Pégaso azul

Era uma vez, vejam vocês,

um passarinho feio

que não sabia o que era,

nem de onde veio.

 

Então vivia, vivia a sonhar

em ser o que não era

voando, voando com as asas,

asas da quimera.

 

Sonhava ser uma gaivota

porque ela é linda

e todo mundo nota.

E naquela de pretensão

queria ser um gavião,

E quando estava feliz, feliz,

ser a misteriosa perdiz.

E vejam, então, que vergonha

quando quis ser

a sagrada cegonha.

 

E com a vontade esparsa

sonhava ser

uma linda garça.

E num instante de desengano

queria apenas

ser um tucano.

E foi aquele, aquele ti-ti-ti

quando quis ser

um colibri.

Por isso lhe pisaram o calo

e aí então

cantou de galo.

 

Sonhava com a casa de barro,

a do joão-de-barro,

e ficava triste.

Tão triste assim como tu,

querendo ser

o sinistro urubu.

E quando queria causar estorvo

então imitava

o sombrio corvo.

E até hoje ainda se discute

se é mesmo verdade

que virou abutre.

E quando já estava querendo

aquela paz

dos sabiás

cansado de viver na sombra,

voar, revoar

feito a linda pomba.

E ao sentir a falta

de um grande carinho

então cantava feito um canarinho.

E assim o passarinho feio

quis ser até pombo-correio.

 

Aí então Deus chegou

e disse pegue as mágoas.

Pegue as mágoas e apague-as,

tenha o orgulho das águias

Deus disse ainda é tudo azul,

e o passarinho feio

virou o cavalo voador,

esse tal de Pégaso.

 

Pégaso

Pega o Azul

 

 

Musicada e gravada por

Moraes Moreira no álbum

Bazar brasileiro (1980)