III
ÀS VEZES A TRISTEZA NOS MERGULHA NA FRIEZA

 

O que se escuta na

escuridão é apenas o

estampido da noite.

 

 

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nas madrugadas

batucadas abrem

súbitas estradas

de luz em nosso coração

 

cada nota musical é

uma estrela reluzente

no céu de cada um de nós

espasmos de luz

 

orgasmos

azuis

 

 

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Os devaneios são como

uma paisagem talvez bucólica

onde o teto da casa desta imaginação

(imagem em ação miragem da

emoção) é um céu destes bem

nublados e cinzentos percorrido

por caminhões de nuvens penugens

que passam lentamente como

se fossem também, no espelho

convexo do espaço paralelo,

flocos de algodão cinza

e cinzentos e embebidos

por algum éter e/ou clorofórmio

com formas de centauros, elefantes,

unicórnios!!!!!!

 

 

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E que distância é esta que

perturba e não perturba ao

mesmo tempo-espaço-espaço-tempo

todos os seres e antisseres????

Não sei

 

 

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Vem esse eco

de um miasma

ectoplasma

Vem o fantasma

de uma lembrança que um dia foi criança

e hoje adulta oculta

secreta dor que avança

(saudade A cidade)

chuva gelada

gostos que dançam

meus devaneios

autores sem freios

 

 

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Tudo é sempre um equilíbrio flutuante.

Tudo é sempre um hoje de um só instante.

A vida é o absurdo determinado

por nossas imaginações

que nascem dos nossos desejos

que se realizam num turbilhão de beijos

e ao mesmo tempo-espaço

calmaria de beleza e harmonia

dentro da dissonância de tudo.

Nascem de faíscas de luz chamadas de sinapses

em nossos neurônios

que determinam nossos sonhos

sejam risonhos ou tristonhos

e às vezes ao concebê-los

não sabemos se são sonhos ou pesadelos.

 

 

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às vezes a tristeza nos mergulha

na frieza

 

 

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eu vi e percebi

tão somente agora

que a gente está aqui

só para ir embora e aí voltar

de vez em quando de quando em vez

pro coração de alguém como recordação

ou então como mistério de uma doce assombração

 

 

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A vida tem coisas tão dela

tem o amor que é tão bonito

e tudo são cenas paralelas

em direção ao infinito

onde mora o beija-flor escondido na folhagem.

 

Às vezes, perder alguma coisa

é querer perder-se de si mesmo.

 

 

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Era um fio de melodia

que lá de longe se ouvia

de lá onde era meio-dia

começou a voar pelo ar

enrodilhar como se esta melodia

fosse a serpente

oroboros amazônica

me levando

por um labirinto

de folhagens dentro de um denso nevoeiro

e quando finalmente adormeci e depois acordei

vi ao lado

o encordoamento do meu violino

todo arrebentado

a corda do sol

a corda do ré

a corda do mi

e a corda do lá

me entrelaçando

e fiquei a pensar

no maior mistério da vida.

É tudo um enigma

e a solução do enigma

tem que ser outro enigma

maior feito de um amor maior ainda.

 

De repente as cordas do meu violino se transformaram em serpentes

com olhar muito doce

e uma voz ao longe uivava

e era um canto que vinha da floresta amazônica.

Parece-me que era a própria natureza chorando

dizendo: macularam a água da vida e a sua fonte

com a usina de Belo Monte.

 

Neste instante surgiu o curupira

defensor da floresta amazônica

cantando a canção de Caetano que diz:

a lei há de chegar no coração do Pará.

 

 

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E agora sobrou o nada