4. Seleta

4.1. Seleta de artigos


CAVALHEIRO, Edgard. Biografias. Jornal do Funcionário, São Paulo, 20 fev. 1935.



É inegável o interesse que as biografias despertam. Períodos há, em que assume ares epidêmicos. Para logo mais, com a volubilidade tão humana, ser abandonada por outros gêneros. Assim, temos épocas do romance, da poesia, da sociologia, do conto etc. Não ouso afirmar, ser o que estamos atravessando, a da biografia. Muitos dizem ser a do romance. Outros, da sociologia. Mas de sociologia ou de biografias, romance ou poesias (não romance ou poesia escritos para distração, para passagem de horas de ócio), o que é assinalável é o cunho altamente didático, altamente educativo de todos esses gêneros... Para quem busca nos livros alguma coisa, algum ensinamento, indiscutivelmente a biografia deve ser a procurada.

Olhando de relance a vasta bagagem que circula por aí, que vemos nós? Ausência total de nomes nacionais. Tudo tradução. Desolador. Um gênero tão atraente, tão curioso. Onde o nosso Maurois? O nosso Ludwig? O nosso Portalés? Falta de matéria? Não creio... Álvares de Azevedo, apesar dos seus dois ou três biógrafos, ainda é assunto palpitante, digno de uma nota forte, segura. Castro Alves, esmiuçado convenientemente por Afrânio Peixoto, ainda não fornecerá a um engenhoso, um belo volume? Uma vida romanceada, com todo o sentimentalismo de que somos capazes? Junqueira Freire não terá direito, porventura, de sair da aridez daquelas páginas que o sr. Homero Pires o sepultou definitivamente? E Fagundes Varela, o boêmio errante, fluminense de nascimento e paulista por formação, que material vasto não fornecerá? Quantos nomes por aí, que vagas reminiscências, passageiras referências nos mostra toda uma vida à procura de um escritor? Não é pois por falta de material. Sim, por desinteresse ou por outro motivo qualquer...

Quantas as grandes biografias que temos? Não chegarão sem dúvida a uma dúzia. O monumento de Alberto Faria sobre Mauá. O de Alfredo Pujol sobre Machado de Assis. O de Afrânio Peixoto sobre Castro Alves. De Alberto de Souza sobre os Andradas... Mais uma ou outra, que estas linhas escritas sem consulta omitem. Vidas romanceadas, à maneira de Guy de Portalés, André Maurois ou Ludwig, quantas temos? Nenhuma... Nada de sério. Tirando duas ou três de Oswaldo Orico, destacando-se com especialidade a sobre Patrocínio, é de uma desolação saárica as restantes... Coelho Netto em Conquista e Fogo Fátuo, abordou vidas em conjunto. Magnificamente. Mas foi uma “caravana” que ele retratou. Não um homem. E Paula Ney, só, que livrão não forneceria a um paciente e jeitoso escritor! Jorge de Lima tem um recentíssimo volume sobre Anchieta, que já foi estudado em mais de um volume. Ou melhor, em quase uma dezena...

Não temos biógrafos. Mas ainda é tempo. O campo é vastíssimo. E não seria tempo de podermos dizer com segurança: atravessamos o período da biografia? Hoje dizem ser o romance. Quando teremos o outro?