2.10. ABDE, CBL, Reuniões, Congressos

Vencemos brilhantemente a eleição da Sociedade Brasileira de Escritores. Imagine que queriam botar o Menotti, Cândido Mota Filho e outros medalhões na diretoria. Reagimos e botamos uma mocidade barulhenta e irreverente. (Edgard Cavalheiro)1



Em 14 de março de 1942 é fundada a Sociedade dos Escritores Brasileiros (SBE), primeira associação voltada para a defesa dos escritores e da liberdade de expressão. Segundo nota da Revista da Academia Paulista de Letras, a Sociedade dos Escritores Brasileiros “tem por objetivo a defesa dos direitos autorais de escritores e jornalistas e o controle da produção nacional de livros”2. A primeira diretoria da entidade, de acordo com essa nota, era composta por Sérgio Milliet, como presidente, e Mário de Andrade, como vice-presidente. Edgard Cavalheiro compôe a Comissão de Distribuição de Livros e Controle de Vendas, juntamente com Mário Donato, Almiro Rolmes Barbosa e Silveira Peixoto.

Ainda em 1942 a Sociedade torna-se Associação Brasileira de Escritores (ABDE), com evento de (re)fundação na sede da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro. Edgard Cavalheiro também participa da fundação da ABDE, ao lado de Manuel Bandeira, Aurélio Buarque de Holanda, Graciliano Ramos, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes, entre outros. Em dezembro do mesmo ano Cavalheiro assume o posto de segundo tesoureiro da entidade. Segundo o jornalista Osório Borba, ABDE “não é uma academia, nem um clube mundano, nem uma sociedade recreativa, e sim um órgão prático de defesa da profissão literária”3.

Como integrante da Comissão de Direitos Autorais, em janeiro de 1945, Cavalheiro participa do 1º Congresso Brasileiro de Escritores, reunião que promove o enfrentamento da ditadura Vargas. Essa Comissão, da qual participou também Paulo Mendes de Almeida, foi, possivelmente, a mais importante do encontro, pleiteando regulamentação urgente dos direitos dos autores, a fim de que estes pudessem se proteger legalmente de eventuais abusos dos editores, auferir melhores ganhos e se estabilizarem como profissionais das letras4. Cavalheiro, em entrevista para a Folha da Noite, afirma que não seria um “conclave acadêmico”, mas uma oportunidade de profissionais conscientes se conhecerem para “fixar alguns aspectos da existência dos escritores, garantindo-lhes maiores direitos, maior proteção ao trabalho intelectual”5. Em carta a Nelson Werneck Sodré, Cavalheiro relata sucesso do Congresso, com “unidade política absoluta” e sem “habituais brilharecos oratórios”, lamentando apenas a ação da censura no noticiário6.

Ainda durante o Congresso, assina documento de criação da “Sociedade Luso-Afro-Brasileira”, proposta encabeçada pelo historiador português Jaime Cortesão, sob o argumento de que o Brasil contribuíra para a civilização continental ao constituir-se em exemplo paradigmático, dada a solidariedade étnica aqui existente – o que animaria e justificaria a proposta criadora7.

Em julho de 1946, participa de reunião da Esquerda Democrática juntamente com Sérgio Milliet, Mário Neme, Arnaldo Pedroso D'Horta, entre outros8. Em 25 de setembro de 1946, participa da fundação da Câmara Brasileira do Livro (CBL), registrando-se como bibliotecário da associação9. Em 1950 torna-se diretor da instituição10, em 1951 é membro do Conselho Consultivo e em 1953 participa do Conselho Fiscal11. Participa de chapa vencedora em eleição e assume a presidência da entidade pelo biênio 1955-1957. 2.10.1 Durante sua gestão, é criado o prêmio literário Jabuti: “o projeto surgiu de discussões internas da CBL, iniciadas e animadas pelo presidente Edgar Cavalheiro”12.

Nos anos seguintes, Cavalheiro participa de diversos congressos, entre os quais, de contistas, poetas, editores e livreiros. Nesse engajamento, apreendem-se as linhas de força de seu pensamento em relação ao livro no Brasil.

No segundo Congresso de Editores e Livreiros do Brasil, em 1954, Edgard propôs e viu aprovada a primeira tese do encontro, enfatizando a “imperiosa necessidade de que se mantenham seções de crítica literária confiadas a representativas e especializadas personalidades intelectuais”13, algo que chama a atenção pela proximidade com a questão da profissionalização do escritor, tema pelo qual Cavalheiro já havia demonstrado interesse no Congresso de Escritores, nove anos antes.

Também em 1954, no Congresso Internacional de Escritores e Encontros Intelectuais, evento realizado sob o patrocínio da Unesco e da Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, Edgard e Paulo Mendes de Almeida propõem e veem ser aprovada a proposta de emenda ao Regimento visando maior representatividade de congressistas na Mesa Diretora14.

Tendo participado do Primeiro Congresso de Editores e Livreiros em 1948, “primeira reunião do setor empresarial de livros15”, Edgard tem ainda seu nome vinculado ao Segundo Congresso, em 1954 e, ao Terceiro, em 1956. Neste, além de integrar a comissão executiva, vê aprovar teses de sua autoria: pelos abatimentos especiais a serem feitos pela imprensa nos anúncios de livros; pela proposição de ofício ao Ministério da Educação e Cultura solicitando estudos sobre a isenção de impostos para publicações estrangeiras; pela melhor distribuição de publicações da ONU, Unesco e FAO no Brasil, se possível com postos de venda nas principais cidades, em bases comerciais idênticas às dos demais livros importados; pela melhoria na operacionalidade do sistema de classificação bibliográfica para beneficiar os leitores; pela conveniência do reestabelecimento do Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro; pela filiação dos órgãos de classe dos editores brasileiros à International Publishers Association; pela criação do prêmio literário “Monteiro Lobato”; pela regulamentação do comércio livreiro16.



1 Carta a Nelson Werneck Sodré. SODRÉ, N. W. Em defesa da cultura. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988, p. 266.

2 SOCIEDADE dos Escritores Brasileiros. Revista da Academia Paulista de Letras, São Paulo, p. 131, mar. 1942.

3 MIRANDA, Gilberto. Escritores e livros. Revista do Globo, Porto Alegre, p. 70, 10 ago. 1946.

4 LIMA, Felipe Victor. O Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores: movimento intelectual contra o Estado Novo (1945). São Paulo, 2010. 229 f. Dissertação (Mestrado em História Social – Orientação: Prof. Dr. Paulo Teixeira Iumatti) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.

5 CAVALHEIRO, Edgard. Não será um conclave acadêmico. Folha da Noite, São Paulo, 11 jan. 1945. Entrevista concedida a (?).

6 SODRÉ, op. cit., p. 334.

7 Atas do I Congresso Brasileiro de Escritores. São Paulo: Associação Brasileira de Escritores, 1945, p. 24 e 36.

8 ESQUERDA Democrática: Grupo Profissional dos Jornalistas. Jornal de Notícias, São Paulo, n. 86, p. 3, 25 jul. 1946.

9 2º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de São Paulo-Capital, livro “A”, n. 3, reg. 1338 de 28/11/1946.

10 DIRETORIA da Câmara Brasileira do Livro. Folha da Manhã, São Paulo, 18 jun. 1950.

11 ELEIÇÕES na Câmara Brasileira do Livro. Folha da Manhã, São Paulo, 21 jul. 1953.

12 Prêmio Jabuti: 50 anos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Câmara Brasileira do Livro, 2008, p. 22.

13 A TESE no. 1. Diário de Notícias. Rio de Janeiro, 15 jan. 1956.

14 Congresso Internacional de Escritores e Encontros Intelectuais. São Paulo: Sociedade Paulista de Escritores-Editora Anhembi, 1957, p. 26-27.

15 KOSHIYAMA, Alice Mitika. Monteiro Lobato: intelectual, empresário, editor. São Paulo: EDUSP; Com-Arte, 2006, p. 16. (Memória Editorial, 4).

16 Congresso de Editores e Livreiros do Brasil (anais). Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1959, p. 181, 182, 190, 197, 204, 206 e 223.