5.4. Discurso na Câmara Brasileira do Livro, São Paulo, em 28 ago. 1956.


Discurso proferido pelo presidente em exercício, Edgard Cavalheiro, em homenagem ao ex-presidente da entidade, Abel Ferraz de Souza ([HOMENAGEM a Abel Ferraz de Souza]. Boletim Bibliográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 4, v. 4, p. 173, jul./ago. 1956).



A diretoria da “Câmara Brasileira do Livro”, dando execução a uma proposta unanimemente aprovada em uma de suas assembleias extraordinárias, inaugura hoje, em casa própria, o retrato do seu ex-presidente, o nosso companheiro de todas as horas – Abel Ferraz de Souza. O acontecimento é duplamente grato a todos nós e reveste-se de colorido muito especial. Não só por coincidir esta homenagem com uma data muito cara a todos os amigos de Abel mas, também, pela circunstância toda especial de nos reunirmos, pela primeira vez, no local que já agora, com certa ênfase, poderemos chamar de “a nossa casa”.

Estamos há poucos dias da assinatura do contrato de compra definitiva desta sede. Ela hoje nos pertence, incorporada que foi ao patrimônio desta entidade que congrega livreiros e editores do Brasil. A data é, por isso mesmo, das mais propícias para lembrarmos que se conquistamos tal vitória, a uma pessoa principalmente devemos o termos atingido a meta por tantos anos desejada. Esta sede – nunca é demais repetir – representa, antes de mais nada, um sonho de Abel Ferraz de Souza. Todos nós sabemos que o sonho é sempre o primeiro passo de todas as realizações.

Esta sede, a princípio, não passou disso – um belo sonho de Abel Ferraz de Souza, que não queria, por coisa alguma, passar a presidência da “Câmara Brasileira do Livro” sem deixá-la instalada de forma definitiva. Homem paciente, trabalhador, teimoso e também incansável, dispôs-se a enfrentar todos os obstáculos, seja suportando o pessimismo de uns e a descrença de outros, o “impossível” de tantos. A princípio, realmente, a ideia parecia audaciosa demais para as nossas possibilidades. Mas nada desanimou o então presidente da “Câmara Brasileira do Livro”. Roubando horas preciosas de suas atividades, convencendo uns, amparado por outros, chegou às primeiras negociações, a compra e finalmente a instalação desta Casa. O que era sonho tornara-se indiscutível realidade. E a parte mais dura dessa empresa nós a devemos, sem dúvida alguma ao nosso caro ex-presidente, que é responsável, no entanto, não apenas por essa realização. Não devemos esquecer que, sob a sua presidência, realizou-se o Segundo Congresso dos Editores, ao lado de algumas campanhas memoráveis em prol do livro. Bastaria citar a que nos concedeu isenção do Imposto de Indústrias e Profissões.

Editar, já afirmaram, pode não ser o melhor negócio do mundo, mas é dos mais belos, dos mais nobres. As responsabilidades que pesam sobre os ombros do editor são imensas. E os resultados nem sempre são dos mais compensadores, mormente num país como o nosso, ainda tão pouco afeito ao trabalho com as coisas do espírito. Mas todos nós, que fazemos deste ofício a razão de ser de nossas atividades, não viemos a ele apenas por nos parecer um negócio idêntico aos demais. Não. A atração exercida pelo livro é desses mistérios inexplicáveis. O certo é que uma vez dentro dele, nele sempre estaremos.

Podemos, com muita segurança, afirmar que é ofício que se troque com facilidade por qualquer outro. O livro nos marca. E é irmanados por esse denominador comum que aqui estamos para trazer o nosso abraço a um companheiro que também fez dele a sua razão de ser, a um companheiro que, acreditando no livro, crê, também, que é unidos que melhor podemos ampará-los e divulgá-lo e torná-lo, em dia que esperamos próximo, algo mais do que um artigo para alguns poucos privilegiados.

O retrato que ora inauguramos, meu caro Abel, não propriamente para que estejamos sempre a nos lembrar de você e dos seus esforços em prol da classe a que pertencemos. Para isso não era preciso retrato, pois sua presença nesta Casa é marcada, diariamente, pela solidariedade e ajuda que você empresta a todos os nossos atos, dos maiores aos menores. Esse retrato, ao lado do outro grande presidente, nosso Jorge Saraiva, dirá aos que vierem depois, que enquanto Jorge guiou a “Câmara Brasileira do Livro” nos seus primeiros passos, você a consolidou. Você está, ao lado de Jorge Saraiva, em excelente companhia. E o exemplo de vocês é que nos estimula a prosseguirmos.”