Eu quero ser como a locomotiva
para atropelar você.
Fazendo tchuc tchuc tchuc tchuc tchuc tchuc piuí...
por todos os campos, em todos os cantos
vendo as flores a nascer.
Eu quero ser como um gato do mato
que vive só miando.
Fazendo miau miau miau miau miau...
chorando acordado, chorando dormindo,
chorando cantando.
Eu quero ser como um triste vampiro
voando pela cidade.
Fazendo vum vum vum vum vum vum vum vum...
com minha capa sombria, com a mente tão fria
atrás da felicidade.
Eu quero ser como a serpente da água
que vive só na mágoa.
Fazendo psiu psiu psiu psiu psiu psiu psiu...
comendo a uva, bebendo a chuva
que do céu deságua.
Eu quero ser o telefone de plástico
pra ligar só pra você.
Fazendo trim trim trim trim trim trim...
“Alô, alô, quem fala? É meu grande amor?
Vou saindo pra te ver.”
Eu quero ser como a TV colorida
pra mostrar todas as cores.
Fazendo mmiumm mmiumm mmiumm mmiumm...
num programa de beijos, de loucos desejos
e de loucos amores.
Eu quero ser como um chiclé de bola
pra estourar na sua boca.
Fazendo ploft ploft ploft ploft ploft ploft ploft ploft...
vivendo contente, grudado no seu dente,
ai, que coisa mais louca!
Eu quero ser como um carro de praça
levando a multidão.
Fazendo fon fon fon fon fon fon rrrr fon fon!
Com o corpo cansado, com o breque quebrado
na avenida São João.
Eu quero ser como um riso de amor
na boca de um anjo.
Fazendo hã hã hã hã hã hã hã hã hã ah...
em cima das nuvens, ao lado de Deus,
tocando o meu banjo.