

 

Trágica princesa

de um reino de dois andares

azuis,

mimada até a ponta das unhas

que se fincariam na pele

do frustrado viver.

 

Trágica madona

quatrocentista municipal,

hermética,

fugindo a denunciar as lanças cravadas

no alabastro palpitante.

 

Trágica três vezes,

três vezes muda,

sem despedida; coragem.