Adorno, Theodor Wiesengrund (n.1903, Frankfurt; m.1969, Visp, Suíça). Filósofo e musicólogo alemão, estudou em Frankfurt e Viena. Foi membro do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt (a origem da ESCOLA DE FRANKFURT de teoria crítica), no qual ingressou em 1931. Estudou composição e piano em Viena com Alban Berg e foi vigoroso defensor de Schönberg. Deixou a Alemanha em 1934, indo residir primeiro na Inglaterra e depois se juntando ao Instituto em exílio nos Estados Unidos. De regresso a Frankfurt em 1950, tornou-se diretor do Instituto em 1958. Suas obras incluem Dialektik der Aufklärung (1947, com Max Horkheimer), Philosophie der neuen Musik (1949), The Authoritarian Personality (1950), Negative Dialectics (1966) e colaboração em Der Positivismusstreit in der deutschen Soziologie: Einleitung (1969).
Althusser, Louis (n.1918, Birmandreis, Argélia; m.1990, Yvelines, perto de Paris). Comunista e filósofo francês, estudou na École Normale Supérieure em Paris. Influenciado pelo racionalismo e o estruturalismo franceses, identificou um corte radical entre os escritos de Marx quando jovem e os de sua maturidade e, a favor do último, sustentou o marxismo como ciência, enfatizando o seu anti-humanismo. Suas obras Pour Marx (1965) e, com Étienne Balibar, Lire le Capital (1966) granjearam-lhe um público vasto, embora freqüentemente crítico.
Arendt, Hannah (n.1906, Hanover; m.1975, Nova York). Filósofa germano-americana, estudou nas Universidades de Königsberg, Marburgo, Freiburg e Heidelberg, tendo completado seu doutorado sob a orientação de Karl Jaspers. Em 1933 fugiu para Paris e daí, em 1941, foi para os Estados Unidos, onde trabalhou na área editorial até 1963 e foi figura de destaque em organizações judaicas, por exemplo como diretora de pesquisa da Conferência sobre Relações Judaicas, Nova York (1944-46). Em 1963 tornou-se professora da Comissão sobre Pensamento Social e de 1967 até sua morte foi professora da New School of Social Research. Suas principais publicações incluem The Origins of Totalitarianism (1958), The Human Condition (1958), On Revolution (1965) e On Violence (1970).
Bakhtin, Mikhail Mikailovitch (n. 1895, Orel, ao sul de Moscou; m.1975, Moscou). Filósofo e teórico literário russo. Estudou nas Universidades de Odessa (Faculdade de Filologia) e São Petersburgo. Trabalhou durante 30 anos no Cazaquistão, em Saransk e em Moscou em relativa obscuridade. Em 1957 foi nomeado diretor do Departamento de Literatura Russa e Estrangeira da Universidade de Moscou, cargo que ocupou até sua aposentadoria em 1961. Publicou numerosos livros sob nomes de amigos seus: O método formal na erudição literária foi atribuído a P.N. Medvedev (1928) e Marxismo e filosofia da linguagem a V.N. Volosinov (1929). Isso tem sido motivo de controvérsia, mas em geral se acredita que Bakhtin foi o autor dessas obras. Em 1929 publicou Problemas da poética de Dostoyevsky e em 1966, Rabelais e seu mundo. Sua obra influenciou Julia Kristeva e o Grupo Tel Quel.
Barthes, Roland Gérard (n.1915, Cherbourg; m.1980, Paris). Escritor e crítico francês. Estudou na Sorbonne e ocupou numerosos cargos na Hungria antes de iniciar sua carreira na França, onde foi diretor de Estudos e professor de sociologia dos signos, símbolos e representações coletivas (1962-76) na École Pratique des Hautes Études, de Paris, e professor de semiologia literária no Collège de France. Em 1953 ajudou a fundar a revista Théâtre Populaire e no mesmo ano publicou Le degré zéro de l’écriture que, ao lado de Mythologies (1957), o estabeleceu como um teórico pós-saussureano. Suas outras obras incluem Le plaisir du texte (1973) e o autobiográfico Roland Barthes par Roland Barthes (1975). Ver SEMIÓTICA.
Beauvoir, Simone de (n.1908, Paris; m.1986, Paris). Filósofa e romancista francesa. Educada na École Normale Supérieure, lecionou filosofia em liceus de Marselha, Rouen e Paris. Figura de proa do EXISTENCIALISMO e do FEMINISMO, Simone de Beauvoir foi companheira de toda a vida de Sartre, a quem conheceu em 1929 e com quem fundou e editou Les Temps Modernes (1944). Criticou a excessiva ênfase atribuída por Sartre à liberdade do indivíduo em face das normas sociais. Em Le deuxième sexe (1949), desenvolveu essas idéias com referência à subordinação das mulheres. Além de suas obras filosóficas, escreveu numerosos romances, três volumes de autobiografia e uma memória de Sartre.
Benjamin, Walter (n.1892, Berlim; m.1940, Port Bou, França). Teórico e crítico literário. Estudou em Freiburg, Berlim, Munique e Berna. Teve negado um cargo acadêmico quando sua tese foi rejeitada em Frankfurt no ano de 1925, embora fosse publicada em 1928 como Ursprung des deutschen Trauerspiels. Amigo de Lukács, Adorno, Brecht e Bloch, Benjamin voltou-se para o marxismo (ver ESCOLA DE FRANKFURT). Em 1933 emigrou para Paris, onde estudou Baudelaire. Quando a França foi derrotada e parcialmente ocupada em 1940, Benjamin fugiu para o Sul, mas foi detido na fronteira franco-espanhola onde, ante a perspectiva de ser entregue aos nazistas, preferiu pôr fim à própria vida. Alguns de seus últimos escritos foram reunidos em Illuminationen (1961).
Bergson, Henri Louis (n.1859, Paris; m.1941, Paris). Filósofo francês. Estudou na École Normale Supérieure (1877-81). De 1881 a 1897, lecionou em liceus e escreveu Essai sur les donnéses immédiates de la conscience (1889), obra que consubstanciou a sua distinção crucial entre o tempo como duração contínua na vida cotidiana e o tempo tal como é representado pela ciência — mecânico e descontínuo. Em 1897 lecionou na École Normale Supérieure e, subseqüentemente, no Collège de France (1900-14). Entre 1912 e 1918 Bergson realizou missões diplomáticas na América e na Espanha, e em 1927 foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura. Suas principais obras incluem L’évolution créatrice (1907), na qual rejeitou as explicações mecânicas, deterministas, e Les deux sources de la morale et de la religion (1932).
Bernstein, Eduard (n.1850, Berlim; m.1932, Berlim). Político e cientista político alemão. Aderiu ao Partido Social-Democrata dos Trabalhadores (Eisenachers) em 1871 — vindo a editar o órgão do partido, Der Sozialdemokrat (1881-90) — tornou-se marxista; mas durante seu exílio em Londres (1880-1901) foi também influenciado pelos fabianos, ao mesmo tempo que se tornava amigo íntimo de Engels. Baseada em artigos publicados em Die Neue Zeit (1896-98), sua principal obra revisionista, Die Voraussetzungen des Sozialismus, foi publicada em 1899 (ver REVISIONISMO). Essencialmente, favoreceu um enfoque gradualista para assegurar os direitos econômicos e sociais e, finalmente, o poder político para a classe trabalhadora, em vez de “esperar pela revolução”.
Bloch, Ernst (n.1885, Ludwigshaven; m.1977, Tübingen). Filósofo alemão. Estudou em Munique e Würzburg. Foi influenciado pelo marxismo, o idealismo alemão e a teologia cristã e judaica. Enquanto esteve na Suíça, escreveu seu primeiro livro, Geist der Utopie (1918), em que considerava a arte, a poesia e a música como materializações do potencial de realização humano. Como escritor free-lancer em Berlim na década de 20, fez amizade com Brecht, Weill, Benjamin e Lukács, e se filiou ao Partido Comunista. Em 1933 deixou a Alemanha, instalando-se nos Estados Unidos em 1938. De regresso à Alemanha Oriental em 1949, exerceu a cátedra de filosofia na Universidade de Leipzig, mas caiu no desagrado das autoridades e se mudou para a Alemanha Ocidental como professor de Filosofia em Tübingen.
Brecht, Bertolt (n.1898, Augsburgo; m.1956, Berlim Oriental). Dramaturgo e poeta alemão, estudou medicina na Universidade de Munique e trabalhou por algum tempo em um hospital de Augsburgo. Veemente adversário da Primeira Guerra Mundial, Brecht recebeu a influência do marxismo e do TEATRO político de Piscator. Suas peças refletiram essa influência e foram mais tarde colocadas na lista negra dos nazistas. Em 1933 fugiu para a Suíça e finalmente viajou para os Estados Unidos, onde foi citado pela Comissão de Investigação de Atos Antiamericanos durante a caça às bruxas liderada por McCarthy. Em 1949 voltou a Berlim Oriental, onde fundou o Berliner Ensemble. As obras de Brecht incluem Baal (1918), Mann ist Mann (1926), Die Dreigroschenoper (1928) e Mutter Courage und ihre Kinder (1939).
Bukharin, Nikolai Ivanovich (n.1888, Moscou; m.1938, Moscou). Revolucionário e teórico marxista russo, aderiu ao Partido Social-Democrata russo em 1906 e liderou os bolcheviques em Moscou no ano de 1908. Detido e enviado ao exílio interno, escapou em 1911 para Viena, onde assistiu às conferências de Böhm-Bawerk, familiarizando-se com os austromarxistas; escreveu uma crítica do marginalismo austríaco (Teoria econômica da classe ociosa, 1914) e um estudo do imperialismo (Imperialismo e economia mundial, 1917-18). Regressou a Moscou em 1917 e foi eleito para o Comitê Central dos Bolcheviques, tornando-se também editor do Pravda. Depois de 1922, Bukharin, em contraste com Preobrajensky, passou a defender concessões aos camponeses e o equilíbrio de crescimento econômico entre os setores agrícola e industrial. Em 1928 opôs-se a Stalin a respeito da coletivização e foi exonerado de seus cargos no Pravda e no Politburo. Editou o Izvestia (1934-37), mas foi expulso do Partido Comunista em 1937, julgado por traição e executado em 1938.
Carnap, Rudolf (n.1891, Renânia-Westfália; m.1970, Califórnia). Filósofo germano-americano. Estudou em Freiburg e Jena, obtendo formação em física e matemática. Convidado a Viena por Schlick em 1926, tornou-se figura destacada no CÍRCULO DE VIENA de positivismo lógico. Em Der logische Aufbau der Welt (1928), sustentou que os conceitos científicos podiam ser construídos a partir de um pequeno número de conceitos básicos, os quais estão todos diretamente relacionados com a experiência dos sentidos. Em 1930 fundou com Reichenbach a revista Erkenntnis, órgão oficial do positivismo lógico. Como professor de filosofia natural na Universidade Alemã de Praga, a partir de 1931, publicou Der Logische Syntax der Sprache (1934). Em 1935 emigrou para os Estados Unidos, onde lecionou na Universidade de Chigago a partir de 1936 e, posteriormente, no Institute for Advanced Study, Princeton (1952-54) e na UCLA (1954-61).
Chomsky, Avram Noam (n.1928, Filadélfia). Lingüista, filósofo e ativista político norte-americano. Estudou na Universidade da Pensilvânia. Leciona no Massachusetts Institute of Technology (MIT) desde 1955. Tem escrito extensamente sobre LINGÜÍSTICA, formulando uma nova concepção da estrutura gramatical como inata em vez de aprendida, e sobre teoria social, área em que tem sido um crítico contundente da política externa norte-americana (por exemplo, American Power and the New Mandarins, 1969). Deixou claro que esses dois domínios de sua obra dever ser tratados separadamente.
Croce, Benedetto (n.1866, Percasseroli; m.1952, Nápoles). Filósofo idealista italiano, Croce foi um scholar independente que nunca exerceu um cargo acadêmico, mas foi ministro da Educação do governo italiano em 1920-1 e de novo depois da Segunda Guerra Mundial. Fortemente influenciado por Hegel, desenvolveu uma filosofia do espírito que contém quatro tipos de experiência: experiência cognitiva do particular e do universal (o domínio da estética e da lógica, respectivamente); e experiência prática do particular e do universal (o domínio da economia e da ética). A história é a descrição da atividade do espírito nesses domínios; a filosofia é uma explicação da metodologia da história, da qual é inseparável. Croce também escreveu sobre a obra de outros pensadores, incluindo Hegel, Marx e Vico.
Derrida, Jacques (n.1930, El Biar, Argélia). Filósofo e teórico literário francês. Estudou na École Normale Supérieure, Paris, e Harvard. Lecionou na Sorbonne (1960-64) e está na École Normale Supérieure desde 1965. Em 1962 conquistou o Prêmio Cavaillès por sua tradução de A origem da geometria, de Husserl, para a qual escreveu uma extensa introdução. Seu estudo de Husserl faz parte de sua crítica de metafísica ocidental, que desenvolveu em La voix et le phénomène (1967), L’écriture et la différence (1967) e De la gramatologie (1967). A crítica de Derrida é dirigida contra a filosofia da presença, dominante na filosofia ocidental desde Platão, à qual opõe uma estratégia estrutural conhecida como DESCONSTRUÇÃO.
Dewey, John (n.1859, Vermont; m.1952, Nova York). Filósofo pragmatista norte-americano. Estudou na Universidade de Vermont e na Johns Hopkins. Lecionou em Michigan (1884-94), Chicago (1894-1904) e na Universidade de Columbia (1904-29). Conheceu George Herbert Mead e ajudou a criar a “Escola de Chicago” (ver ESCOLA SOCIOLÓGICA DE CHICAGO. O aspecto central no PRAGMATISMO de Dewey era que a filosofia devia interessar-se pelos problemas e raciocínios associados ao cotidiano, e também exercer uma crítica do mundo cotidiano, não se limitando a uma atividade meramente contemplativa. Mais tarde aplicou sua filosofia aos problemas morais, os quais, sustentou ele, podiam ser julgados de modo prático, segundo a maior ou menor eficácia que as máximas morais tivessem para resolver problemas humanos.
Dilthey, Wilhelm (n.1833, Hesse; m.1911, Tirol do Sul, Áustria). Filósofo hermeneuta alemão. Estudou em Heidelberg e Berlim. Lecionou em Basiléia (1866), Kiel (1868) e Breslau (1871), e foi professor de história e filosofia em Berlim (1882). Dilthey é mais conhecido por sua radical distinção entre análise científica natural e social, a primeira tratando de eventos que podem ser incluídos em leis, ao passo que a segunda se ocupa de fenômenos que só são compreensíveis em função das intenções dos agentes (Einleitung in die Geisteswissenschaften) (1883). Essa posição antinaturalista manifestou-se originalmente como psicologismo científico social, posição da qual Dilthey divergiu mais tarde.
Durkheim, Émile (n.1858, Epinal; m.1917, Paris). Sociólogo francês. Estudou na École Normale Supérieure. Lecionou na Universidade de Bordéus até 1902, quando foi nomeado para uma cátedra na Sorbonne. Suas principais publicações abordaram os métodos sociológicos, as formas de solidariedade social e as funções sociais da religião. Depois da fundação da influente revista L’Année Sociologique (1898), Durkheim tornou-se particularmente interessado no estudo de sociedades arcaicas, bem como da religião e da organização social primitivas. O tema dominante em toda a sua obra foi que a sociedade possui uma realidade acima da dos indivíduos que a compõem, sendo estes compelidos por “fatos sociais” transcendentes na forma de crenças e sentimentos comuns. Durkheim foi um dos fundadores da sociologia moderna e, em particular, da teoria funcionalista. Suas principais obras incluem De la division du travail social (1893), Les règles de la méthode sociologique (1895), Le suicide (1897) e Les formes élémentaires de la vie religieuse (1912).
Einstein, Albert (n.1879, Ulm; m.1955, Princeton). Filósofo natural e físico teórico alemão. Estudou matemática e física na Psicotécnica Federal Suíça, em Zurique. Influenciado por Hume e Mach, Einstein deu contribuições fundamentais para a física teórica, especialmente em sua teoria da relatividade (1916). Sua obra veio a desafiar a crença no empirismo que dominava a filosofia da física na primeira parte deste século. Em seus últimos anos esteve ativo nos movimentos para limitar o desenvolvimento e a propagação de armas nucleares.
Elias, Norbert (n.1897, Breslau; m.1990, Amsterdã). Sociólogo alemão. Formou-se em medicina, filosofia e psicologia nas universidades de Breslau e Heidelberg, após o que trabalhou com Karl Mannheim em Frankfurt. Elias fugiu da Alemanha nazista em 1933, indo primeiro para a França e depois para a Grã-Bretanha, onde foi professor de sociologia na Universidade de Leicester (1945-62); exerceu funções docentes na Universidade de Gana (1962-4) e depois trabalhou no Zentrum für Interdisziplinäre Forschung em Bielefeld (Alemanha). Desenvolveu uma abordagem a que deu o nome de “sociologia figuracional”, a qual examina o surgimento de configurações sociais como conseqüências não-premeditadas da interação social e foi descrita em seu livro O que é sociologia? (1970). Sua obra mais conhecida é o O processo civilizador (2 vols., 1939), que analisa os efeitos da formação dos estados na Europa sobre os estilos de vida individuais, a personalidade e as moralidades.
Engels, Friedrich (n.1820, Barmen; m.1895, Londres). Filósofo social e homem de negócios alemão, Engels foi, com Marx, um dos fundadores do comunismo moderno. Convencido de que a classe trabalhadora emergente da Revolução Industrial seria o instrumento da transformação revolucionária, seu livro A situação da classe operária na Inglaterra (1845) atraiu as atenções gerais. Publicou numerosas obras em colaboração com Marx, incluindo o Manifesto do Partido Comunista (1848), e, depois da morte deste, trabalhou na organização, a partir dos manuscritos deixados por Marx, e publicação do segundo e terceiro volumes de O capital em 1885 e 1894. Embora minimizasse seu próprio papel, sua obra em economia política e no desenvolvimento da consciência de classe foram contribuições significativas para o marxismo e, antes de 1914, era ele, mais do que Marx, o principal responsável pela difusão das idéias marxistas.
Fanon, Frantz (n.1925, Martinica; m.1962, Washington). Psiquiatra e filósofo social francês. Formado em medicina e psiquiatria na Universidade de Lyon, na década de 50, Fanon foi para a Argélia, onde dirigiu o departamento psiquiátrico do Hospital Blida-Joinville (1953-56) e se tornou simpatizante dos rebeldes argelinos, dando seu apoio à luta armada. Pele negra, máscaras brancas (1952) é uma descrição da degradação psicológica dos argelinos e dos colonos franceses em conseqüência do domínio colonial. Em 1960 foi nomeado embaixador em Gana pelo Governo Provisório da Argélia, mas teve de viajar para a União Soviética e depois Washington a fim de se tratar de leucemia. Fanon defendeu a revolução em todo o Terceiro Mundo em Os condenados da terra (1961).
Foucault, Michel (n.1926, Poitiers; m.1984, Paris). Filósofo e historiador das idéias francês. Estudou na École Normale Supérieure a partir de 1946 e mais tarde desempenhou funções acadêmicas em várias instituições européias, culminando com sua eleição para o Collège de France em 1969. Ofereceu novas perspectivas para a análise de uma série de disciplinas, como psicologia, psiquiatria, medicina e filosofia, e suas numerosas publicações refletem a ampla gama de suas investigações. Estava particularmente interessado no modo como os vários discursos do “poder-saber” — tais como medicina, psiquiatria, penalogia e sexualidade — operam sobre o indivíduo. Suas obras incluem Histoire de la folie à l’âge classique (1961, nova ed. 1972), Les mots et les choses (1966) e L’archéologie du savoir (1969).
Freud, Sigmund (n.1856, Freiberg; m.1939, Londres). Psicólogo austríaco, fundador da psicanálise. Formado em medicina em Viena, especializou-se em neurologia (1874-79) e em 1885-6 estudou com Jean Charcot em Paris. Trabalhou no Hospital Geral de Viena (1882-85) e se tornou professor na universidade em 1885, estabelecendo no ano seguinte a sua clínica privada. Em 1902 fundou a Sociedade Psicanalítica de Viena e, em 1910, a Associação Internacional de Psicanálise. Também fundou duas revistas: Zeitschrift für Psychanalyse und Imago e Jahrbuch der Psychoanalyse. Em 1938 foi para a Grã-Bretanha como refugiado do nazismo. Seus escritos estão coligidos na Standard Edition of the Complete Works of Sigmund Freud (org. por J. Strachey, 24 vols., 1953-74).
Fromm, Erich (n.1900, Frankfurt; m.1980, Locarno). Psicólogo germano-americano. Estudou na década de 20 nas Universidades de Heidelberg e Munique e no Instituto da Sociedade Psicanalítica Alemã. Lecionou psicanálise no Instituto de Pesquisa Social (Frankfurt, 1929-32), onde trabalhou com outros membros da ESCOLA DE FRANKFURT e se dedicou a estabelecer uma relação entre psicanálise e marxismo. Continuou sua associação com o Instituto, no exílio, na Universidade Columbia (1934-38). Subseqüentemente, foi professor de psicanálise na Universidade Nacional Autônoma do México, a partir de 1951, e em seus últimos anos dedicou grande parte do seu tempo ao estudo da agressão (The Anatomy of Human Destructiveness, 1973), assim como ao apoio ao movimento pacifista e aos socialistas democráticos dissidentes da Europa Oriental.
Gadamer, Hans-Georg (n.1900, Marburgo). Filósofo hermeneuta alemão. Estudou em Munique e Marburgo, e foi amigo e discípulo de Heidegger. Foi professor de filosofia em Marburg (1937-9), Leipzig (1939-47), Frankfurt (1947-9) e Heidelberg (1949-68), após o que se aposentou. Sua principal obra é Wahrheit und Methode (1961), em que descreve a sua abordagem da hermenêutica como um processo ativo, criativo, não meramente passivo, mediado pela tradição cultural do intérprete. Ver HERMENÊUTICA.
Gandhi, Mahatma [Mohandas Karamchand] (n.1869, Porbandar; m.1948, Délhi). Líder nacionalista e espiritual indiano. Estudou na Índia e na Grã-Bretanha, diplomando-se como advogado em Londres. A partir de 1920 dominou o Congresso Nacional Indiano, convertendo-o em um movimento de massa. Famoso por sua defesa da “resistência não-violenta”, Gandhi liderou os nacionalistas indianos em uma série de confrontações com o domínio colonial britânico, optando pela força da verdade e da não-violência na luta contra o mal. Ver HINDUÍSMO E TEORIA SOCIAL HINDU.
Gramsci, Antonio (n.1891, Ales, Sardenha; m.1937, Roma). Ativista e teórico político marxista. Em 1911, ganhou um bolsa de estudos para a Universidade de Turim e aderiu ao Partido Socialista Italiano (PSI), mas abandonou os estudos sem se diplomar e se dedicou a ajudar na publicação dos jornais socialistas Avanti! e Il Grido del Popolo. Em maio de 1919 ajudou no lançamento de um semanário, L’Ordine Nuovo, sendo seu editor em 1919-20 e também o principal organizador dos conselhos de fábrica em Turim. Um dos membros fundadores do Partido Comunista Italiano (PCI), tornou-se seu líder em 1924. Detido em 1926, dois anos depois foi condenado à prisão, onde passou os nove anos seguintes; lá começou a escrever os Cadernos do cárcere, sobre temas que vão da arte e da cultura à estratégia política e que influenciaram profundamente o pensamento marxista subseqüente. Ver HEGEMONIA.
Habermas, Jürgen (n.1929, Düsseldorf). Filósofo social e sociólogo alemão. Estudou em Göttingen e Frankfurt, lecionou em Heidelberg e Frankfurt, e foi diretor do Instituto Max Planck, em Starnberg (1971-82). Desenvolveu uma crítica da consciência tecnocrática que invade o “mundo” nas sociedades capitalistas tardias. Sua teoria crítica visa gerar uma consciência da dupla natureza da racionalidade, como instrumental e comunicativa (The Theory of Communicative Action, 1981). Mais recentemente tem sido um crítico contundente do pós-modernismo (The Philosophical Discourse of Modernity, 1985). Ver ESCOLA DE FRANKFURT.
Hayek, Friedrich August von (n.1899, Viena; m.1992). Economista austríaco. Estudou na Universidade de Viena. Foi o primeiro diretor do Instituto de Pesquisa Econômica da Áustria (1927-31). De 1931 a 1950, foi professor de ciência econômica da London School of Economics. Durante esse período desenvolveu em numerosos livros (por exemplo, Prices and Production, 1931) a chamada ESCOLA AUSTRÍACA DE ECONOMIA. As obras de Hayek no pós-guerra tenderam à diversificação em filosofia política, direito e epistemologia. Sua análise da natureza do conhecimento na sociedade (em Individualism and Economic Order, 1949) constitui um elemento crucial em sua crítica do planejamento central. Também desenvolveu uma crítica do POSITIVISMO (The Counter-Revolution of Science, 1952) e deu importantes contribuições para a filosofia política liberal (Law Legislation and Liberty, 1973-79). Dividiu com Gunnar Myrdal o Prêmio Nobel de Economia em 1974.
Heidegger, Martin (n.1889, Messkirch; m.1976, Messkirch). Filósofo alemão. Estudou em Freiburg (aluno de Husserl) e lecionou em Marburgo (1923-28) antes de ser nomeado reitor da Universidade de Freiburg, quando declarou sua adesão a Hitler. Foi afastado do ensino, depois da Segunda Guerra Mundial, pelas forças de ocupação, mas continuou exercendo grande influência sobre a filosofia. Sua obra magna é Sein und Zeit (1927), a qual fixou um programa para toda a obra subseqüente a que dedicou sua vida: o exame do ser humano — Dasein — em seu caráter temporal. Embora seu nome esteja associado ao EXISTENCIALISMO, que recebeu sua influência, Heidegger não se via nesses termos.
Hilferding, Rudolf (n.1877, Viena; m.1941, Paris). Economista marxista. Estudou medicina em Viena e exerceu clínica médica até 1906, mas dedicou a maior parte do seu tempo ao estudo da economia política. Ficou conhecido por suas freqüentes colaborações sobre assuntos econômicos para Die Neue Zeit e por sua réplica (publicada em 1904) à crítica de Böhm-Bawerk da teoria econômica de Marx. Em 1920, depois de se tornar cidadão prussiano, foi nomeado para o Conselho Econômico do Reich, foi membro do Reichstag de 1924 a 1933 e ministro das Finanças em dois governos (1923 e 1928-29). Depois da tomada do poder pelos nazistas, foi para o exílio, mas, em 1941 cometeu suicídio ao cair em poder da Gestapo. Celebrizou-se com seu livro O capital financeiro (1910), no qual analisou os mais recentes desenvolvimentos do capitalismo, sobretudo o papel dos bancos, o imperialismo e o perigo de guerra. Ver AUSTROMARXISMO.
Husserl, Edmund Gustav Albrecht (n. 1859, Prossnitz, Morávia austríaca; m.1938, Freiburg). Filósofo alemão, fundador da FENOMENOLOGIA. Formado em matemática em Leipzig, Viena e Berlim, procurou estabelecer os fundamentos da matemática e da lógica, e depois das ciências, tentando identificar as estruturas fundamentais da consciência. A fenomenologia (uma ciência das aparências) mantém em suspenso questões sobre o status existencial dos objetos de consciência a fim de intuir as essências tal como são constituídas pelo ego transcendental (Logische Untersuchungen, 1900-01). Husserl lecionou em Halle, Göttingen e Freiburg (onde Heidegger foi seu aluno e o sucedeu). A herança judaica de Husserl (que ele tinha rejeitado em favor do protestantismo) resultou em sua perseguição pelos nazistas.
James, William (n.1842, Nova York; m.1910, New Hampshire). Psicólogo e filósofo norte-americano. Estudou em Harvard (medicina), onde veio a ser depois professor de filosofia e psicologia. Era irmão do romancista Henry James. Começou publicando obras na área da psicologia, mas também escreveu sobre religião (The Varieties of Religious Experience, 1902). É um dos fundadores do PRAGMATISMO, sob o argumento de que as idéias são instrumentos que devem ter “valor monetário” em termos de suas conseqüências para que possam ser consideradas de algum mérito. Sua obra influenciou George Herbert Mead.
Jaspers, Karl Theodor (n.1883, Oldenburg; m.1969, Basiléia). Filósofo suíço-alemão. Formado em direito em Heidelberg e Munique, e em medicina em Berlim (onde recebeu o doutorado). Sua primeira obra foi de psicologia (Psychologie der Weltanschauungen, 1919). Foi filósofo existencialista e professor de filosofia em Heidelberg, depois proibido de lecionar e de fazer conferências por Hitler, bem como privado do seu título de professor em 1937. Crucial em sua filosofia é a distinção entre Dasein e Existenz.
Jung, Carl Gustav (n.1865, Kesswil; m.1961, Lucerna). Psiquiatra suíço. Estudou em Basiléia (1895-1900), trabalhou na Clínica Psiquiátrica Burghölzli, em Zurique (1905-13), e iniciou sua clínica privada em 1909. Professor de psicologia na Universidade Politécnica Federal de Zurique (1933-41) e de psicologia médica a partir de 1944, trabalhou com Freud, cuja obra A interpretação dos sonhos (1900) tinha muito em comum com seu trabalho; mas depois de 1913 Jung se tornou cada vez mais crítico de Freud, acreditando que este último atribuía uma ênfase excessiva à repressão e aos traumas sexuais em seu esquema explicativo. Os escritos de Jung foram publicados como The Collected Works of C.G. Jung (org. por H. Read, 19 vols., 1953-79). Ver PSICANÁLISE.
Keynes, John Maynard Lord (n. 1883, Cambridge; m.1946, Tilton, Sussex). Economista inglês. Tendo estudado em Eton e no King’s College, em Cambridge, Keynes permaneceu nessa cidade depois de formado a fim de estudar ciência econômica com Alfred Marshall. Depois de breve período no serviço público, voltou a Cambridge para lecionar ciência econômica e se tornou editor do Economic Journal em 1911. Durante a Primeira Guerra Mundial trabalhou no Tesouro e foi o seu principal representante em Versalhes. Na Segunda Guerra Mundial, Keynes foi responsável pela negociação com os Estados Unidos do acordo de Empréstimo e Arrendamento e participou do acordo de Bretton Woods que estabeleceu o Fundo Monetário Internacional. É especialmente conhecido por seus escritos sobre economia, com destaque para The General Theory of Employment, Interest and Money (1936). Ver KEYNESIANISMO.
Kristeva, Julia (n.1941, Bulgária). Teórica literária e cultural, lingüista e psicanalista. Influenciada pelo FORMALISMO russo (especialmente pela obra de Bakhtin), mas também pelo marxismo e pela psicanálise, Kristeva emigrou para a França em 1966 e agora leciona na Universidade de Paris VII. Em A revolução da linguagem poética (1974), desenvolveu uma teoria da “semiótica” — domínio da criança pré-lingüística —, que fica envolvida e reprimida pela linguagem e a racionalidade impostas na vida subseqüente. Está engajada desde então em um feminismo de inspiração psicanalítica.
Kropotkin, Piotr Alexeievitch (n.1842, Moscou; m.1921, Moscou). Teórico anarquista. Estudou em uma instituição de elite, o Corpo de Pajens, em São Petersburgo. Abandonou uma carreira científica em 1871 para se dedicar à atividade revolucionária. Preso em 1874, evadiu-se em 1875 para o Ocidente, permanecendo no exílio até 1917, quando voltou à Rússia. Kropotkin construiu uma teoria “científica” da sociedade: a ajuda mútua, não a competição darwiniana, era a lei fundamental da evolução na natureza e na sociedade. Em vários livros, criticou o estado centralizado pela produção em grande escala, a divisão do trabalho e os poderes coercitivos, acreditando que ele seria varrido por uma revolução. Defendia uma sociedade de pequenas comunidades baseadas na cooperação voluntária, o que permitiria o desenvolvimento das capacidades do indivíduo. Ver ANARQUISMO.
Kuhn, Thomas Samuel (n.1922, Cincinatti). Filósofo e historiador da ciência norte-americano. Formado em física, Kuhn voltou suas atenções para a história da ciência a fim de escrever um livro amplamente citado e controverso, The Structure of Scientific Revolutions (1962), no qual contrastou o desenvolvimento histórico da ciência com a noção trivial de ciência como empreendimento puramente racional. A prática científica, sustentou ele, é usualmente governada por um paradigma, uma visão do mundo sancionada pela comunidade científica, mas quando as anomalias se acumulam essa “ciência normal” pode ser derrubada por uma “revolução” em que o paradigma reinante é substituído por um novo. Essa tese suscitou muito debate depois de sua publicação, e desenvolvimentos posteriores da obra de Kuhn têm se encaminhado freqüentemente em direções relativistas. Ver SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA.
Lenin, Vladimir Ilyich [Vladimir Ilyich Ulyanov] (n.1870, Simbirsk; m.1924, Gorki). Estadista revolucionário e teórico político russo. Estudou por pouco tempo na Universidade de Kazan e depois se dedicou inteiramente às atividades revolucionárias. Regressou do exílio com o deflagrar da Revolução Russa e liderou a segunda fase desta (bolchevique), tornando-se presidente do Conselho de Comissários do Povo. Em obras como Que fazer? (1902) e Estado e revolução (1917), descreveu a natureza do estado socialista e imprimiu uma ênfase diferente à teoria da revolução de Marx ao sublinhar a centralidade da luta de classes liderada por um partido rigorosamente organizado, e, em O imperialismo, fase superior do capitalismo (1916), elaborou uma teoria do imperialismo como etapa final do capitalismo. Através da Internacional Comunista, que ele inspirou, suas idéias foram divulgadas no mundo inteiro. Foi o mais influente líder político e teórico do marxismo no início do século XX, mas a atração do LENINISMO declinou no transcorrer do século.
Lévi-Strauss, Claude (n.1908, Bruxelas). Antropólogo francês. Estudou na Faculdade de Direito, em Paris, e na Sorbonne. Influenciado pelas abordagens de Saussure, Trubetzkoy, Jakobson e Mauss, desenvolveu o que se tornou conhecido como “antropologia estrutural”; suas principais publicações incluem As estruturas elementares do parentesco (1949), Tristes trópicos (1955), O pensamento selvagem (1962) e Mytologiques (1964-72). Sua obra também teve considerável impacto sobre outras ciências sociais e sobre algumas formas de pensamento marxista. Ver ANTROPOLOGIA; ESTRUTURALISMO.
Lorenz, Konrad Zacharius (n.1903, Viena). Etologista austríaco. Fundador da etologia moderna, formou-se na Universidade Columbia e em Viena (onde estudou medicina). Lecionou em Viena (1937-40) e Königsberg (1940-42), criou um departamento de etologia comparada no Instituto Max Planck, em Bulden, e dirigiu o Departamento de Sociologia Animal do Instituto de Etologia Comparada da Academia de Ciências Austríaca (1973). Entre suas principais obras estão Zur Naturgeschichte der Aggression (1963) e Begründungen der Ethologie (1978).
Lukács, György [Georg] (n.1885, Budapeste; m.1971, Budapeste). Filósofo e crítico literário. Estudou na Universidade de Budapeste, onde obteve o doutorado em 1906. Também tomou aulas particulares com Heinrich Rickert em Heidelberg (1912-15). Autor de muitos livros e ensaios, sua obra teórica mais conhecida (e também uma de suas primeiras) foi Geshichte und Klassenbewusstsein (1923), na qual desenvolveu a sua teoria da consciência de classe e reavaliou a significação de Hegel para o marxismo; elaborou uma teoria da alienação e da reificação muito antes de terem sido publicados os primeiros manuscritos de Marx sobre o assunto. Líder do movimento comunista húngaro, esteve politicamente ativo na Comuna húngara de 1919 e de novo no efêmero governo instalado depois da revolta de 1956.
Luxemburgo, Rosa (n.1871, Zamoċ, Polônia; m.1919, Berlim). Socialista revolucionária polonesa. Estudou matemática, ciências naturais e economia política na Universidade de Zurique, ajudou a criar o Partido Social-Democrata da Polônia e em seguida se mudou para a Alemanha. Luxemburgo defendeu a causa da revolução e expôs sua oposição ao REFORMISMO em Reforma social ou revolução (1899). Em Greve de massas, partido político e sindicatos (1906), propôs a greve de massas, não a vanguarda organizada defendida por Lenin, como o mais importante instrumento da revolução proletária. E em sua principal obra teórica, A acumulação de capital (1913), identificou o IMPERIALISMO como uma luta competitiva entre nações capitalistas que culminará no colapso do sistema capitalista. Fundou com Karl Liebknecht a Liga dos Espartaquistas, e ambos foram brutalmente assassinados na prisão por oficiais da extrema direita em 1919, depois da supressão de um malogrado levante em Berlim.
Malinowski, Bronislaw (n.1884, Cracóvia; m.1942, New Haven, Connecticut). Antropólogo social. Estudou na Inglaterra, onde iniciou sua carreira. Contribuiu para a transformação da ANTROPOLOGIA do século XIX em uma ciência moderna, baseada no trabalho de campo, e para o estabelecimento de uma escola britânica de antropologia social. Autor de numerosas obras, como Magic, Science and Religion (1925), empreendeu extensos estudos de pequenas sociedades não-letradas e foi um dos originadores da abordagem funcionalista para o estudo da cultura. Ver FUNCIONALISMO.
Mannheim, Karl (n.1893, Budapeste; m.1947, Londres). Sociólogo húngaro. Estudou nas Universidades de Berlim, Budapeste, Paris e Freiburg. Foi companheiro de Lukács na Comuna húngara de 1919, quando se viu obrigado a fugir para a Alemanha em 1919 e de novo, agora da Alemanha para a Inglaterra, em 1933. Lecionou em Heidelberg, em Frankfurt, na London School of Economics e no Instituto de Educação (Universidade de Londres). Foi o fundador da chamada SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO, que se propôs mostrar as raízes sociais do conhecimento (Ideologie und Utopie, 1929, e Essays on the Sociology of Knowledge, 1952), e estava interessado primordialmente na possibilidade de transcender os pontos de vista parciais de várias facções sociais e políticas a fim de se produzir um certo grau de consenso através da obra de intelectuais “socialmente nãocomprometidos”.
Mao Tse-tung [Mao Zedong] (n.1893, Xaochan; m.1976, Pequim). Revolucionário e estadista chinês, foi o líder da Revolução Chinesa de 1949 e o arquiteto da nova China comunista. Depositava grande fé no potencial revolucionário e na capacidade criativa do campesinato e das massas em geral, mas é grande o debate quanto à natureza e à originalidade de sua contribuição teórica para o marxismo. Sua oposição à burocracia inspirou a “Revolução Cultural” de 1966-76, que causou uma década de caos e convulsão política na China. Ver MAOÍSMO.
Marcuse, Herbert (n.1898, Berlim; m.1979, Munique). Teórico social e político. Estudou filosofia em Berlim e Freiburg, e ingressou no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt em 1933, tornando-se posteriormente uma figura-chave na ESCOLA DE FRANKFURT. Foi um proeminente porta-voz da NOVA ESQUERDA na década de 60 e início dos anos 70, e crítico da natureza da sociedade contemporânea (Ideologia da sociedade industrial, 1964). Sua teoria social recorreu a numerosas fontes, em especial ao Jovem Marx, a Hegel, Heidegger e Freud, e sua natureza eclética está refletida em obras como Razão e revolução (1941), sobre Hegel, e Eros e civilização (1955), sobre Freud.
Marshall, Alfred (n.1842, Londres; m.1924, Cambridge). Economista inglês. Estudou na Merchant Taylor’s School e no St. John’s College, de Cambridge, diplomando-se em matemática. Em 1868 lecionou ciência moral em Cambridge, período durante o qual iniciou seu estudo de ciência econômica. Voltou a Cambridge (depois de ensinar em Bristol) como professor de economia política em 1885 e se estabeleceu como a força dominante na ciência econômica britânica com a publicação de Principles of Economics (1890). A intervenção de Marshall foi fundamental para o estabelecimento, em 1903, de um novo exame de economia e política na Universidade de Cambridge, para a obtenção do título com distinção, tendo ele próprio que o financiar em parte. Ver CIÊNCIA ECONÔMICA; ESCOLA ECONÔMICA MARGINALISTA.
Marx, Karl Heinrich (n.1818, Trier; m.1883, Londres). Filósofo social e revolucionário alemão. Formado nas Universidades de Bonn e Berlim, Marx desenvolveu uma concepção materialista da história (A ideologia alemã, escrita com Engels, 1845-6) e anteviu uma revolução global como a culminação do conflito entre os capitalistas e o proletariado, a ser seguida pela construção de uma sociedade sem classes, comunista. O Manifesto comunista (escrito com Engels, 1848) foi um dos mais influentes panfletos políticos de todos os tempos, e os três volumes de O capital (1867, 1885 e 1894) apresentaram uma profunda análise do processo capitalista de produção. Politicamente ativo, Marx foi uma figura decisiva no estabelecimento da Associação Internacional dos Trabalhadores em 1864, tornando-se finalmente o seu líder. É a mais importante figura na história do pensamento socialista e suas idéias mudaram profundamente a vida social e as ciências sociais no século XX. Ver MARXISMO.
Mauss, Marcel (n.1872, Epinal-en-Lorraine; m.1950, Paris). Sociólogo e antropólogo francês. Estudou filosofia em Bordéus e história da religião na École Pratique des Hautes Études. Durante toda a sua carreira, esteve profundamente envolvido em trabalho de colaboração com Durkheim — a noção de “fatos sociais totais” é atribuída a Mauss — e outros, e desempenhou importante papel na edição da revista L’Année Sociologique. Suas contribuições teóricas provêm principalmente de ter aplicado e refinado a sociologia durkheimiana (ver ANTROPOLOGIA; ESCOLA SOCIOLÓGICA DE DURKHEIM); e seus estudos, como Le don (1925), muito influenciaram os antropológos franceses subseqüentes, entre eles Lévi-Strauss.
Mead, George Herbert (n.1863, Massachusetts; m.1931, Chicago). Filósofo e sociólogo norte-americano. Estudou no Oberlin College, em Harvard (onde foi aluno de William James), Leipzig e Berlim. Passou a maior parte de sua vida ativa na Universidade de Chicago (a partir de 1894), onde desempenhou um papel decisivo na formação da “Escola de Chicago” do PRAGMATISMO, a qual teve grande impacto no desenvolvimento do INTERACIONISMO SIMBÓLICO. Mead sustentava que o desenvolvimento do Eu era um processo que só ocorria em interação social (Mind, Self and Society, 1934).
Mead, Margaret (n.1901, Filadélfia; m.1978, Nova York). Antropóloga e crítica cultural norte-americana. Estudou no Barnard College, Nova York, e na Universidade Columbia. Ao longo de toda a sua carreira, seus estudos antropológicos foram preponderantemente orientados para desafiar convenções aceitas, sobretudo em termos de papéis de GÊNERO; e, no debate natureza-cultura, ela favorecia claramente a segunda (Male and Female, 1949). Além de sua obra antropológica, também comentou sobre desarmamento, feminismo e cultura da juventude. Ver ANTROPOLOGIA.
Merleau-Ponty, Maurice (n.1908, Rochefort-sur-Mer; m.1961, Paris). Filósofo existencialista francês. Formado na École Normale Supérieure, lecionou em numerosos liceus e subseqüentemente na Universidade de Lyon (1945-48), na Sorbonne (1949-52) e no Collège de France (1952-61). Fundou e co-editou com Sartre e Simone de Beauvoir a revista Les Temps Modernes (1944). Influenciado por Husserl, Merleau-Ponty tentou, não obstante, afirmar a existência de um mundo que transcende a consciência, mas só é acessível através da percepção (La phénoménologie de la perception, 1945). Tinha simpatia pelo marxismo, mas era crítico dele, e em Les aventures de la dialectique (1955) criticou o marxismo “vulgar” que impregnava o movimento comunista e refutou as idéias de determinismo histórico. Também foi crítico das teses de Sartre sobre a autonomia suprema do indivíduo. Ver EXISTENCIALISMO; FENOMENOLOGIA.
Pareto, Vilfredo Federico Damaso (n.1848, Paris; m.1923, Genebra). Economista e sociólogo italiano. Formado no Instituto Politécnico de Turim e na Universidade de Turim, onde estudou ciências matemáticas. Trabalhou na indústria de engenharia mecânica durante 20 anos e só abraçou a carreira de economista na década de 1890. Em 1893 foi nomeado professor de economia política na Universidade de Lausanne. Seu Cours d’economie politique (1897) e o Manuale di economia politica (1906) são abundantes em metáforas mecanicistas de ciência natural, e nesses textos muito abstratos faz sua primeira aparição o Homo oeconomicus. Pareto voltou então as suas atenções, cada vez mais, para a sociologia, afirmando que os homens, “em geral, agem de um modo não-lógico”, pelo que o mundo ideal do Homo oeconomicus não era esclarecedor ao descrever o mundo real. No Trattado di sociologia generale (1916-19), elaborou a categoria da ação não-lógica e também uma influente teoria das elites.
Parsons, Talcott (n.1902, Colorado Springs; m.1979, Munique). Sociólogo norte-americano. Estudou no Amherst College, na London School of Economics e na Universidade de Heidelberg. O tema comum de suas principais obras (The Structure of Social Action, 1937, The Social System, 1951) é a sua crença em uma teoria funcionalista, de acordo com a qual a vida social é regulada por normas e valores comuns. Foi essa uma perspectiva teórica dominante na sociologia americana durante as décadas de 40 e 50, e Parsons foi o sociólogo dominante desse período.
Piaget, Jean (n.1896, Neuchâtel; m.1980, Genebra). Psicólogo, biólogo e filósofo suíço. Treinado como biólogo, interessou-se durante toda a sua carreira pelas origens e condições do conhecimento. Estudou psicologia em Zurique (1918) e na Sorbonne (1919). Sua obra mais conhecida é sobre a psicologia do desenvolvimento da inteligência em crianças. Exposta em livros como A gênese das estruturas lógicas elementares (1950, com Bärbel Inhelder) e A psicologia da criança (1966), tem exercido uma influência maciça na psicologia do desenvolvimento cognitivo desde o começo dos anos 60. Mas também escreveu, de modo mais geral, sobre epistemologia e ESTRUTURALISMO.
Popper, sir Karl Raimund (n.1902, Viena; m.1994, Inglaterra). Filósofo da ciência. Formado em matemática, física e filosofia em Viena, tinha contato com o CÍRCULO DE VIENA, mas não foi um de seus membros. Em seu primeiro livro, Logik der Forschung (1934), Popper pretendeu resolver o problema de indução de Hume substituindo o critério do Círculo de Viena para a cientificidade (o princípio de verificação) pelo seu famoso princípio de falsificação. Depois da guerra Popper mudou-se para a Inglaterra e lecionou na London School of Economics. Voltou suas atenções para o estudo da filosofia social e política, desenvolvendo uma crítica aos inimigos da SOCIEDADE ABERTA (em particular, Platão, Hegel e Marx) e ao HISTORICISMO, que ele definiu como a crença em que existem leis da história suscetíveis de serem descobertas (A sociedade aberta e seus inimigos, 1945, A pobreza do historicismo, 1957).
Poulantzas, Nicos (n.1936, Atenas; m.1979, Paris). Teórico político e social grego. Formado em uma escola experimental ligada à Universidade de Atenas e depois em um Institut Français, Poulantzas ingressou então na Universidade de Atenas para estudar direito, quando aderiu ao Partido Comunista Grego. Depois de cumprir o serviço militar obrigatório, foi estudar na Alemanha, mas logo se mudou para a França, onde lecionou subseqüentemente na Sorbonne e na Universidade de Vincennes. O seu primeiro livro, Pouvoir politique et classes sociales (1968), revelou tendências althusserianas, ao sustentar que o estado estava estruturado de tal modo que, independentemente de seu quadro de pessoal, agiria no interesse da burguesia. Sua obras posteriores incluem Les classes sociales dans le capitalisme d’aujourd’hui (1974) e L’État, le pouvoir, le socialisme (1978).
Radcliffe-Brown, Alfred Reginald (n.1881, Birmingham; m.1955, Londres). Antropólogo britânico, formado no Trinity College, Cambridge, onde foi o primeiro aluno do antropólogo W.H.R. Rivers, Radcliffe-Brown recebeu a influência de Durkheim e desenvolveu uma abordagem funcionalista da antropologia (ver FUNCIONALISMO). Foi Fellow do Trinity College (1908-14) e depois lecionou nas Universidades de Londres (1909-10), Cidade do Cabo (1921-25), Sydney (1925-31), Chicago (1931-37), Oxford (1937-41 e 1945-46) e São Paulo (1942-44). Suas principais obras incluem The Andaman Islanders (1922, 1948), Structure and Function in Primitive Society (1952) e A Natural Science of Society (1957).
Rawls, John Boardley (n.1921, Baltimore). Filósofo moral norte-americano. Formado em Princeton, exerceu funções docentes nessa Universidade (1950-52), bem como em Cornell (1953-62) e Harvard (desde 1962). É o autor de A Theory of Justice (1971), plano geral de inspiração kantiana (e, por conseguinte, antiutilitarista) de uma filosofia moral contemporânea na tradição contratariana, e provavelmente a mais conhecida obra de filosofia moral desde a Segunda Guerra Mundial.
Russell, Bertrand Arthur William (n.1872, Gwent; m.1970, Gwynedd). Filósofo britânico. Estudou no Trinity College, Cambridge, onde se formou com distinção em matemática e filosofia moral. Lecionou no Trinity (1895-1916), onde Wittgenstein foi seu aluno, tendo sido exonerado de suas funções por se opor à entrada dos britânicos na Primeira Guerra Mundial. Ingressou na No-Conscription Fellowship (organização contrária ao serviço militar obrigatório) em 1915 e foi multado e preso. Foi para os Estados Unidos depois da guerra, mas se viu impedido de ensinar em Nova York por suas idéias extremamente liberais sobre sexo, educação e guerra. Atuou no movimento pacifista depois da Segunda Guerra Mundial; foi presidente da Campanha pelo Desarmamento Nuclear (1958-60), criou a Bertrand Russell Peace Foundation (1963) e foi um dos organizadores do Tribunal Internacional para Crimes de Guerra (1966), do qual participou também Sartre, entre outros. Sua principal obra filosófica tratou de lógica e epistemologia (Principia Mathematica, com Alfred North Whitehead, 1910-13; Human Knowledge, 1948), mas também escreveu muito sobre questões sociais e políticas. Ver FILOSOFIA.
Sartre, Jean-Paul (n.1905, Paris; m.1980, Paris). Filósofo, romancista e teatrólogo. Estudou na École Normale Supérieure e em Freiburg. Evitou a vida acadêmica convencional, embora lecionasse por muitos anos em vários liceus. Influenciado por Husserl e Heidegger, Sartre expôs o seu EXISTENCIALISMO em L’être et le néant (1943). Serviu no exército francês durante a guerra, foi capturado em Padoux em 1940, mas fugiu em 1941, e depois da guerra se dedicou a escrever. Fundou (com Simone de Beauvoir e Merleau-Ponty) a revista Les Temps Modernes e aderiu ao marxismo, que considerava compatível com sua filosofia existencialista (Critique de la raison dialectique, 1960). Mas criticou vigorosamente o Partido Comunista Francês, com o qual rompeu depois de 1968. Sua filosofia existencialista de esquerda modelou profundamente a cultura francesa por mais de uma década depois da guerra.
Saussure, Ferdinand de (n.1857, Genebra; m.1913, perto de Genebra). Fundador da lingüística moderna. Estudou línguas indo-européias nas Universidades de Leipzig e Berlim. O seu Cours de linguistique géneral (1916) é em geral considerado a mais significativa obra de lingüística escrita neste século. A influência de Saussure é também evidente no ESTRUTURALISMO da década de 60, essencialmente uma tentativa de aplicação da teoria lingüística saussureana a outros temas e atividades além da própria linguagem. Ver LINGÜÍSTICA; SEMIÓTICA.
Scheler, Max (n.1874, Munique; m.1928, Frankfurt). Filósofo e sociólogo alemão. Estudou medicina e filosofia nas Universidades de Berlim, Munique e Iena. Embora não fosse um fenomenologista “ortodoxo”, grande parte de sua filosofia estava em concordância com a obra de Franz Brentano e Edmund Husserl (ver FENOMENOLOGIA) e, na realidade, foi além de Husserl, que o criticou por isso. Seu período fenomenológico durou até 1920; em 1920-24, depois de sua conversão ao catolicismo, esteve interessado em filosofia religiosa seguindo-se um “período metafísico” (1924-28) caracterizado pelo vitalismo e pelo panteísmo. Suas principais contribuições para o pensamento social situam-se no domínio da psicologia social e da SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO.
Schumacher, Ernst Fritz (n.1911, Bonn; m.1977, Suíça). Economista alemão. Formado em Oxford, foi um dos primeiros Rhodes Scholars alemães depois da Primeira Guerra Mundial. Passou a maior parte da década de 30 na Inglaterra e nos Estados Unidos. Em 1943 defendeu um sistema de pagamentos internacionais semelhante ao de Keynes que se tornou uma parte central do sistema instaurado em Bretton Woods. Foi conselheiro da Comissão Britânica de Controle na Alemanha (1946-50) e da Comissão do Carvão britânica (1950-70), considerando o uso da energia nuclear extremamente hostil ao meio ambiente. Em 1955 visitou a Birmânia, onde se converteu ao budismo e escreveu Small is Beautiful (1973), escarnecendo dos padrões de vida ocidentais por terem sido alcançados à custa de uma cultura aviltada. Ver AMBIENTALISMO.
Schumpeter, Joseph Alois (n.1883, Triesch, Morávia; m.1950, Connecticut). Economista austríaco. Formado na Universidade de Viena, começou a lecionar na Universidade de Graz em 1911. Foi ministro das Finanças do governo austríaco em 1919-20, antes de recomeçar o ensino em Bonn (1925-32) e Harvard (1932-50). Manifestou simpatia pelo marxismo, pelo qual se interessou ainda quando estudante em Viena ao assistir aos debates entre economistas austríacos (Böhn-Bawerke e von Mises) e os austromarxistas (Hilferding e Bauer). Adquiriu renome internacional pela sua Teoria do desenvolvimento econômico (1911), por seus estudos dos ciclos econômicos, utilizando a concepção de Kondratiev de “ciclos de longo prazo”, por seu livro Ciclos econômicos (1939) e por sua análise do provável declínio do capitalismo em Capitalismo, socialismo e democracia (1942). Ver AUSTROMARXISMO.
Schutz, Alfred (n.1899, Viena; m.1959, Nova York). Sociólogo austríaco. Formado em direito e ciências sociais na Universidade de Viena, onde foi aluno de von Mises. Mudou-se em 1939 para Nova York, onde se juntou à New School of Social Research, mas também assumiu um emprego como bancário para aliviar provações financeiras. Schutz usou conceitos husserlianos para ampliar a análise de Weber da ação social e investigou a constituição do “mundo” e a intersubjetividade em uma obra que influenciou consideravelmente a etnometodologia. Seu principal quadro de referência analítica está apresentado em A fenomenologia do mundo social (1932).
Simmel, Georg (n.1858, Berlim; m.1918, Estrasburgo). Filósofo e sociólogo alemão. Estudou história, psicologia, antropologia e filosofia na Universidade de Berlim. Empregou a metodologia de uma variedade de disciplinas para estudar fenômenos culturais como a religião, a economia monetária, a ascensão da moralidade e a autopreservação de grupos. Provavelmente, sua mais conhecida aplicação dessa abordagem está no livro Philosophie des Geldes (1900), onde estudou o impacto da economia monetária sobre as relações sociais humanas.
Sorel, Georges Eugène (n.1847, Cherburg; m.1922, Boulogne-sur-Seine, Paris). Filósofo social francês. Estudou na École Polytechnique de Paris, onde se distinguiu na matemática e se diplomou como engenheiro. Exerceu a profissão até 1892, quando a abandonou para se concentrar no estudo de questões sociais e políticas. Embora seu nome fosse freqüentemente associado aos de Mosca e Pareto, Sorel é muito mais conhecido como inovador em teoria marxista e metodologia das ciências sociais; rejeitando as pretensões universalistas das concepções positivistas de ciência, favoreceu o pluralismo intelectual e metodológico. A partir de 1896 iniciou uma reinterpretação do marxismo, identificando os seus princípios centrais como “mitos” — mormente o da greve geral — capazes de inspirar a classe trabalhadora para ação fora da estrutura da democracia parlamentar (Réflexions sur la violence, 1906).
Spencer, Herbert (n.1820, Derby; m.1903, Brighton). Filósofo e sociólogo britânico, nunca freqüentou a escola secundária nem a universidade. Iniciou sua carreira como maquinista de trens, antes de se dedicar a escrever e a estudar filosofia, publicando o seu primeiro livro, Social Statistics, em 1851. Era um evolucionista antes de Darwin e foi ele quem criou a expressão “sobrevivência dos mais aptos”. Procurou traçar os princípios da evolução em todos os ramos do conhecimento em sua obra de vários volumes A System of Synthetic Philosophy, cujo volume III, Principles of Sociology (1896), foi o mais influente. Em seu livro The Man Versus the State (1873), defendeu uma posição de laissez-faire, atacando todas as formas de interferência do estado que violam a liberdade individual. O que o tornou mais célebre talvez tenha sido a sua crença otimista no progresso humano através da evolução. Ver PROCESSOS EVOLUCIONÁRIOS NA SOCIEDADE.
Teilhard de Chardin, Pierre (n.1881, Sarcenat, França; m.1955, Nova York). Teólogo e paleontólogo francês. Educado como jesuíta na França e na Inglaterra (1893-1911), foi ordenado padre da Companhia de Jesus. Em 1912-22 estudou geologia no Institut Catholique (onde subseqüentemente lecionou, 1920-3) e paleontologia no Museu de História Natural. De 1923 a 1946 foi designado para um Colégio Jesuíta de Altos Estudos na China. Seus interesses eram tanto a teologia quanto a ciência, mas seus escritos científicos tiveram sua publicação proibida por seus superiores jesuítas enquanto ele viveu. Em Le phénomene humain (1955) sustentou que, tendo passado por uma fase divergente em que surgiram culturas de grande variedade, a evolução humana ingressará em uma fase convergente em que culturas díspares se reunirão em unanimidade.
Tönnies, Ferdinand Julius (n.1855, Eiderstedt, Schleswig-Holstein; m.1936, Kiel, Schleswig-Holstein). Teórico social e filósofo alemão. Estudou numerosas disciplinas em várias universidades, até obter o doutorado em filologia clássica em Tübingen no ano de 1877. Lecionou na Universidade de Kiel de 1881 a 1933, quando foi demitido pelos nazistas. Sua principal obra, Gemeinschaft und Gesellschaft (1887), é um dos clássicos da sociologia, e Tönnies adquiriu renome, de fato, ao introduzir os termos Gemeinschaft (COMUNIDADE) — uma forma social caracterizada por relações pessoais, intenso espírito emocional, constituída por cooperação, costume e religião, e encontrada na família, na aldeia e em pequenas comunidades urbanas; e Gesellschaft (sociedade) — uma organização de grande escala, como cidade, estado ou nação, baseada em relações impessoais, interesses particulares, direito e opinião pública.
Toynbee, Arnold Joseph (n.1889, Londres; m.1975, Londres). Historiador inglês. Estudou no Balliol College, Oxford (1907-11), e na Escola Arqueológica Britânica de Atenas (1911-12). Foi professor de língua, literatura e história bizantinas e gregas na Universidade de Londres desde 1919, e também diretor de estudos do Royal Institute of International Affairs, Londres (1925-55). Conquistou renome com a publicação de A Study of History (vols.I-III, 1934; IV-VI, 1939; VII-X, 1954 e XI-XII, 1961), o qual examinou 21 civilizações que, segundo ele, manifestam padrões semelhantes de crescimento e decadência.
Trotsky, Leon [Lev Bronstein] (n.1879, Yanovka, Ucrânia; m.1940, Coyoacán, México). Líder militar e revolucionário comunista russo. Em 1917 Trotsky aderiu aos bolcheviques, tornando-se um dos principais organizadores da vitoriosa Revolução de Outubro. No primeiro governo soviético, foi Comissário do Povo para as Relações Exteriores e negociou a Paz de Brest-Litovsk (1918), pela qual a Rússia se retirou da Primeira Guerra Mundial. Como Comissário do Povo para a Guerra (1918-24), formou o Exército Vermelho, e sua direção durante a guerra civil russa salvou a revolução bolchevique. Foi expulso do partido em 1927 e se exilou. Pouco depois de fundar a Quarta Internacional (1937) para se opor ao stalinismo, foi assassinado no México. Era um internacionalista, dedicado à revolução mundial, e adversário do “socialismo em um país” de Stalin. Sua principal contribuição para o pensamento marxista foi a teoria do “desenvolvimento desigual e combinado”, e a doutrina derivada da “revolução permanente”. Ver TROTSKYSMO.
Veblen, Thorstein (n.1857, Manitowas County, Wisconsin; m.1929, Menlo Park, Califórnia). Economista institucional e pensador social radical norte-americano. Estudou nas universidades Johns Hopkins e Yale, e se tornou uma figura iconoclasta em ciência econômica, criticando a ortodoxia neoclássica por negligenciar questões sociais e culturais mais amplas pertinentes à economia. Em livros como The Theory of the Leisure Class (1899) e The Theory of Business Enterprise (1904), parcialmente influenciado por suas leituras de autores socialistas e marxistas, introduziu conceitos como os de “consumo conspícuo” e “desperdício ostensivo”, que se tornaram familiares. Lecionou em várias universidades, mas seu excêntrico estilo de vida, sua originalidade e sua descrição das universidades americanas em The Higher Learning in America (1918) alienaram-no da corrente acadêmica predominante.
von Mises, Ludwig Edler (n.1881, Lemberg, Áustria-Hungria; m.1973, Nova York). Economista austríaco. Estudou na Universidade de Viena, onde participou dos seminários do grupo de Böhm-Bawerk. Foi economista da Câmara de Comércio de Viena (1909-34), professor universitário e conselheiro do governo austríaco. Deu contribuições teóricas para a teoria monetária (A teoria da moeda e do crédito, 1912) e iniciou o debate sobre o CÁLCULO SOCIALISTA ao sustentar que nenhum governo podia calcular suficientemente bem para planejar uma economia (Planejamento econômico coletivista, org. por Hayek, 1935). Em Ação humana (1949), forneceu um resumo clássico do subjetivismo austríaco em economia. Ver ESCOLA AUSTRÍACA DE ECONOMIA.
Weber, Max (n.1864, Erfurt; m.1929, Munique). Sociólogo e economista alemão. Formado em Heidelberg, Estrasburgo, Göttingen e Berlim, onde estudou direito, ciência econômica, história e filosofia. Exerceu as cátedras de economia política em Freiburg e Heidelberg, mas se retirou do ensino em 1898 depois de sofrer um colapso nervoso. Foi o maior responsável pelo estabelecimento da sociologia como disciplina acadêmica na Alemanha e, a partir de 1904, editou uma importante revista de ciência social, Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik. Escreveu sobre uma vasta gama de questões, tomando como temas centrais o desenvolvimento do capitalismo e a RACIONALIZAÇÃO, mormente em obras como A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904-5), História econômica geral (1923) e Economia e sociedade (1921). Também contribuiu substancialmente para discussões metodológicas a respeito da “interpretação” (Verstehen) e da explicação causal, valores e objetividade (A metodologia das ciências sociais, (1904).
Webb, Beatrice [née Potter] (n.1858, Gloucester; m.1943, Passfield Corner, Hampshire). Reformadora social e historiadora. Educada no lar por governantas, investigou pessoalmente as condições sociais e industriais; contribuiu para Life and Labour of the People of London (1892-97), de Charles Booth. Publicou The Co-operative Movement in Great-Britain (1891).
Webb, Sidney James, barão de Passfield (n.1859, Londres; m., Passfield Corner, Hampshire). Reformador social e historiador. Estudou na Suíça e em Mecklenburg-Schwerin, no Birkbeck Institute e no City of London College. Ingressou na Sociedade Fabiana em 1885 e escreveu numerosos folhetos de propaganda fabiana — Facts for Socialists (1887), Facts for Londoners (1889) —, e deu uma contribuição significativa para Fabian Essays in Socialism (1889). Eleito membro do Conselho do Condado de Londres para Deptford (1892-1910). Fundador da London School of Economics. Autor de muitos livros com Beatrice Webb, “a firma dos Webb”, como esta a chamava, e foi a seu lado uma figura eminente do movimento socialista. Suas obras conjuntas incluem The History of Trade Unionism (1894, 1920), Industrial Democracy (1927) e Soviet Comunism: A New Civilization? (1935).
Wittgenstein, Ludwig Josef Johann (n.1889, Viena; m.1951, Cambridge). Estudou em Berlim-Charlottenburg, Manchester e Trinity College, Cambridge (onde foi aluno de Bertrand Russell). Feito prisioneiro na Itália durante a Primeira Guerra Mundial, enviou a Russell um rascunho do Tractatus Logico-Philosophicus (1921). Depois da guerra, abandonou a filosofia acadêmica e se tornou mestre-escola na Áustria, mas permaneceu em contato com os desenvolvimentos em filosofia através do CÍRCULO DE VIENA. Em 1929 voltou a Cambridge e em 1939 sucedeu a G.E. Moore como professor de filosofia. Durante a Segunda Guerra Mundial trabalhou no Guy’s Hospital como porteiro e foi ajudante no Laboratório de Pesquisa Clínica em Newcastle. Suas cambiantes concepções filosóficas durante as décadas de 30 e 40 foram predominantemente veiculadas em seminários e discussões, e os manuscritos e notas desse período foram publicados depois de sua morte (por exemplo, Philosophical Investigations, 1953). Wittgenstein foi a principal fonte da FILOSOFIA DA LINGUAGEM que floresceu na Grã-Bretanha nas primeiras décadas do pós-guerra.
Este apêndice foi elaborado por:
PAUL HOPPER,
Universidade de Sussex
MARK PEACOCK
Wolfson College, Universidade de Cambridge