(Sem título)

linda menina queimada de sol olhando esbelta para aquele lindo garoto voando na asa-delta

roda de samba na frente de um restaurante da zona sul

pares de namorados cantando rock e se beijando provocando pela espinha dorsal um arrepio

todos cantando a canção “Aquele abraço” de Gilberto Gil no Rio

ciúmes no ar do olhar latino quase assassino de um namorado perdidamente enamorado

e ultimamente atormentado de talvez ser corno e corneado

um gesto de beleza sutil de alguém que perdoa os erros do seu amor

criança cega pedindo para que alguém a ajude a atravessar a rua e ninguém ajuda

gato cinzento e malhado pulando daquele telhado

multidão com personalidade e indivíduos com ares de multidão

namorados brigando depois se beijando

um músico triste olhando para o chão pensando em seu impossível amor

ninguém respeitando o sinal com medo de assaltante

balas perdidas caindo ao léu junto com as gotas de chuva no céu

poeta perito em informática chorando escondido para ninguém ver

uma boca vermelha de mulher dizendo que sobreviverá a qualquer massacre de amor

a mão da ternura indescritível na forma da mão de um anjo invisível

revólver brilhando na cintura de um homem de crime ou será da lei?

Guarda multando esposa de deputado corrupto envolvido na CPI do narcotráfico

um excluído gritando que não queria ser excluído

um montão de sem-teto sem-terra penetrando num shopping center escandalizando alguns

fascinando a maioria

um motoqueiro com jeito de James Dean e de Chico Díaz passando ligeiro

o som do rádio de um carro com a voz de Rita Lee cantando os versos: Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck

bando de gatos e gatas chupando sorvete e se balançando no skate

Um anjo do meu lado sussurrando no meu ouvido que tudo acabará bem.