1932

Rádio Sociedade, em fins dos anos 20. Fundada em 20 de abril de 1923 por Edgard Roquette Pinto e Henrique Morize, funcionou, a princípio, no Pavilhão da Tchecoslováquia construído para a Exposição de 1922, quando se comemorou o centenário da Independência do Brasil. Só na década de 1930 a Rádio adquiriu sede própria, na rua da Carioca, 45. Em 7 de setembro de 1936, o governo federal a encampou. É a atual Rádio MEC (Museu de Astronomia e Ciências Afins, Acervo Henrique Morize, HM-F0017).

Rádio Sociedade, at the end of the 1920's. Founded by Edgard Roquette Pinto and Henrique Morize on April 20, 1923, this radio station first worked at the Czechoslovakia Pavillion, built for the 1922 Exhibit to celebrate the 10Oth anniversary of Brazilian Independence. Only in the 1930's, Rádio Sociedade moved to its own headquartes, on rua da Carioca, 45. On September 7, 1936, the federal government took over the station. Now, it is Rádio MEC (Museu de Astronomia e Ciências Afins, Henrique Morize Collection, HM-F0017).

Transmissão e profilaxia da lepra*

Prof. Dr. Adolpho Lutz

Atendendo ao gentil convite da Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra, cumpro o grato dever de tecer algumas considerações em redor do magno problema sanitário que ele constitui, examinando-o, principalmente do ponto de vista da transmissão e profilaxia.

A lepra é uma doença antiqüíssima. Já nos tempos idos eram os atacados isolados em casas especiais. Apesar do grande número desses estabelecimentos, existentes principalmente na Europa, na Idade Média, o isolamento não suprimiu a doença como deveria ter acontecido se ela fosse diretamente transmissível pelo contato de ser humano a ser humano. É verdade que ao correr dos séculos a morféia desapareceu de muitos países europeus, mas o mesmo se deu em relação a outras moléstias que reinaram temporariamente em grandes extensões, devendo ser atribuído esse desaparecimento a condições independentes do isolamento.

Também não se trata de um processo de imunização, porque os imigrantes de regiões hoje indenes adquirem a moléstia com tanta freqüência como os indígenas que vivem em condições semelhantes. É interessante notar que regressando à sua pátria não transmitem a lepra, salvo exceções raríssimas, das quais observei uma apenas. Além disso, não faltam observações de casos em famílias européias que se mudaram para cá, e tenho visto adoeceram meninas e moças que nunca tiveram contato com leprosos. Daí se conclui que a lepra, sem ser diretamente contagiosa, pode ser transmitida nos focos da doença, o que não ocorre em geral nos países indenes.

Hoje em dia, os focos europeus limitam-se principalmente às regiões do Mediterrâneo, do Báltico e à Noruega. Nesta última parece estar agora em franco regresso, em virtude de causas insuficientemente investigadas.

Fora da Europa, o número de focos é enorme. Geralmente, procura-se fazer o isolamento, mas esta medida é sempre muito imperfeita e nunca se tem conseguido a extinção dos focos pelos métodos empregados. A razão é bastante clara. Pelo que acabamos de expor, a lepra entra claramente na grande classe das doenças infecciosas, porém não contagiosas, que são transmitidas por animais geralmente sugadores de sangue, os quais, numa dada região, podem ser abundantes, ou raros, quando não faltam completamente. Todos conhecem os exemplos da febre amarela e da malária.

Para a lepra é possível excluir do papel de transmissores todos os parasitas abundantes nas cidades européias, como sejam os percevejos, as pulgas, os piolhos e também a mosca comum. Os únicos sugadores de sangue que correspondem ao papel transmissor são os mosquitos, os pernilongos, que pertencem aos dípteros da classe dos culicídeos. São, em geral, abundantes nos países mais quentes, como também é a lepra, mas algumas espécies de culicídeos também se observam nas regiões frias e mesmo árticas.

No Havaí, também conhecido pelo nome de Ilhas Sandwich, antigamente não havia dípteros sugadores de sangue, nem lepra. Em certo momento foram introduzidos os dois mosquitos domésticos comuns e cosmopolitas, das zonas quentes, tornando-se uma praga. Ao mesmo tempo formou-se naquele arquipélago um dos focos mais intensos da lepra. A parte da população que não se defende contra os mosquitos, deixando-se picar sem resistência, fornece cerca de dez vezes mais casos do que aquela que faz uso de mosquiteiros e queima píretro.

Admitido o papel dos mosquitos como transmissores da lepra, compreende-se logo por que o isolamento dos leprosos não podia dar resultado. Fechavam-se as portas sobre os doentes, mas deixavam-se asjanelas abertas para os mosquitos entrarem e saírem. Assim, ficam igualmente explicados alguns casos muito bem averiguados que aparecerem na vizinhança dos leprosários.

Os casos que se isolam são os que dão muito na vista, mas são os menos perigosos, porque não têm micróbios na circulação. O perigo se concentra principalmente nos períodos febris, raramente observados nos hospitais.

O aparecimento de lesões novas indica que os micróbios circulam no sangue embora em pequeno número. Os casos com períodos febris, durando várias semanas, devem ser considerados especialmente perigosos e tratados em quartos separados, completamente protegidos contra os mosquitos.

O povo tem o direito de exigir o combate ao mosquito em todas as habitações coletivas e principalmente nas cidades. Para a instalação de leprosários deve-se escolher lugares isolados, livres de mosquitos e sem vizinhos próximos. Mesmo assim, as portas ejanelas devem ser protegidas contra os mosquitos e devem ser feitas inspeções periódicas para excluir sua presença e impedir a formação de criadouros. Nenhuma profilaxia da lepra será completa sem o combate ao transmissor.