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Capítulo Treze

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As flores de pêssego dançam

Na brisa...

Como sabem os passos?

Todas pensamos, mesmo que fosse silenciosamente, que a Casa Oculta seria diferente sem Carpi. E ainda assim, não estava. Todas estávamos angustiadas por ela, mas ao mesmo tempo sentimos que se estivesse tão determinada a deixar este mundo, então, fizera a coisa certa. Sei que todas as garotas pensaram que eu tinha feito a coisa certa para a pobre Carpi. Ninguém realmente disse isso, mas era perceptível por observações sutis e uma certa aprovação silenciosa. Suzume se tornou também, subitamente, mais parte da família. Imaginei que estivesse contente. Também me perguntei e me preocupei com a observação de Tia em relação ao mizuage de Suzume. Embora ela parecia acreditar na inocência de Suzume, não havia dúvida de que a empregada tinha que ser punida de alguma forma por seu erro. Mas se Suzume não sentisse dor, o que a Tia poderia fazer? Decidi que estava me preocupando sem motivo e tentei diminuir as dúvidas mesquinhas.

De qualquer forma, logo tive mais coisas para me distrair.

A pobre Tia era toda uma agitação. Primeiro, foi Danjuro aparecendo, depois Mori-san fazendo uma oferta para mim. E então a pobre Carpi cometeu suicídio. Como se tudo isso não fosse suficiente para perturbar o padrão uniforme da vida na Casa Oculta, ainda havia mais. Nós, meninas, rimos dizendo, quando a Tia estava bem fora do alcance de nossas vozes, claro, que a Tia devia estar ficando velha mesmo para se deixar aborrecer dessa forma.

O alvoroço na Casa Oculta era um pálido reflexo do que estava prestes a acontecer em todo o país. Assim como o nosso próprio caixão oculto estava começando a ser aberto, o Japão também estava.

Mesmo com a morte de Carpi lançando uma mortalha sobre minha felicidade, não consegui me lembrar de uma época em que me senti mais alegre. Fiel à sua palavra, Danjuro me mandou ir ao kabuki ou iria visitar a Casa Oculta no dia marcado.

Melhor ainda, se é que fosse possível, ele passou a mandar um mensageiro para mim e Suzume como escolta, nos outros dias. Sempre no final da manhã ou no começo da tarde, quando sabia que a Casa Oculta não teria clientes. Deve ter pago uma fortuna à Tia pelos meus serviços, considerando o modo como ela irradiava alegria e ria toda vez que chegava uma carta. A sábia Suzume não tinha tanta certeza. Tendo Danjuro como devotado patrono da Casa Oculta, ela enfatizou cinicamente, era o tipo de recomendação que nenhuma quantia de dinheiro poderia comprar.

– Ele é apenas um ator no kabuki – eu disse, tentando não florear.

Suzume levantou as sobrancelhas. – Apenas um ator? Ele é Danjuro, Midori-san. É o chefe do teatro. Dirige as peças, discute o que quer com os dramaturgos mais famosos do Japão. Sem dúvida possui parte do teatro. Foi adotado por uma das melhores famílias de Edo. Você sabe o quão sortuda você é?

Eu deveria, é claro, ter dado nela uma boa bofetada por sua insolência, mas não consegui fazê-lo. Era estranho, mas eu não conseguia pensar no meu Danjuro como o mesmo homem rico e famoso que ela estava falando. Meu Danjuro era um homem que se entregou totalmente ao teatro, um homem que se preocupava constantemente com o fato de que seu melhor não era bom o suficiente. Um homem que eu ansiava por tê-lo mais e mais a cada dia que passava. Não só quando me convidava, mas o tempo todo. Como sua amante, se era isso que queria. Como sua escrava. Qualquer coisa, desde que estivesse com ele.

Até mesmo a Tia em êxtase começava a deixar amplas pistas de que era hora de Danjuro negociar para me comprar. Ela perguntou se ele havia mencionado tal coisa para mim. Balancei a cabeça tristemente. Não podia nem tentar explicar para ela que era improvável que Danjuro tivesse pensado nisso. Durante vinte e três horas de cada dia, ele vivia para o kabuki. Tive a sorte de ocupar sua mente pela outra hora restante... As vezes.

– Mencione a oferta de Mori-san para ele – instruiu. – E não se esqueça de me dizer exatamente como ele respondeu.

Disse que sim, mas sabia que a Tia ia ficar desapontada. Ela não conhecia Danjuro como eu. Ou pelo menos, como pensei que conhecesse.

Suzume entendeu, eu sabia. Mas então Suzume amava o kabuki tanto quanto eu. Sentia-me viva toda vez que entrava no teatro. Quando estávamos assistindo a uma apresentação, tivemos sorte de estarmos em uma caixa de treliça quando comecei a fazer parte da produção. Imitava as bocas pelos movimentos que expressavam as palavras, silenciosamente, bem como os gestos dos atores. E, cada vez mais frequentemente, fazia alterações em palavras e gestos. Ansiava, quase tanto quanto desejava por Danjuro, por estar nesse palco, agindo ao lado dele.

Provavelmente sem perceber que estava fazendo isso, Danjuro encorajou minhas ambições. Muitas vezes, quando era convocada para o kabuki, quando uma peça não estava em andamento, Danjuro ensaiava comigo, deixando-me assumir o papel de outro ator. Com muito cuidado no início, comecei a fazer sugestões sobre uma pequena mudança no diálogo ou uma abordagem diferente para determinada entrada. Surpreendentemente, Danjuro ouviu o que estava dizendo, e concordou cada vez mais comigo. Logo, comecei a sentir que não era apenas parte da vida de Danjuro, mas também parte do kabuki.

Eu deveria ter sido a garota mais feliz de Edo. E quando estava com o Danjuro, eu era. Mas estar com ele só tornava mais difícil fazer minha parte na Casa Oculta. Apesar de Danjuro, eu ainda era esperada para entreter os clientes. Já não bastava fechar meus olhos e ouvidos e fingir que estava com meu amante, em vez de um comerciante velho, gordo e suado. Mesmo, não, eu minto, especialmente, Mori-san aumentou minha raiva mais do que qualquer um.

Comecei a odiar quando ouvi que ele estava esperando por mim. E quanto mais eu mostrava minha aversão por ele, mais Mori-san se ajoelhava a meus pés e me adorava. A Tia me disse, com um sorriso, que havia elevado sua oferta para mim três vezes. Eventualmente, ela teria que ceder a menos que, claro, Danjuro estivesse disposto a mostrar sua “mão” ...?

Não teria feito isso a menos que tivesse sido levada a isso. Dificilmente teria ousado. Mas Danjuro tinha me convidado, e me cumprimentou plenamente maquiado e fantasiado. Estava ensaiando, segundo comentou, com a companhia. Senti um espasmo de ciúmes e meus intestinos doeram.

A verdade tem que ser dita, Danjuro com maquiagem e fantasia era mais do que eu poderia pensar em resistir. Ele estava vestido para o papel de um grande nobre e pude ver imediatamente que ainda estava no personagem. Estava inteiramente no papel: alto, bonito, imperioso. Acenou para Suzume com um gesto e ela se pôs de pé. Meus joelhos traiçoeiros se recusaram a me suportar por mais tempo e caí no chão no tatame na frente dele, tremendo.

Danjuro colocou as mãos nos meus ombros, seus polegares roçando na base do meu pescoço. Senti sua força, quase podia sentir seu desejo. Tremia, querendo que me levasse de qualquer maneira que desejasse, contanto que fosse totalmente sem piedade. Querendo que apertasse, com sua maneira, no meu pescoço, para me causar dor, para me fazer gritar de prazer e dor e algo mais que eu nem sabia nomear.

Queria que ele me dominasse. Para me fazer sua subordinada.

E não fiquei desapontada.

A voz de Danjuro não era dele quando falou. Em vez disso, ouvi os tons do grande nobre, o homem que podia comprar e vender homens e mulheres em seu menor capricho. – Minha pequena Midori No Me, ajoelhada diante de mim. Quem você adora?

– Você, Danjuro.

– Nenhum outro?

– Não, mestre.

Ele riu, um som alto e alarmante que me fez tremer. Por um momento, fiquei com medo. Este não era o homem que eu pensava ser meu amante. Era Danjuro e ainda algo mais. Isso era uma parte dele que sempre escondeu de mim? Era este o verdadeiro Danjuro? Não fazia ideia. Seu aperto no meu pescoço aumentou, e senti o mundo ficando cinza.

Ele afrouxou o aperto no momento em que eu estava quase inconsciente e balancei, lutando por equilíbrio. Danjuro deu um passo atrás de mim e estava olhando para o meu rosto. Ele parecia incrivelmente alto, pairando acima.

Bateu palmas e eu procurei seu rosto, procurando uma pista sobre o que ele queria. Estava preparada para fazer qualquer coisa, qualquer coisa, mas senti que isso fazia parte de um novo jogo que estávamos jogando. Eu deveria saber o que ele queria. Se eu acertasse, seria recompensada. Se não conseguisse ... Meu sexo pulsava no desconhecido.

Lambi meus lábios e peguei sua árvore de carne, escondida nas vestes volumosas de sua roupa. Ele bateu na minha mão e balançou a cabeça. Estava sorrindo, mas havia pouco humor no sorriso.

– Tente de novo, Midori No Me.

O que? O que ele queria?

Ele estava olhando na direção dos meus seios. Queria que me despir? Estendi a mão e soltei a gola do meu quimono. Balançou sua cabeça. Eu estava tão ferida que senti vontade de gritar. Em um súbito surto de desafio, sentei-me nos meus calcanhares. Muito bem, se ele não me dissesse o que ele queria, então simplesmente esperaria até que ele fizesse.

Andou atrás de mim e pude ouvi-lo respirando. Colocou as mãos nos meus ombros e se inclinou, então estava olhando para o rosto dele de cabeça para baixo. Sua boca sufocou meus lábios e ele me mordeu com força.

– Quem é o seu mestre, Midori No Me? – falou no meu rosto e eu estava ofegante quando respondi.

– É Você, Danjuro.

– Muito bem então, por favor, Mestre Danjuro

– Diga-me como.

– Você  deveria saber.

Ele deu uma volta em minha frente e lambi uma gota de sangue do meu lábio. O gosto era delicioso. Ele me observou e pude sentir sua excitação. De repente, sabia o que esse Danjuro queria. Deslizei com meu estômago no tatame em um gesto de adoração, meus braços estendidos na minha frente enquanto eu fazia minha reverência.

Danjuro me pegou por trás, puxando meu quimono e roupas de baixo sem se preocupar em se despir. Sua árvore de carne parecia enorme quando ele empurrou para dentro de mim e rezei como nunca orei em minha vida antes que a paixão dele não fosse tão ardente ao ponto de se gastar rapidamente.

Não necessitava haver-me preocupado.

Ele brincou comigo. Primeiro rápido, urgente. Então devagar. Sentiu quando eu estava pronta para chegar ao orgasmo e puxei de volta para que apenas a ponta da sua árvore estivesse brincando com a entrada do meu sexo. Empurrei contra ele, desesperada por mais. Desesperada por tudo que ele poderia me dar. Mas Danjuro não estava tendo nada disso. Eu poderia ter gritado quando ele, de fato, saiu de mim.

Sentou-se em suas ancas, sua ereção zombando de mim enquanto se projetava de seu corpo. – Quem é seu mestre, Midori No Me?

Desta vez, não precisei de dicas, nem de educação. Eu rolei sobre meu estômago, rastejando no chão como uma cobra, envolvendo meus lábios ao redor dele. Podia sentir o sabor de Danjuro nos sucos que se misturavam em sua carne. Bebi nossa seiva e achei delicioso.

Mas ainda assim Danjuro brincou. Eu teria levado minha boca até a barriga dele, mas nada disso. Toda vez que eu tentava abocanhá-lo entre meus lábios, ele se afastava. Corri minha língua ao redor da cabeça de sua árvore, procurando por aquele ponto primorosamente terno que nenhum homem pode resistir. Sabia que tinha encontrado quando o ouvi suspirar, e refinei a sutil tortura como apenas uma gueixa, uma mulher que passou todo o seu tempo agradando homens, sabe como fazer. Lambi, mordisquei e finalmente mordi.

Danjuro riu. Se ele estava rindo de prazer, dor ou diversão com minhas tentativas, não tinha ideia. Também não tive tempo para pensar mais nisso.

Sem me libertar da minha boca, ele deitou de costas para que eu ficasse parcialmente sobre ele. Segurou meus ombros com firmeza e me levantou. Eu ainda estava gananciosa por sua carne e tentei aguentar firme.

Assim que fiquei livre, Danjuro me girou para que nossas partes íntimas conhecessem nossas bocas. Uivei com prazer quando sua língua entrou em mim, entrando e saindo, entrando e saindo. Não como uma cobra, pois as cobras são de sangue frio e a língua de Danjuro estava quente, queimando minha carne sensível. Como um incêndio florestal, então. Um fogo que não pode ser saciado até que tenha consumido tudo em seu caminho.

Eu empurrei sua boca, espalhando-me contra ele, forçando muito seus lábios e língua sobre mim o máximo que pude. Chupou minha pérola e eu pensei que estava prestes a explodir. Mas não, por um segundo depois, retirou os lábios e correu o nariz para cima e para baixo na minha abertura, provocando e excitando ao mesmo tempo. Então seus lábios entraram em ação novamente, e sua língua, a eloquente linguagem do ator, estava se forçando dentro de mim.

Pensei que não poderia mais ter prazer. Mas estava errada. Sem retirar os lábios e a língua por um segundo, Danjuro deslizou a mão pelo meu flanco e os dedos no meu ânus. Estava tão escorregadia com meus próprios sucos que o movimento foi fácil. Trabalhou seus dedos em mim por alguns momentos, e depois os retirou lentamente, provocando. Eles logo foram substituídos novamente por seus dedos e polegares, e depois tentadoramente devagar, toda a sua mão. Cerrou o punho e trabalhou em mim.

Foi demais. Senti o calor crescer na minha barriga, espalhando-se para o meu sexo como um fogo em movimento rápido. Gritei contra a carne de Danjuro na minha boca e ele riu novamente.

Foi somente quando minhas sensações começaram a diminuir que Danjuro se afastou do meu corpo, e se virou de modo que ele estava meio sentado, meio agachado em meus seios. Começou a empurrar em minha boca, devagar a princípio, e então tão rápido que não pude fazer nada a não ser tentar contê-lo.

Quando mal conseguia respirar por causa do tamanho dele, ele deu um último grande impulso e sua ejaculação se derramou pela minha garganta, escorrendo pelo canto da minha boca, já que eu não consegui conter tudo.

Danjuro observou me vestir e me arrumar em silêncio. Isso não me preocupou em nada; a maioria dos homens ficam quietos depois do ato. Mas percebi que não mencionara Mori-san para ele e que a Tia ficaria muito descontente comigo se não o fizesse.

Deixei-o até o último segundo possível, quando Danjuro se levantou e estava gentilmente segurando meu braço para me levar até a porta de treliça. Ele estava sorrindo, um sorriso gentil e agradável e me perguntei quem era o verdadeiro Danjuro? O homem que se preocupou que ele não era bom o suficiente para ser Danjuro? O amante intenso e exigente que ele às vezes era? O homem que muitas vezes só queria falar comigo, que me tratou como um igual em um mundo desigual? Ou o homem que eu acabara de ver, que não era apenas meu Mestre, mas que se deleitava com o conhecimento disso.

Balancei minha cabeça com a incerteza de tudo, e então pensei, isso importava? Se o verdadeiro Danjuro era um deles, ou todos eles, ou alguém que eu ainda não conhecia, o que importava para mim? Eu estava aqui. No kabuki. Com meu amante. Isso era tudo o que importava.

– A Tia recebeu uma oferta para me vender – soltei, com raiva de mim mesma por minha falta de jeito.

Danjuro parou e seu aperto no meu braço se intensificou. – Você me surpreende – ele disse suavemente. – Pensava que uma gueixa da sua beleza e talentos poderia ter recebido muitas ofertas.

Estava jogando novamente. Sabia. Muito bem, dois poderiam jogar esse jogo, não apenas um. Sorri para ele, tão alegre quanto pude. – Ah, mas Mori-san não ofereceu para mim apenas uma vez, mas três vezes. Cada uma dessas vezes ele aumentou a quantia disposto a pagar para me ter. Acho que a Tia está ficando tentada.

– Mori-san...

Danjuro estava tocando o lábio superior em um gesto que era familiar para mim. Sempre fazia isso quando tentava orquestrar em um diálogo difícil, e fiquei encantada. Ele não sabia que estava fazendo isso, mas isso significava que estava se concentrando.

– Conheço esse nome. Ele é ourives, não é?

O tom dele era despreocupado, mas o conhecia melhor do que imaginava.

Balancei a cabeça, esperando. Ele estava usando o silêncio como apenas um ator habilidoso podia, esperando que eu vacilasse e fosse forçada a falar de novo. Mas eu não falei. Finalmente, Danjuro falou devagar.

– Você pode dizer à Tia que ficaria muito descontente se ela aceitasse uma oferta para você. De Mori-san ou de qualquer outra pessoa.

Ele se virou e segurou a porta aberta para mim. Suzume estava esperando do lado de fora e ela se curvou profundamente. Danjuro acenou para nós duas, gentilmente. Nós poderíamos ter sido convidadas de honra que ele poderia ter entretido com chá.

Tremi quando dei a mensagem de Danjuro para a Tia para Danjuro. Pensei que ela ficaria furiosa, mas ficou encantada. – Tão bom quanto poderíamos imaginar! Ela cantou. Viu minha expressão perplexa e apontou um dedo para mim.

– Um homem como Danjuro sabe como o jogo é jogado. Nós não poderíamos esperar que ele fizesse uma contraoferta imediatamente. Ele não faria isso. Mas indicou que está interessado em você, criança. Isso vai fazer. Ah, vai.

Fiquei satisfeita e esperei que ela pudesse direcionar Mori-san para outra pessoa. Mas ela não fez. Um pouco de competição daria uma preocupação a mais a Danjuro, havia mencionado ela.